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Comunidade paraolímpica agora quer distância do ex-queridinho Pistorius

Daniel Brito

Do UOL, em São Paulo

17/09/2014 06h00

O Comitê Paraolímpico Internacional está em uma cruzada continental para dissociar sua imagem à do sul-africano Oscar Pistorius, acusado de homicídio culposo (sem a intenção de matar) da namorada, a modelo Reeva Steenkamp, em fevereiro de 2013.

“Trata-se de um caso policial, não diz respeito à carreira de Oscar Pistorius no movimento paraolímpico ou no esporte", cravou Philip Craven, presidente do IPC (sigla em inglês para Comitê Paraolímpico Internacional), em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
 
No dia em que conversou com a reportagem, o dirigente informou que havia participado de outras cinco entrevista por telefones com alguns dos principais veículos de comunicação da Europa e Estados Unidos. “O que digo e repito a todos os jornalistas é que não nos omitimos neste caso, temos uma mensagem clara: nós só podemos tratar de esporte”, justificou. “Por este motivo, o IPC não espera que Oscar Pistorius volte a competir até que a sentença seja dada pela Justiça da África do Sul”, completou.
 
A ênfase no posicionamento de Craven vem em um momento estratégico. Foi celebrada em 7 de setembro a contagem regressiva de dois anos para a abertura dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Mas ainda estão em negociação os direitos de transmissão entre as emissoras brasileiras para o evento. Alguns patrocinadores dos Jogos Olímpicos-2016 ainda não atrelaram sua marca aos paraolímpicos, como as americanas Dow Chemical e Coca-Cola. A gigante do ramo de bebidas informou que tem a intenção de patrocinar a Paraolimpíada, mas que deve fechar o acordo somente no ano que vem.
 
Durante muito tempo, Pistorius foi o “poster-boy” paraolímpico. O esterótipo de bom garoto, biamputado, capaz de correr tão ou mais rápido que atletas com as duas pernas era utilizado para atrair a atenção do público e dos patrocinadores. Em sua fase áurea, entre os Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012, o sul-africano era o único atleta do movimento a ostentar marcas como Oakley e Nike.
 
Sua jornada para competir entre os atletas olímpicos no Mundial de atletismo, em Daegu, na Coreia do Sul, em 2011, e nos Jogos de Londres-2012, sensibilizou a mídia e opinião pública internacional. 
 
O carisma se esvaiu com os quatro tiros que mataram Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013, em Pretória, uma das capitais da África do Sul. Empresas retiraram patrocínio nos dias que se seguiram, o próprio IPC tratou de mudar a identidade visual do Mundial de atletismo paraolímpico, que seria realizado em julho, em Lyon, na França, e tinha Pistorius como garoto-propaganda.
 
Para Craven, no entanto, a tragédia não envolve ninguém além do próprio atleta. “Não tememos que o caso possa afetar o movimento paraolímpico, seja com patrocinadores ou com a imprensa. O movimento é maior que Oscar Pistorius e temos grandes atletas aí já em destaque”, afirmou.
 
O veredito sobre o assassinato foi lido na sexta-feira, 11, pela juíza Thokozile Masipa, 66, em um tribunal em Pretória. A expectativa é de que a magistrada anuncie a pena do atleta no dia 13 de outubro. Até lá, Pistorius pode aguardar em liberdade sob pagamento de fiança.