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Pior do mundo no futebol, Íbis monta time de basquete (e até conquista troféu)

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

14/05/2013 06h00

Eles não têm quadra própria. Nos primeiros meses de vida, não havia dinheiro para confeccionar uniformes. Além disso, os atletas são amadores e, fora do esporte, ganham a vida em profissões comuns. Um deles, aliás, é fiscal do Tribunal Regional Eleitoral do Recife. Esses são apenas alguns elementos da mais nova aventura do Íbis, o pior time do mundo.

E, antes que você se empolgue com uma história do time de futebol que revelou o mito Mauro Shampoo para o mundo, é bom esclarecer: esse texto fala do projeto do Íbis em outro esporte, o basquete. E, apesar da fama que a camisa carrega, é uma equipe que já nasceu vencedora.

No último mês, o Íbis estreou em competições da modalidade. Disputou a etapa estadual do Campeonato de Basquete 3x3, organizada pela Confederação Brasileira. E acabou com o vice-campeonato. Pode parecer um fato comum se você é torcedor de um time grande. Mas lembre-se: o pior time do mundo ficou famoso justamente por sua habilidade em perder jogos.

Durante a sua pior fase, no final da década de 70 e início dos anos 80, o Íbis conquistou a brava marca de três anos e 11 meses sem uma vitória sequer. A façanha valeu ao clube um lugar no Guiness, O Livro dos Recordes. Por isso, no uniforme oficial do futebol, abaixo do escudo, está escrita a frase "O Pior Time do Mundo" (Aqui é importante fazer uma ressalva: o time já foi campeão estadual de juniores duas vezes e foi campeão da Segundona de Pernambuco em 1999).

Íbis foi terceira escolha

  • Matéria do Íbis no Jornal do Comércio, de Recife: repercussão da chegada do clube ao basquete é aposta de William Souza para encontrar patrocínio para o projeto

Mas, se o clube não tem uma quadra de basquete, como surgiu o interesse na modalidade? A verdade é que o Íbis foi apenas a terceira opção quando o estudante de educação física William Souza resolveu criar a sua própria equipe. Jogador do time da faculdade Universo, ele queria disputar o estadual. Entrou em contato com a Federação, que deu duas opções: criar um time, arcando com os custos de formalização da entidade, ou se associar a um clube já existente.

“O presidente da Federação me passou uma lista de clubes de futebol que poderiam se interessar. América, Círculo Militar e Íbis. Tentei entrar em contato com os outros dois, mas não me retornaram. Mas quando liguei para o presidente do Íbis, ele adorou a ideia”, conta William.

Basquete amador no Recife

Chegava, então, a fase de criação do projeto. Com a participação no Pernambucano garantida, era hora de buscar a estrutura necessária para o time – incluindo a convocação de um elenco de jogadores. “Nós fomos atrás de jogadores que estavam em outros times e não estavam sendo aproveitados. Também falei com amigos que já tinham jogado basquete e estavam parados e aceitamos até jogadores que nunca tiveram chance em nenhum outro lugar”, continua William.

Esse recrutamento inusitado foi proporcionado pela própria condição do basquete pernambucano. Neste ano, o Sport Recife foi campeão da Liga Feminina, com uma equipe montada para esta temporada – e com estrelas como a pivô Érika e a armadora Adrianinha. No masculino, porém, a modalidade é amadora no estado. O clube com melhor estrutura é o Sport, mas nem mesmo o “Leão” tem estrutura para bancar atletas que vivam do esporte.

  • Primeiro treino do Íbis, antes ainda da chegada dos uniformes

Time não quer ser o pior do basquete

Com isso, todos os atletas têm outras profissões. Um deles é o pivô Ítalo Costa, de 23 anos e 1,96m. Ele trabalha no Tribunal Regional Eleitoral e ainda é atleta universitário em duas modalidades. Além do basquete, ele treina também hadebol.

“Eu conheço o William da faculdade e fui um dos convidados para o time. Achei a proposta interessante. Todos conhecem o Íbis, mesmo que seja pela fama de pior do mundo. Essa é a parte engraçada”, afirma o pivô. “E brincadeira a gente sempre escuta. Mas não liga”, completa.

O mais importante do projeto, para os envolvidos, é o aspecto social. “Não queremos ser só um time de basquete. Nosso objetivo é montar todo um departamento da modalidade. Por isso, o próximo passo é criar uma escolinha, para montar categorias de base e criar atletas para o time principal”, diz William.

Estrutura é desafio

  • O grande entrave para que todas as fases do projeto é a falta de dinheiro. O Íbis entrou no barco apenas com o nome. O clube não tem dinheiro para investir em outras modalidades. Cabe a William buscar dinheiro para todos os custos.

    Ele conseguiu parcerias com empresas que, até agora, estão bancando o aluguel da quadra de treinos e garantem as taxas que serão pagas para a disputa do estadual. A verba para a compra dos uniformes chegou apenas no mês passado e a primeira versão fica pronta nas próximas semanas.

    “O custo não é muito alto. Com R$ 1.500,00 por mês, teríamos todos os gastos fixos pagos. Mas ainda estamos procurando parceiros para ter um lugar para mandar as nossas partidas. O ideal era ter uma instituição de ensino, mas ainda não encontramos nenhuma interessada”.