Topo

Greve na NBA suspende seguro e abre brechas para astros jogarem até no Brasil

Greve pode tirar os brasileiros Nenê, Leandrinho e Tiago Splitter do Pré-Olímpico - AFP e EFE/Montagem UOL
Greve pode tirar os brasileiros Nenê, Leandrinho e Tiago Splitter do Pré-Olímpico Imagem: AFP e EFE/Montagem UOL

Daniel Neves

Em São Paulo

21/06/2011 07h00

O impasse entre jogadores e proprietários de franquias da NBA sobre o novo acordo salarial caminha para resultar em uma greve, que deve ser anunciada logo após o draft, no dia 23 de junho. Mas não é apenas a competição norte-americana que será afetada com a provável paralisação. A crise na principal liga de basquete do mundo tem também implicações nas seleções nacionais e até mesmo no mercado de clubes para as próximas temporadas.

A greve dificultará a participação dos jogadores da NBA nas seleções nacionais em seletivas para a Olimpíada de Londres-2012, como o Pré-Olímpico das Américas e a Eurobasket. A paralisação também abre a possibilidade para que os atletas da liga norte-americana se transfiram para Europa e até mesmo para o Brasil durante a pausa nos Estados Unidos.

Para explicar o impacto que a paralisação terá em todo o basquete mundial, o UOL Esporte consultou Luis Martín, agente do pivô brasileiro Tiago Splitter, que falou sobre as complexas relações entre atletas, NBA e seleções nacionais.

GREVE SUSPENDE SEGURO COLETIVO E ELEVA VALOR DE GARANTIAS

A suspensão de todas as atividades ligadas à NBA é válida também para o seguro de saúde coletivo dos atletas da liga. Sem ele, os atletas não estão protegidos em caso de lesão e teriam que firmar acordos individuais com seguradoras para atuar por suas seleções nacionais.

“Existe um acordo coletivo da NBA com uma seguradora, que torna o preço dos seguros mais em conta. As federações nacionais pagam a esta seguradora, enviam o comprovante aos times e obtém a liberação dos jogadores", explica Martin.

"Com a greve, este acordo não é válido e os atletas precisariam contratar individualmente as seguradoras. O valor dos seguros é calculado em cima do contrato do jogador com a NBA, o que eleva o montante a um preço muito alto para ser pago".

SEM SEGURO, NADA DE TREINAMENTOS COM BOLA

Sem o pagamento do seguro de saúde, qualquer atividade com bola é vetada pela NBA por contrato. Os atletas estão liberados apenas para condicionamento físico.

"É bem provável que os atletas da seleção brasileira se apresentem normalmente, mas só participem de treinos físicos enquanto a situação não é resolvida", disse Martin.

FEDERAÇÕES SE UNEM EM BUSCA DE SEGURO COLETIVO

Com o risco da ausência de seus principais atletas no próximo campeonato europeu, as federações do Velho Continente se mobilizam em busca de uma alternativa e devem bancar um seguro coletivo.

"Está ocorrendo este movimento na Europa e um seguro coletivo deve ser fechado em breve. A Argentina e o Brasil também tentam fazer parte deste seguro para poder contar com os atletas", contou Martin.

EUROPA E ATÉ O BRASIL PODEM ABRIGAR 'REFUGIADOS' DA GREVE

A paralisação na NBA pode gerar uma grande migração dos jogadores para outros países. Astros europeus, como Dirk Nowitzki, e até mesmo ícones dos EUA como Kobe Bryant, cogitam atuar na Europa durante a greve.

"Em caso de greve, os contratos com a NBA estão suspensos e os atletas podem jogar onde quiserem enquanto houver a paralisação. A Europa é um dos destinos, mas até mesmo o Brasil pode receber jogadores", disse Martin.

O agente, porém, acredita que os grandes nomes da NBA só devem procurar outro país para jogar caso a temporada toda da liga norte-americana esteja comprometida.

"Caras como LeBron podem muito bem passar um ano parados, sem receber salários. Claro que tudo passa pelo interesse de cada um de jogar. Mas quem sofre mais são os caras mais novos, que não podem ficar sem receber".

ATLETAS COMENTAM SOBRE A POSSIBILIDADE DE ATUAR FORA DOS EUA

[Se houver greve] Eu devo vir jogar no Brasil durante um tempo

Leandrinho, ala-armador do Toronto Raptors

Não seria contrário [a jogar na Europa]. Vocês sabem o quanto amo a Itália, cresci por lá

Kobe Bryant, ala-armador do Los Angeles Lakers

Ao invés de ficar parado durante um ano, vou jogar na Alemanha

Dirk Nowitzki, ala do Dallas Mavericks e MVP das finais em 2011

Se houver greve, jogarei curling ou criarei galos de briga

Dwight Howard, pivô do Orlando Magic

ENTENDA O IMPASSE QUE AMEAÇA A PRÓXIMA TEMPORADA DA NBA

O impasse sobre o novo acordo salarial ocorre por causa do desejo das franquias de cortarem gastos para as próximas temporadas. Parte das franquias sofre com grandes déficits no orçamento e busca reduzir os gastos com seu elenco.

Os dirigentes propõem uma redução de 30% nos limites salariais dos atletas, o que foi completamente rejeitado pela categoria. As duas partes têm negociado desde o início da temporada passada, mas sem sucesso. Sem acordo, as atividades da NBA ficam paralisadas e a próxima edição da liga corre o risco de não acontecer.

“Caso o impasse permaneça, tudo na NBA é paralisado. Os jogadores ficam impedidos de treinar, os técnicos não podem trabalhar de nenhuma maneira, os ginásios ficam fechados e os contratos são todos suspensos”, explica Luiz Martin.