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AVC e tumor no cérebro. Brasileira supera dramas por sonho de ouro em 2016

Verônica Hipólito é campeão mundial dos 200m em categoria para atletas com paralisia - Julian Finney/Getty Images
Verônica Hipólito é campeão mundial dos 200m em categoria para atletas com paralisia Imagem: Julian Finney/Getty Images

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

28/11/2014 06h00

Ela já superou um AVC que paralisou todo lado direito do corpo, já conquistou um título mundial, é a mais rápida do planeta em sua categoria e agora convive com um tumor no cérebro. Pela descrição, esta poderia ser a biografia de uma pessoa de mais de 40 anos de idade. Mas trata-se de uma garota de 18 anos e que ainda tem muito mais a viver e superar. Esta garota se chama Verônica Hipólito e é uma das principais esperanças brasileiras de medalha nos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

Verônica pratica o atletismo paraolímpico desde abril de 2013 e, em menos de dois anos, já se firmou como uma das melhores do mundo na categoria T38 (Atletas, frequentemente, com paralisia cerebral com movimentos de braços e pernas limitados). No ano passado, em Lyon (FRA) chocou a todos a conquistar o título mundial dos 200m naquela que foi apenas sua quarta competição como profissional. Era o combustível necessário para sonhar alto.

"Estou bem focada para conquistar o ouro olímpico logo na minha estreia e acredito ser possível. Uma boa prévia disse já terei no ano que vem, com mais um Mundial e o Parapan de Toronto. Brinco com meu treinador que 2016 não começa em 2016, mas sim em 2015", disse Verônica em entrevista ao UOL Esporte.

A determinação demonstrada nas palavras é um reflexo do estado de espírito e da garra de Verônica, que já teve de lidar com muitas dificuldades ao longo de sua curta vida.

Em 2009, teve detectado um tumor no cérebro pela primeira vez e teve de ser submetida a uma cirurgia. Em 2011, sofreu um AVC que paralisou o lado direito do corpo, e em 2013 teve diagnosticado um novo tumor, este de apenas três milímetros e localizado na hipófise ( glândula responsável pela regulação da atividade de outras glândulas e de várias várias funções do organismo como o crescimento, produção e armazenamento de hormônios e secreção do leite através das mamas).

O tumor não apresenta risco de morte a Verônica, que tem 1,60m e 48kg, mas influencia em seu comportamento e muitas vezes faz com que a sua rotina de treinos precise ser alterada.

Verônica 1 - Washington Alves / Mpix - Washington Alves / Mpix
Verônica posa com a medalha do Mundial de Atletismo de 2013
Imagem: Washington Alves / Mpix

"Posso ficar muito irritada ou fragilizada, e do nada sentir tonturas e dores de cabeça. Quando isso acontece durante um treino, já aviso meu treinador e mudamos a atividade. Em algumas competições já senti tontura e fiquei com medo que não pudesse fazer boas marcas, porém nunca tive grandes complicações. Mas eu preciso tomar cuidado, não posso tomar pancadas fortes na cabeça", contou Verônica, que neste ano conquistou a medalha de ouro nos 100m, 200m e salto em distância nos Jogos Sul-Americanos de Santiago (CHI).

Como o tumor é muito pequeno, fazer uma cirurgia traria riscos enormes para a atleta. Por isso, o tratamento é feito com medicamentos. Verônica precisa tomar três vezes por semana o comprimido Dostinex, cuja cartela com oito unidades custa R$ 800.

"O tratamento ao qual a Verônica é submetido tem como prioridade seu bem estar e a integridade física. Ele não vai atrapalhar sua participação em competições esportivas. Neste momento não há a indicação para se fazer uma cirurgia. Não teria como tirar o tumor, pois ele é muito pequeno. O objetivo da medicação é evitar o crescimento de tumor, pois caso isso aconteça haverá complicações na parte neurológica", explicou Andrea Jacusiel, médica do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Além de se dedicar ao atletismo, Verônica também está cursando a faculdade. Ela faz bacharelado em Ciências e Humanidades na UFABC (Universidade Federal do ABC) e depois pretende estudar economia. Investir na bolsa de valores é um dos hobbies da jovem.

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Verônica é atleta do Sesi de Santo André, tem patrocínio da Caixa, Nike e recebe o Bolsa Pódio
Imagem: Marcio Rodrigues/MPIX

"Até o ano passado eu investia direto no Tesouro Direto, créditos de casa. Fiz até um curso para saber quais eram os melhores investimentos e contava com a ajuda de um professor do colégio. Mas, depois fiquei sem tempo. Me foquei apenas no atletismo e na faculdade. Pretendo retomar estes investimentos no futuro", afirmou Verônica.

Outro passatempo da atleta são os origamis (dobraduras japonesas). Verônica contou que pegou gosto pela arte quando ficou internada no hospital em 2011 após sofrer o AVC e perder os movimentos do lado direito.

"Foi a primeira coisa que consegui fazer usando as duas mãos quando estava no hospital. Ajudava na fisioterapia. Me fizeram tornar um pouco mais independente naquela época. Fizm um zoológico inteiro de origamis", contou Verônica, que é atleta do Time São Paulo.

"Toda véspera de competição, eu gosto de fazer origamis e presentear as pessoas. Me ajuda a relaxar e aumentar a coordenação motora", completou.