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Árbitra supera 'tempos de fome e faxina' para fazer história no NBB

Andreia Regina marcará história do NBB em primeira partida com duas mulheres na arbitragem - Divulgação/LNB
Andreia Regina marcará história do NBB em primeira partida com duas mulheres na arbitragem Imagem: Divulgação/LNB

Daniel Neves

Do UOL, em São Paulo

23/02/2012 12h00

O duelo entre Pinheiros e Vila Velha, nesta quinta-feira, às 20h, em São Paulo, será o primeiro jogo em quatro edições do Novo Basquete Brasil (NBB) a contar com duas mulheres no apito. Histórica para o torneio, a partida será ainda mais especial para Andréia Regina da Silva, que precisou superar uma série de privações e passou até fome para se firmar entre os principais nomes da arbitragem nacional.

Nascida em Bauru, Andréia jogou basquete na adolescência, apaixonou-se pela modalidade e decidiu tentar a vida como árbitra em São Paulo. Na Capital, porém, teve que lutar contra dificuldades financeiras e chegou a passar fome enquanto lutava para se firmar na profissão.

“Não tinha lugar para ficar, então tive que morar de favor. Fiquei na casa de uma senhora, fazendo faxina em troca de moradia e de comida”, contou Andréia. “Como estava no começo da carreira, não tinha dinheiro para nada. Muitas vezes passei fome ou comia aquele churrasquinho grego com suco. Para pegar ônibus, só passando por baixo da catraca. Eram tempos difíceis”.

O esforço e as privações tiveram recompensa. Integrante do quadro do NBB desde 2010, Andréia foi eleita revelação do torneio na última edição. Em 10 anos de carreira, já apitou a decisão do Nacional feminino e participou de torneios internacionais como árbitra da Fiba. O respeito dentro de quadra, porém, veio somente após superar muito preconceito entre os atletas.

“Sofri bastante preconceito no início da minha carreira. Entrava na quadra e via os jogadores cochichando, com sorrisinhos, balançando a cabeça. Era algo velado, mas que estava presente. Com o tempo, porém, conquistei espaço com meu trabalho e hoje sou bem tratada por todos eles”, comentou Andréia.

A árbitra afirma nunca ter sido alvo de xingamentos dos jogadores durante uma discussão e adota o tom conciliatório em momentos mais quentes das partidas. Andréia, porém, já sofreu com um xaveco inusitado de um atleta e ganhou um ‘beijinho’ em quadra.

“Durante os Jogos Regionais de 2003, apitei uma falta, o jogador não gostou e veio para cima de mim. Na hora pensei ‘vou apanhar’. Mas ele veio até mim, me entregou a bola e deu um beijo na minha testa. O ginásio veio abaixo, todo mundo aplaudindo. Fiquei vermelha e nem dei bronca nele”, disse a árbitra, que nega qualquer possibilidade de envolvimento com jogadores. “Melhor não misturar as coisas”.

Andréia Regina terá a companhia de Maria Cláudia Moraes, além de Carlos Renato dos Santos, no comando da arbitragem da partida desta quinta-feira. A última vez que duas mulheres foram escaladas para participar de um mesmo jogo da elite masculina ocorreu em 2008, quando Andreza Silva e Flávia Renata de Almeida apitaram confronto válido pelo Nacional organizado pela CBB.