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Atleta australiana quer trazer sua dancinha sexy para o Brasil

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

05/02/2014 06h00

A ginga, o sorriso, o rebolado. Você pode não se lembrar do nome de Michelle Jenneke, mas a dancinha que ela fez no aquecimento para uma prova de 100 m com barreiras do Mundial Júnior de Atletismo de 2012 certamente está guardada aí na memória. A australiana fez fama mais pelos movimentos do que pelos resultados e ainda colhe os frutos de seu estilo “livre” de competir e de viver. Tão livre, que ela promete que virá ao Brasil para as Olimpíadas de 2016 de qualquer jeito, mesmo que não se classifique e seja uma mera espectadora.

Curiosamente, nem sempre Michelle foi esta garota apaixonada pelos Jogos Olímpicos. Um certo medo de multidões e o temor adolescente de o mundo ser um “lugar assustador” já a fizeram imaginar que nunca teria interesse em competir neste nível. Mais madura apesar de ter apenas 20 anos, isso mudou, fruto também de tudo que vivenciou com sua dancinha.

Em entrevista ao UOL Esporte, ela contou sobre como virou atleta, detalhou o surgimento de sua dança de aquecimento – que, na verdade, nasceu três anos antes de virar mania na internet – e explicou no que isso mexeu em sua vida. E, segunda ela, nem tanto assim.

Michelle ainda leva uma vida sem luxos – e nem patrocínios – como atleta amadora e encara sua carreira nas pistas como um hobby, já que estuda engenharia mecatrônica, uma carreira que certamente poucos imaginariam para ela.

Mas, se tudo der certo, 2016 não será o ano da Michelle engenheira, e sim da Michelle atleta, na pista do estádio olímpico, no Rio de Janeiro. “Contanto que haja massa para comer, uma cama confortável e um bom lugar para treinar, contem comigo!”. Confira o papo com a bela:

Michelle, como você se sente com a proximidade dos Jogos Olímpicos. Competir no Rio seria o ponto alto de sua carreira?
Acho que 2016 ainda é muito longe para se ficar pensando. Eu curto o atletismo em pequenas doses e focando em melhorar meu desempenho e aproveitar as oportunidades que aparecem. Ir à Olimpíada seria fantástico. Mas não sei se apenas ir seria uma grande conquista, eu acho que eu teria de correr meu melhor para considerar o grande feito da minha carreira. Hoje, considero minha prata no Mundial Júnior como minha maior conquista, pois foi inesperado e foi quando bati meu recorde pessoal nos 100 m com barreiras.

Você faz aquele tipo que sonha desde criança com Olimpíadas?
Na verdade, não. Mais nova, as pessoas riam de mim porque eu falava que mesmo que fosse a melhor do mundo, não queria ir para as Olimpíadas. Acho que era uma combinação de eu não gostar de multidões e de achar o mundo um lugar assustador. Nas Olimpíadas de 2000, aqui na Austrália, ouvi muita gente criticando os atletas, e eram os melhores do mundo ali. As pessoas eram tão negativas... Isso me desencorajava. O que mudou foi quando competi no Mundial Júnior, em 2010, aos 17. Toda aquela experiência foi maravilhosa e fez com que me sentisse uma atleta olímpica. Viajar com um time, representar o país, experimentar a camaradagem dos colegas... Foi inesquecível e o calor da torcida foi mágico. Desde então, amo competir internacionalmente.

Então, podemos te esperar no Rio, em 2016?
Eu acho que os Jogos aí no Brasil serão uma experiência ainda mais fantástica e estou animada em ser parte disso. Seja competindo, ou apenas como espectadora, estarei em um avião para o Rio em 2016. Nunca pude ir para o Brasil e já ouvi tantas coisas legais. Espero ir e ter muitas histórias para contar após os Jogos. Amo praia, então acho que vou gostar (risos). Contanto que tenha massa para comer, uma cama confortável e bons locais de treino, contem comigo!

