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Defesa fecha argumentação e compara Pistorius a mulher que sofreu abuso

Do UOL, em São Paulo*

08/08/2014 10h07

O julgamento de Oscar Pistorius pela morte da modelo Reeva Steenkamp chegou a seu último estágio. Após a acusação encerrar sua argumentação no dia anterior, nesta sexta-feira (08) foi a vez da defesa do campeão paraolímpico concluir suas declarações com uma declaração que gerou controvérsia no tribunal de Pretória, na África do Sul.

Advogado do atleta, Barry Roux procurou desqualificar a acusação de assassinato premeditado, ressaltando o desequilíbrio psicológico de Pistorius com relação ao seu medo de ser atacado com bandidos, e comparou o campeão paraolímpico a uma mulher que sofreu abusos.

“Assim como mulheres que matam o marido que as abusou depois de muitos anos, Pistorius construiu uma reação exagerada ao perigo”, justificou Roux.

A comparação desagradou a juíza Thokozile Matilda Masipa, conhecida por ser uma defensora dos direitos femininos na África do Sul. Ela chegou a questionar a defesa sobre a relevância deste tipo de declaração para o caso.

A defesa diz que Pistorius matou Steenkamp por acidente, atirando contra ela através da porta de um banheiro após confundi-la com um invasor, e que por isso deve ser absolvido.

O promotor do Estado, Gerrie Nel, tem descrito Pistorius como um homem de pavio curto e obcecado por armas que matou Steenkamp, de 29 anos, com quatro tiros após uma discussão acalorada.

O advogado de defesa, Barry Roux, disse em seus argumentos finais haver provas psicológicas de que o atleta teve uma reação agressiva intensa por causa de sua deficiência.

“Você está diante da porta, vulnerável, ansioso. Como atleta, está treinado para reagir. Levem todos estes fatores em conta”, afirmou Roux, acrescentando que Pistorius se sentiu exposto por estar sem as próteses.

“Em algumas situação a pessoa dispara por reflexo”, argumentou Roux. “É seu instinto primitivo”.

Roux também procurou desqualificar os argumentos da promotoria, a quem acusou de distorcer os fatos. Rebateu a confiabilidade de algumas provas, como o depoimento do legista que afirmou que Steenkamp havia comido poucas horas antes de ser morta, e voltou a falar em contaminação da cena do crime por parte dos policiais.

Ainda concluiu que Pistorius era culpado apenas de 'negligência com arma de fogo', devido a seus antecedentes, e pediu que os depoimentos de vizinhos que chegaram à cena do crime logo após os tiros não fossem levados em consideração, pois "eles estavam loucos para colaborar com a promotoria".

Com o término das argumentações, Masipa e seus auxiliares reavaliarão todas as provas antes de decidirem qual será o destino de Pistorius. A juíza anunciou nesta sexta que o veredicto será dado somente no dia 11 de setembro.

Para chegar a um veredicto, Masipa e seus assistentes terão que pesar a credibilidade dos testemunhos dos dois lados, incluindo o de Pistorius, que aguentou mais de uma semana de interrogatórios durante os quais rompeu em prantos várias vezes.

Na ausência de um júri, especialistas dizem que o cerne da questão é se Masipa aceita ou rejeita sua versão dos acontecimentos. Se for considerado culpado de assassinato premeditado, Pistorius pode pegar prisão perpétua. Uma possível pena mais branda de homicídio culposo pode render uma sentença de 15 anos de prisão.

* Com agências internacionais