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Azarão? Brasil é um dos maiores medalhistas da história dos Mundiais

Do UOL, em São Paulo

30/08/2014 06h00

Nas últimas duas décadas, o basquete brasileiro viveu uma fase descendente. Viu os resultados internacionais minguarem, ficou fora de três Olimpíadas e perdeu o posto de ‘segundo esporte’ dos torcedores para o vôlei. Diante de tal panorama, muitos duvidam que, mesmo com o time repleto de jogadores da NBA, o país chegue como candidato a uma medalha no Mundial que começa neste sábado (30), na Espanha.

Mas nem sempre foi assim. Bicampeã mundial, a seleção brasileira já foi considerada um dos ‘bichos-papões’ da modalidade, capaz de rivalizar com potências como Estados Unidos e União Soviética. Argentina? Era a maior freguesa da equipe verde amarela.

O Brasil aparece como o quarto maior vencedor da história dos Mundiais, atrás apenas de iugoslavos, americanos e soviéticos. Foram seis pódios entre 1954 e 1978, sendo duas medalhas de ouro, duas de prata e duas de bronze. Ainda foi quarto colocado em outras duas oportunidades.

Relembre abaixo as glórias anteriores do Brasil em Mundiais, que podem servir de inspiração para a atual geração que tenta marcar seu nome na história:

1954: O embrião de uma geração vencedora

O Brasil subiu no pódio logo na segunda edição do Mundial. Realizada no Rio de Janeiro, viu os donos da casa fazerem uma campanha quase perfeita. Foram seis vitórias e apenas uma derrota, justamente para o campeão Estados Unidos.

Além da medalha de prata, a conquista foi o embrião de uma geração que dominaria o mundo nos anos seguintes. Wlamir Marques, então com 16 anos, e Amaury Pasos, com 18, fizeram parte da equipe e foram destaque, assim como Algodão e o lendário técnico Togo Renan Soares, o Kanela.

1959: Política ajudou Brasil em primeiro ouro

Brasil no Mundial de basquete de 1959 - Divulgação/CBB - Divulgação/CBB
Imagem: Divulgação/CBB
O Mundial do Chile foi a primeira grande conquista de uma equipe que encantaria o planeta na década seguinte. Wlamir e Amaury ganharam a companhia de Edson Bispo e Rosa Branca, entre outros grandes nomes que marcaram uma geração vencedora.

A campanha contou com uma vitória histórica sobre os Estados Unidos, mas duas derrotas para a União Soviética deixaram o país perto de amargar mais um quase. Foi quando um problema político influenciou decisivamente no resultado esportivo.

Em plena Guerra Fria, os soviéticos se recusaram a enfrentar Formosa, atual Taiwan, país que havia se separado da China e que não era reconhecido pelo bloco comunista. Com o WO, os europeus acabaram desclassificados e o título ficou com os brasileiros, donos da segunda melhor campanha.

1963: Consolidação como melhor do mundo

Wlamir no Mundial de 1963 - Arquivo/CBB - Arquivo/CBB
Imagem: Arquivo/CBB
Em mais uma edição realizada no Rio de Janeiro, o Brasil não deu margem para dúvidas sobre quem era o melhor do mundo. Com Wlamir e Amaury no auge e um timaço que contava com Rosa Branca e Ubiratan, atropelou todos os adversários e foi campeão invicto.

União Soviética, Estados Unidos, Iugoslávia... todos atropelados pela equipe verde-amarela, ainda comandada com mão de ferro por Kanela, que instituiu um clima de quartel para evitar que a conquista escapasse. Com o time automaticamente classificado para a fase final, trancou os jogadores em um hotel no Rio de Janeiro enquanto as demais equipes disputavam a primeira fase em outras cidades.

Tudo para evitar uma nova decepção a um time que chegava ‘mordido’ devido a tropeços contra seus 'arquirrivais'. Nas Olimpíadas de Roma-1960, derrotas para soviéticos (por dois pontos) e norte-americanos deixaram o time com a medalha de bronze. Já no Pan-Americano de São Paulo-1963, dias antes do torneio no Rio, prata após revés para os Estados Unidos.

"Depois que recebi o troféu, me deixaram só de sunga e tênis. Depois me roubaram os tênis também, quase acabaram com a gente na comemoração", disse Wlamir, em entrevista ao UOL Esporte no ano passado. "Foi a maior emoção que senti na minha carreira. A torcida do Rio de Janeiro era espetacular, lotava o ginásio todas as noites. Era incrível a idolatria que tinham por nós".

1967: Briga com Kanela deixou Wlamir de fora
Kanela -  -
O Brasil sofreu uma importante baixa para o Mundial do Uruguai. Convocado para a competição, Wlamir Marques entrou em conflito com o técnico Kanela e acabou cortado da delegação. Em compensação, foi a primeira vez que outro nome importante do basquete nacional disputou o torneio: Edvar Simões.

“Nessa época eu era técnico do time feminino do XV de Piracicaba. Eu e o Kanela conseguimos dar um jeito de encaixar os dois treinamentos e tudo estava indo bem. Às vésperas do Mundial, o Kanela exigiu dedicação exclusiva. Num mesmo dia, eu tinha um jogo amistoso da seleção e um jogo do campeonato paulista. Faltei o amistoso e, por causa disso, o Kanela me cortou”, contou Wlamir.

Mesmo sem um de seus principais jogadores, o Brasil novamente fez uma grande campanha. Foram quatro vitórias, uma delas contra os Estados Unidos, e duas derrotas, para Iugoslávia e União Soviética, que levou o ouro. Empatado com iugoslavos e americanos na pontuação, a seleção verde-amarela ficou com o bronze nos critérios de desempate. A prata foi para os europeus.

1970: Última glória da geração dourada

O Mundial da Iugoslávia foi o último disputado por alguns dos principais nomes do bicampeonato na década anterior. Wlamir Marques, Rosa Branca e o técnico Kanela fizeram sua despedida do torneio. Convocado, Amaury optou por não ir, cansado da rotina de longas preparações da seleção brasileira.

Com Hélio Rubens, Ubiratan, Wlamir, Edvar e Menon no elenco, o Brasil novamente fez uma grande campanha, com triunfos sobre Estados Unidos e União Soviética. Foram quatro vitórias e duas derrotas, para Iugoslávia e Tchecoslováquia. O título ficou com os donos da casa e a prata com os brasileiros, que superaram os soviéticos nos critérios de desempate.

1978: Cesta ‘espírita’ no fim garante o bronze

O último pódio do Brasil em Mundiais foi também a primeira conquista importante da segunda geração que faria história na seleção nacional. O único remanescente da ‘geração dourada’ era Ubiratan, que ganhou a companhia de dois jovens talentos: Oscar Schmidt, de 20 anos, e Marcel de Souza, com 21.

Hélio Rubens, Eduardo Agra, Marquinhos Abdalla e Carioquinha eram outros nomes importantes da equipe que viajou às Filipinas com a missão de recolocar o país no pódio após o 6º lugar em 1974.

O Brasil venceu os Estados Unidos, mas acabou superado por Iugoslávia e União Soviética e foi para a disputa do bronze contra a Itália. Em uma partida extremamente equilibrada, a vitória veio apenas no estouro do cronômetro em um chute quase do meio da quadra de Marcel, que garantiu o triunfo por 86 a 85.