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Candidatura de Doha ao Mundial da IAAF aumenta pressão por direitos humanos

Trabalhadores envolvidos na preparação da Copa de 2022 - EFE
Trabalhadores envolvidos na preparação da Copa de 2022 Imagem: EFE

Do UOL, em São Paulo

17/11/2014 20h54

A Federação Internacional de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) realizará na terça-feira uma reunião de conselho em Mônaco, onde vai decidir e anunciar a sede do Mundial de atletismo de 2019. Doha, no Qatar, é a favorita na disputa com outras duas candidatas, e essa hipótese já causa apreensão e movimentação por parte de entidades que defendem os direitos humanos. A entidade é pressionada para que, caso escolha a cidade do Oriente Médio, tome previdências contra abusos sobre trabalhadores.

O abuso de mão de obra estrangeira em relações trabalhistas análogas à escravidão no Qatar é uma das principais críticas na ascensão do país como sede de grandes eventos esportivos. As denúncias já ocorrem de maneira ampla desde que foi escolhido como sede da Copa do Mundo de futebol de 2022, sob o temor de que as grandes obras necessárias para o evento sejam executadas sem respeitar os direitos humanos garantidos por leis internacionais.

O Qatar foi derrotado na eleição para sediar o Mundial de atletismo 2017, que será realizado em Londres, e agora concorre com Eugene, nos Estados Unidos, e Barcelona, na Espanha. Segundo o jornal britânico The Guardian, a Anistia Internacional e o Human Rights Watch recomendaram à entidade que inclua cláusulas garantindo que os envolvidos tenham seus direitos respeitados na preparação e execução da competição, caso o país seja escolhido.

"Da forma como as coisas estão no Qatar, o sistema trabalhista facilita diversos abusos sérios que incluem tráfico humano e trabalho forçado, e as reformas anunciadas não vão melhorar a situação de forma significativa. A Anistia Internacional e o Humans Rights Watch foram muito claros nesse ponto, e a IAAF deveria garantir que sua decisão seja baseada em uma análise imparcial dos fatos", opinou Nicholas McGeehan, pesquisador especialisado no Oriente  Médio.

Por tradição, a relação trabalhista no Qatar e em outros países árabes dita que um trabalhador estrangeiro precisa de um patrocinador, chamado de Kafeel, para conseguir emprego. É um sistema conhecido como Kafala. O Kafeel dita as condições da contratação, e o empregado vai depender dele para deixar o país ou ser liberado, por exemplo, para aceitar um emprego melhor. O Kafeel tem o poder de extraditar qualquer patrocinado.

Um relatório recente da Anistia Internacional criticou as novas leis trabalhistas, indicando que elas mantêm esses sistema e permitem a exploração contínua no Qatar. O governo, por sua vez, negou.

"Eventos esportivos como esse oferecem uma excelente oportunidade de promover reformas, mas se as entidades esportivas como a IAAF não receberem garantias de que essas reformas vão ocorrer, então aceitam o risco de que sua marca vai ser usada como ferramenta de relações-públicas por anfitriões inescrupulosos", afirmou McGeehan, à publicação britânica.

Se conseguir sediar o Mundial de Atletismo de 2019, espera-se que o Qatar concorra à Olimpíada de 2024, depois de falhar nas disputas pelas edições de 2016 e 2020. A competição da IAAF, tradicionalmente realizada em agosto, passaria para outubro para evitar prejuízo por conta das altas temperaturas que o país registra nessa época do ano.