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Campeão alemão trocou de sexo após doping. Hoje mal consegue caminhar

Krieger: competindo como Heidi (esq.) e depois de ser reconhecido como Andreas - Montagem/Getty Images e Twitter
Krieger: competindo como Heidi (esq.) e depois de ser reconhecido como Andreas Imagem: Montagem/Getty Images e Twitter

Do UOL, em São Paulo

09/07/2015 06h00

Andreas Krieger bateu recordes e conquistou títulos no arremesso de peso. No entanto, até hoje devolve suas conquistas e briga para perder os recordes. Isso mesmo, briga para tirar seu nome da história. Vítima do doping involuntário e massivo promovido pela extinta Alemanha Oriental, Krieger ainda sofre com as consequências. Ele mudou de sexo após as numerosas doses de hormônio que recebeu e lida com sequelas físicas que o atrapalham até para andar.

“Não posso fazer esporte. Às vezes sou mais lento que um senhor de 80 anos. Um médico me disse que precisarei fazer cirurgia nos quadris. Também tenho um problema na coluna e sou dependente químico das substâncias que me mandavam tomar. Inclusive, posso ter câncer por culpa dos hormônios”, contou Krieger em entrevista ao As.

Foram os hormônios que forçaram o alemão a mudar de sexo, segundo ele. Seu nome original era Heidi. Como mulher, foi campeã europeia no arremesso de peso em 1986 e obteve um recorde juvenil mundial que persiste até hoje (20,51m). Krieger contou que já cogitava a mudança de sexo, mas a excessiva quantidade de hormônios forçou o processo.

“Eu vivia num corpo alheio. Não gostava de homens, nem eles de mim. Eu gostava das mulheres, mas não era lésbica. Se não tivesse feito [a cirurgia para mudar de sexo] hoje não existiria”, resumiu.

Atualmente com 48 anos, Krieger dá nome ao prêmio concedido anualmente na Alemanha àqueles que lutam contra o doping. Ele continua na briga com a federação internacional de atletismo (IAAF) para cancelar seu recorde indoor no arremesso de peso. “É um pouco cínico que a IAAF, que diz lutar contra o doping, não cumpra o pedido de anulação. Na Alemanha ele foi anulado”.

Krieger é casado com Ute Krause, uma ex-nadadora que também foi vítima do doping massivo promovido pela Alemanha Oriental. “Ela me ajuda muito. Ter passado pela mesma coisa nos ajuda”, diz o alemão. Mas dos tempos de atleta as poucas lembranças que restaram foram das viagens. “Nunca mais esquecerei esse assunto. O mais cruel de tudo é que se aproveitaram de mim”.