Bom, todos sabemos que sua fama surgiu por conta de sua dança de aquecimento. Como começou tudo isso?
Eu comecei a fazer esse aquecimento no campeonato nacional da Austrália, em 2009. Era uma competição bem longa, de quatro dias, e eu tinha competido em outros três eventos. Na hora de aquecer, estava bem apagada, desanimada. Então, meu técnico, Mick Zisti, disse que eu tinha de achar um jeito de me empolgar. Na linha de partida, colocaram música e eu apenas comecei a me mover e aquecer no ritmo da música. Me senti bem fazendo isso e corri a melhor prova da minha vida. Como funcionou, passei a fazer uma variação daquilo e nunca mais parei. Mas não ache que é uma rotina, algo planejado, é apenas uma coisa natural, que apareceu como forma de relaxar, mas sem me distrair da corrida.

Boleira entre os meninos

  • Michelle é aquele tipo de pessoa que ama esporte. Qualquer esporte. Quando criança, ela já mostrava esse dom pelas práticas físicas. Conta, inclusive, que gostava de alinhar seus brinquedos e ficar saltando sobre eles, como se fosse uma prova com barreiras. Seus pais então a encorajaram a ir para um programa chamado Little Athletics, que ensina o esporte a crianças de 5 a 17 anos. Ela começou aos 7 e, apesar de penar com o calor australiano, pegou gosto e nunca parou. "Enquanto crescia, tentei uma gama enorme de esportes. Fiz vários coletivos, tentei ginástica e também pratiquei dança. O futebol acabou sendo o principal, além do atletismo, e joguei em um time misto por 12 anos. Era misto, na verdade, porque eu era a única garota (risos)", diz ela, que na verdade queria jogar rúgbi, mas teve a ideia vetada pela família. "Eu amo futebol e ainda jogo um pouco. Não sou muito boa com os nomes dos jogadores, mas gosto muito do Ronaldinho e do Pelé."

Como você se sentiu quando viu seu vídeo virar febre na internet?
Achei muito divertido. Eu já estava fazendo isso por quase três anos antes de se tornar um viral. Então, toda a hype que se criou pareceu aleatória e surpreendente. Mas pouca coisa mudou para mim no meu dia a dia. Na Austrália as pessoas não ligam tanto para celebridades, então, apesar de algumas fotos e autógrafos, levo minha vida normalmente. Por outro lado, isso me trouxe boas oportunidades de trabalho e, principalmente, me permitiu ir à frente com trabalhos de caridade que amo fazer.

Tem gente que acha que você fez isso para aparecer.
Eu não fiz nada para atrair atenção, nunca teria como saber que seria um viral como ocorreu. Se é sexy, isso é a opinião das outras pessoas, não a minha. Muita gente fala sobre isso, mas muito do que ouço das pessoas é sobre elas acharem legal como eu simplesmente estou me divertindo ali. Fora que eu treino jovens atletas e eles amam me imitar. Não acho que eles pensam que sou sexy!

Você teme ser lembrada só pelas suas danças?
Tenho certeza de que serei lembrada por isso, mas acho que a tendência é ficar para trás. Mas, se eu for lembrada por dançar e, talvez, pelo meu sorriso na linha de chegada, em vez do que eu conseguir como resultado na pista, tudo bem. O Youtube tem mais seguidores do que o atletismo (risos). Eu corro porque amo, não porque quero ser lembrada.

Para o Rio, em 2016, podemos esperar algo especial?
Eu gosto de muitos estilos, mas não conheço a música brasileira. Acho que, se conseguir uma vaga nas Olimpíadas, meu tempo e energia vão ser melhor gastos se eu me preparar para a corrida do que se eu estiver me preparando para dançar no aquecimento (risos).

Você também tem trabalhado como modelo? Como concilia carreiras e estudo?
No último ano eu me dediquei a estudar. Não considero que eu ainda tenha uma carreira, de fato. Não sou paga para correr, sou uma atleta amadora. Apesar de toda a atenção que ganhei e da presunção das pessoas de que isso traz dinheiro, não foi lucrativo e ainda não tenho patrocínio fixo. Espero que isso mude em 2014. Também não consigo me considerar uma modelo, apesar de ter posado para a Sports Illustrated. Nunca ganhei para isso. Espero agora conseguir me formar e ter uma carreira no campo da engenharia mecatrônica. Veja, eu sou uma pessoa leve. Então, minha relação com o atletismo também é tranquila. Correr não é tudo na minha vida, não é minha única ambição, mas amo isso, amo os desafios. Sou muito sortuda de poder ensinar jovens australianos e espero poder fazê-los amarem o atletismo tanto quanto amo. Para mim, o atletismo é parte do meu modo de vida, é uma paixão e assim vai continuar.