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Caixa banca equipe de atletas estrangeiros em corridas de rua no Brasil

Divulgação/Fila
Imagem: Divulgação/Fila

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

24/09/2014 06h00

Dinheiro público, dos cofres federais, ajuda a manter em competição uma equipe de corredores de rua formada inteiramente por atletas de países da África. A Caixa é patrocinadora do time de competidores que vem de recantos tradicionais do atletismo mundial, como Quênia e Etiópia, por exemplo, e disputam as principais provas do país. Em geral, eles não falam uma palavra em português, ficam no Brasil por dois ou três meses, dificilmente trocam experiências com corredores e treinadores locais e, principalmente, ganham quase tudo por onde passam por aqui.

Eles defendem uma equipe do interior do Paraná chamada Coquinho/Fila/Caixa/Bioleve. Coquinho é a alcunha de Moacir Marconi, empresário de Nova Santa Bárbara (PR), e, como o nome sugere, dono do time. O banco estatal é uma de suas três fontes de renda. As demais são uma marca de material esportivo italiana e uma fabricante de bebidas do interior de São Paulo.
 
A verba dos cofres federais abastece o empreendimento esportivo de Coquinho desde 2012. E os africanos ostentam no peito a logomarca da Caixa. Foi assim, por exemplo, na última edição da São Silvestre. Os três primeiros colocados eram quenianos representando a agremiação paranaense. No pódio, os africanos abriram uma bandeira do Quênia sobre a cabeça e estamparam a logo do banco no peito.
 
A Caixa voltou a figurar na foto dos melhores da Meia Maratona do Rio, realizada no início de setembro, na capital fluminense. Entre os cinco melhores, o campeão, Leul Gebresilase Aleme (ETI), e o terceiro, Stanley Koech (QUE), pertenciam à equipe de Coquinho. A rotina de vitórias também se repete no feminino.
 
“Fui bastante elogiado pelo trabalho que venho realizando com os africanos pelo pessoal do departamento de marketing da Caixa”, contou Coquinho. “Se eu tivesse uma equipe só de brasileiros, não daria a eles [Caixa] a mesma visibilidade. Infelizmente”, disse.
 
Para a Caixa, este é o objetivo de patrocinar uma equipe toda formada por estrangeiros. “Buscamos uma maior visibilidade como apoiadora do atletismo”, justificou o banco, por meio de nota de sua assessoria. “A equipe Fila [de Coquinho] é uma equipe brasileira, composta por estrangeiros, que corresponde aos critérios adotados pela Caixa para patrocínio a equipes de corredores de rua. Cabe ressaltar que, assim como todo e qualquer patrocínio da Caixa, o patrocínio às equipes é realizado com base  na Lei 8666/93”, acrescentou a nota, citando a lei segundo a qual a administração pública seleciona o melhor contrato para seu interesse.
 
O banco apoia outras cinco equipes e distribui anualmente um total de R$ 4 milhões em patrocínio. As outras cinco agremiações contam com corredores brasileiros. A Caixa não detalhou o montante recebido por cada time.
 
O critério de seleção dos contemplados, no entanto, dá margem a dúvidas. Além da “visibilidade”, a Caixa utiliza o ranking Confederação Brasileira de Atletismo(CBAt) para escolher os patrocinados. Acontece que não há um ranking por equipe de corrida de ruas. Além disso, atletas estrangeiros não fazem parte de qualquer ranking de competições nacionais no Brasil. Logo, a equipe de Coquinho não consta em rankings da CBAt, muito embora seus atletas costumem triunfar nas ruas brasileiras.
 
Ele conta que tem uma base de olheiros e treinadores nos principais formadores de corredores de rua da África, desde o Marrocos até o Quênia, que o mantém informado sobre qual atleta está em melhor forma para competir no Brasil. Um atleta pode disputar três ou quatro provas antes de voltar para casa. Ele é substituído por outro africano que chega ao interior do Paraná logo em seguida e participa de outras corridas por um determinado período. “A verba da Caixa corresponde a um terço do meu orçamento. Com esse dinheiro, eu pago documentação e passagens dos africanos até o Brasil, além de bancar a manuntenção do meu centro de treinamento aqui em Nova Santa Bárbara, onde eles ficam alojados com toda a infraestrutura de hospedagem, alimentação e treinamento”, explicou Coquinho. 
 
Uma das contrapartidas dos corredores é dar 15% da premiação de cada prova a Coquinho. “Neste ano, vou trazer um pessoal bom aí para ganhar a São Silvestre de novo”, planeja. O campeão da São Silvestre (no masculino e no feminino) ganha R$ 28 mil.