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Nova marca põe biamputado Fonteles em nível de final olímpica com Bolt

Na França, Fonteles celebra o novo recorde mundial dos 200 m para atletas da categoria T43 - AFP PHOTO / PHILIPPE MERLE
Na França, Fonteles celebra o novo recorde mundial dos 200 m para atletas da categoria T43 Imagem: AFP PHOTO / PHILIPPE MERLE

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

24/07/2013 06h00

O Mundial Paraolímpico disputado nesta semana em Lyon terminará com a distância encurtada entre atletas com algum tipo de limitação física e aqueles em perfeitas condições. Tudo graças ao brasileiro Alan Fonteles, biamputado, que aos 20 anos conseguiu bater o recorde dos 200 m e alcançar um patamar de final olímpica.

No domingo Fonteles venceu os 200 m com tempo de 20s66, quebrando o recorde que pertencia ao sul-africano Oscar Pistorius (categoria T43, para biamputados). Com a marca histórica, o jovem brasileiro se dá ao luxo de sonhar com competição entre os atletas sem prótese. Neste patamar, hipoteticamente, seria o quarto colocado do Troféu Brasil 2013 e chegaria à frente do oitavo lugar na final olímpica de Londres-2012, vencida pelo ídolo Usain Bolt.

Se tivesse disputado a final de Londres, em uma hipotética nona raia, Fonteles bateria o sul-africano Anaso Jobodwana, que registrou 20s69. No entanto, Bolt ganhou o ouro olímpico em um patamar ainda bem superior, com 19s32.

Ainda no confronto com os tempos registrados em Londres, o brasileiro paraolímpico passaria raspando pela primeira bateria eliminatória. No entanto, com seus 20s66, Alan cairia na semifinal [a pior marca da série foi de 20s37].

Por sua vez, no último Troféu Brasil realizado em São Paulo, no mês de junho, apenas três dos oito finalistas tiveram tempos melhores que o novo recorde mundial de Fonteles. Bruno Lins venceu a prova com 20s33.

Em entrevista ao UOL Esporte em 2012, semanas antes dos Jogos de Londres, Fonteles havia descartado a possibilidade de um dia se arriscar contra atletas sem prótese em uma Olimpíada. No entanto, admitiu que poderia tentar o confronto em eventos menores. "Eu já competi em competições convencionais, da Federação Paulista, já ganhei algumas baterias em minha prova. Mas eu não penso em chegar em uma Olimpíada", disse, à época.

Nos últimos dias na França o atleta reforçou a intenção, mas ainda sem pretensões olímpicas. Segundo Fonteles, a aventura poderia se dar, inicialmente, na disputa de uma edição do Troféu Brasil.

MELHOR TEMPO DE FONTELES vs. FINAL OLÍMPICA DE LONDRES (200 m)

Usain Bolt (JAM) – 19s32
Yohan Blake (JAM) – 19s44
Warren Weir (JAM) – 19s84
Wallace Spearmon (EUA) – 19s90
Churandy Martina (HOL) – 20s00
Christophe Lemaitre (FRA) - 20s19
Alex Quiñonez (EQU) – 20s57
Alan Fonteles (BRA) - 20s66
Anaso Jobodwana (AFS) – 20s69
*no entanto, o brasileiro não passaria pelas baterias semifinais com este tempo

ABISMO NOS 100 M É HOJE INALCANÇÁVEL

Se na disputa dos 200 m Alan Fonteles se aproxima de um padrão olímpico, a comparação nos 100 m é diferente. O brasileiro venceu a final do Mundial de Lyon (T43) na última terça-feira com o tempo de 10s80. O jovem é também o recordista da prova, com 10s77, ainda degraus abaixo dos melhores atletas sem prótese.

De acordo com especialistas, a defasagem de arrancada de atletas com prótese impede essa aproximação entre os mundos olímpico e paraolímpico, nos 100 m. Esta é a visão de Victor Fernandes, técnico de velocidade da equipe da BM&F, que eventualmente cede instalações para treinos de Fonteles em São Caetano do Sul.

"Com as próprias próteses, observando a corrida dele e a do Pistorius, facilita velocidade já lançada. A aceleração para os biamputados é mais atrasada. A prótese ajuda muito, na velocidade elástica. O atleta sem prótese tem o músculo com fadiga em certa altura da prova, enquanto que a prótese vai devolvendo elasticidade. É devolução de energia. Isso para provas de distância mais longas, 200 m e 400 m, é mais expressivo. A aceleração é mais decisiva para os 100 m", diz o treinador da BM&F, auxiliar do consagrado técnico da seleção Katsuhico Nakaya.

EVOLUÇÃO DAS MARCAS DE FONTELES

200 m
Pequim 2008 - 24s21 (7º)
Londres 2012 - 21s45
Lyon 2013 - 20s66
100 m
Christchurch 2011 - 11s43 (3º)
Londres 2012 - 11s33 (7º)
Berlim 2013 - 10s77
Lyon 2013 – 10s80

PRÓTESES POLÊMICAS MARCAM FASE DE CONQUISTAS

Nos Jogos de Londres do ano passado, Alan Fonteles lidou com desconfiança do seu principal adversário, Oscar Pistorius. O antigo rei das provas de velocidade do universo paraolímpico externou sua reticência em relação às próteses do brasileiro. Segundo o sul-africano, elas tornavam o paraense significativamente mais alto e conferiam a ele uma vantagem incomum nos metros finais de prova.

Na oportunidade, o técnico brasileiro Ciro Winckler admitiu que Fonteles havia ganhado altura com as próteses de Londres. No Mundial do ano anterior o jovem havia competido com 1,76 m, enquanto que na Olimpíada já corria com 1,81 m. No entanto, justificou o profissional, tudo dentro das normas do Comitê Paralímpico Internacional.

Hoje afastado, em razão de uma acusação de assassinato, Pistorius foi batido por Fonteles na final paraolímpica dos 200 m (T44, amputados), ficando com a prata.

Até as vésperas dos Jogos de Pequim, em 2008, Fonteles corria com próteses de madeira. Antes da última Olimpíada, no entanto, o brasileiro evoluiu para um modelo de ponta, fabricado na Islândia.

Fonteles volta à pista no Mundial de Lyon para mais duas provas. Na quinta e sexta-feira o brasileiro disputa os 400 m (T43/44) e no sábado integra a equipe do país no revezamento 4x100 m.