Pior do mundo no futebol, Íbis monta time de basquete (e até conquista troféu)
Eles não têm quadra própria. Nos primeiros meses de vida, não havia dinheiro para confeccionar uniformes. Além disso, os atletas são amadores e, fora do esporte, ganham a vida em profissões comuns. Um deles, aliás, é fiscal do Tribunal Regional Eleitoral do Recife. Esses são apenas alguns elementos da mais nova aventura do Íbis, o pior time do mundo.
E, antes que você se empolgue com uma história do time de futebol que revelou o mito Mauro Shampoo para o mundo, é bom esclarecer: esse texto fala do projeto do Íbis em outro esporte, o basquete. E, apesar da fama que a camisa carrega, é uma equipe que já nasceu vencedora.
No último mês, o Íbis estreou em competições da modalidade. Disputou a etapa estadual do Campeonato de Basquete 3x3, organizada pela Confederação Brasileira. E acabou com o vice-campeonato. Pode parecer um fato comum se você é torcedor de um time grande. Mas lembre-se: o pior time do mundo ficou famoso justamente por sua habilidade em perder jogos.
Durante a sua pior fase, no final da década de 70 e início dos anos 80, o Íbis conquistou a brava marca de três anos e 11 meses sem uma vitória sequer. A façanha valeu ao clube um lugar no Guiness, O Livro dos Recordes. Por isso, no uniforme oficial do futebol, abaixo do escudo, está escrita a frase "O Pior Time do Mundo" (Aqui é importante fazer uma ressalva: o time já foi campeão estadual de juniores duas vezes e foi campeão da Segundona de Pernambuco em 1999).
Íbis foi terceira escolha
Matéria do Íbis no Jornal do Comércio, de Recife: repercussão da chegada do clube ao basquete é aposta de William Souza para encontrar patrocínio para o projeto
Mas, se o clube não tem uma quadra de basquete, como surgiu o interesse na modalidade? A verdade é que o Íbis foi apenas a terceira opção quando o estudante de educação física William Souza resolveu criar a sua própria equipe. Jogador do time da faculdade Universo, ele queria disputar o estadual. Entrou em contato com a Federação, que deu duas opções: criar um time, arcando com os custos de formalização da entidade, ou se associar a um clube já existente.
“O presidente da Federação me passou uma lista de clubes de futebol que poderiam se interessar. América, Círculo Militar e Íbis. Tentei entrar em contato com os outros dois, mas não me retornaram. Mas quando liguei para o presidente do Íbis, ele adorou a ideia”, conta William.
Basquete amador no Recife
Chegava, então, a fase de criação do projeto. Com a participação no Pernambucano garantida, era hora de buscar a estrutura necessária para o time – incluindo a convocação de um elenco de jogadores. “Nós fomos atrás de jogadores que estavam em outros times e não estavam sendo aproveitados. Também falei com amigos que já tinham jogado basquete e estavam parados e aceitamos até jogadores que nunca tiveram chance em nenhum outro lugar”, continua William.
Esse recrutamento inusitado foi proporcionado pela própria condição do basquete pernambucano. Neste ano, o Sport Recife foi campeão da Liga Feminina, com uma equipe montada para esta temporada – e com estrelas como a pivô Érika e a armadora Adrianinha. No masculino, porém, a modalidade é amadora no estado. O clube com melhor estrutura é o Sport, mas nem mesmo o “Leão” tem estrutura para bancar atletas que vivam do esporte.
Primeiro treino do Íbis, antes ainda da chegada dos uniformes
Time não quer ser o pior do basquete
Com isso, todos os atletas têm outras profissões. Um deles é o pivô Ítalo Costa, de 23 anos e 1,96m. Ele trabalha no Tribunal Regional Eleitoral e ainda é atleta universitário em duas modalidades. Além do basquete, ele treina também hadebol.
“Eu conheço o William da faculdade e fui um dos convidados para o time. Achei a proposta interessante. Todos conhecem o Íbis, mesmo que seja pela fama de pior do mundo. Essa é a parte engraçada”, afirma o pivô. “E brincadeira a gente sempre escuta. Mas não liga”, completa.
O mais importante do projeto, para os envolvidos, é o aspecto social. “Não queremos ser só um time de basquete. Nosso objetivo é montar todo um departamento da modalidade. Por isso, o próximo passo é criar uma escolinha, para montar categorias de base e criar atletas para o time principal”, diz William.
Estrutura é desafio
O grande entrave para que todas as fases do projeto é a falta de dinheiro. O Íbis entrou no barco apenas com o nome. O clube não tem dinheiro para investir em outras modalidades. Cabe a William buscar dinheiro para todos os custos.
Ele conseguiu parcerias com empresas que, até agora, estão bancando o aluguel da quadra de treinos e garantem as taxas que serão pagas para a disputa do estadual. A verba para a compra dos uniformes chegou apenas no mês passado e a primeira versão fica pronta nas próximas semanas.
“O custo não é muito alto. Com R$ 1.500,00 por mês, teríamos todos os gastos fixos pagos. Mas ainda estamos procurando parceiros para ter um lugar para mandar as nossas partidas. O ideal era ter uma instituição de ensino, mas ainda não encontramos nenhuma interessada”.
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