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Poliglota e nerd, pivô ajuda Senegal a ser zebra em Mundial de basquete

Com 27 pontos, Gorgui Dieng teve atuação espetacular em vitória de Senegal sobre a Croácia - EFE/Raúl Caro
Com 27 pontos, Gorgui Dieng teve atuação espetacular em vitória de Senegal sobre a Croácia Imagem: EFE/Raúl Caro

Do UOL, em São Paulo

01/09/2014 21h04

Senegal venceu apenas dois jogos em três rodadas do Mundial de basquete disputado na Espanha, mas isso já foi suficiente para fazer da seleção uma das maiores surpresas da competição. Os triunfos contra os fortes times de Porto Rico e Croácia já igualaram a quantidade de resultados positivos da equipe africana na história do torneio. E um dos principais motivos para a evolução dos senegaleses é um pivô com perfil pouco comum para atletas. Poliglota e apaixonado pela escola, Gorgui Dieng é o grande destaque do time até aqui.

Dieng tem média de 22 pontos por jogo, a quinta mais alta do Mundial. Além disso, somou 11,7 rebotes, 1,7 roubo de bola e 1,7 toco por partida. Segundo estatística da Fiba (Federação Internacional de Basquete), o índice de eficiência dele é de 26,7, o maior da competição disputada na Espanha.

Esses números são ainda mais expressivos porque Dieng é uma novidade. A despeito de ter 24 anos, o pivô disputou apenas uma temporada na NBA, a liga de basquete profissional dos Estados Unidos. Ele chegou ao país da América do Norte em 2009 e passou por Huntington Prep School e Louisville antes de ser draftado pelo Utah Jazz (em 2013) e imediatamente enviado ao Minnesota Timberwolves.

Na NBA, Dieng é tratado como um jogador de desenvolvimento tardio. O curioso é que Gorgui, o primeiro nome dele, quer dizer “o mais velho” em Wolof, a língua nativa do pivô senegalês. Ele também fala inglês, italiano e francês.

O inglês, aliás, foi o último idioma que Dieng aprendeu entre os que estão nessa lista. “Ele chegou aqui em dezembro e falava pouco. Em fevereiro, já tinha um conhecimento maior do que alguns rapazes do meu time”, disse Rick Pitino, técnico da universidade de Louisville, em entrevista ao canal fechado norte-americano “ESPN”.

Na verdade, Dieng levou seis meses para dominar o inglês. No entanto, esse foi o único entrave acadêmico que ele teve nos Estados Unidos. Desde as primeiras provas, o senegalês sempre repetiu um traço que já havia marcado a vida dele no país natal: o excelente desempenho como aluno.

“Jogar na NBA é apenas 70% do meu objetivo de vida. O que eu quero é mudar a vida das pessoas de onde eu venho. Eles podem olhar para mim e dizer: ‘Nossa, o cara estudou e se tornou profissional’. As pessoas podem perceber o quanto a educação é importante. Dentro dos meus objetivos, os outros 30% são funcionar como um modelo”, disse Dieng, que começou a jogar basquete na escola quando ainda vivia em Senegal.

A relação de Dieng com a vida acadêmica é ainda mais antiga. O pai dele foi diretor de uma escola. “Ele nunca ligou para basquete. Ele realmente não está nem aí. Tudo que ele quer saber é como eu vou nos estudos”, relatou o pivô, que sempre foi fã de matemática, ganhou bolsas de estudos na infância por ser bom aluno e se formou em comunicação.

Também vem de Momar a relação de Dieng com a comunidade. O pivô conta que um dia o pai colocou todo o salário em cima da mesa de casa, chamou o filho e disse: “Eu nunca vou dar dinheiro nenhum a você. Se você quiser algo, saia e vá trabalhar”. Em seguida, Momar pegou as notas e usou para comprar comida e suprimentos escolares para os vizinhos que não podiam pagar por isso.

O basquete de Dieng une a dedicação e o altruísmo que o pai dele sempre defendeu como bandeiras de vida. O pivô é um defensor extremamente eficiente, e o potencial atlético ainda faz dele a maior arma que Senegal tem no ataque.

O impacto que essa combinação pode causar ficou evidente nos três primeiros jogos que ele fez como titular na NBA. Conseguiu 22 pontos e 21 rebotes em um deles, contra o Houston Hockets, feito que jamais havia sido registrado anteriormente por um calouro do Minnesota Timberwolves. “É uma presença bastante ativa e intimidadora perto da cesta”, avaliou Giancarlo Giampietro, blogueiro do UOL Esporte.

O impacto de Dieng para Senegal

Com a saída de Kevin Love, que trocou Minnesota pelo Cleveland Cavaliers, Dieng deve ganhar ainda mais espaço no garrafão a partir da próxima temporada da NBA. E o senegalês tem mostrado neste Mundial um pouco do que a torcida da franquia pode esperar dele.

Até 2014, Senegal só havia vencido duas partidas na história dos Mundiais: em 1978, contra a China, e em 1998, contra a Coreia do Sul. A última participação do país na competição havia sido em 2006, com cinco derrotas em cinco jogos.

Neste ano, Senegal começou com uma derrota por 87 a 64 para a Grécia. Depois, porém, tornou-se a grande surpresa do Mundial. Os africanos bateram Porto Rico (82 a 75) e Croácia (77 a 75). Até aqui, apenas os gregos, que venceram os três jogos, têm aproveitamento de pontos superior no Grupo B.