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EUA consolidam hegemonia uma década após 'fundo do poço' e reconstrução

Do UOL, em São Paulo

15/09/2014 06h00

A conquista tranquila de mais um título dos Estados Unidos no basquete, desta vez no Mundial, passa a impressão de que os norte-americanos se mantêm no topo da modalidade sem grande esforço. Não é bem assim. A atual hegemonia é fruto de uma reconstrução que teve início uma década atrás, após a seleção do país chegar ao que a federação e a imprensa especializada consideraram como ‘fundo do poço’

Em 2004, o interesse pela seleção estava em baixa. Nove dos 12 atletas que participaram do Pré-Olímpico no ano anterior optaram por não defender o país nos Jogos de Atenas. Poucos atletas consagrados, como Tim Duncan e Allen Iverson, aceitaram ir para o torneio ao lado de jovens talentos como LeBron James e Carmelo Anthony.

A campanha nas Olimpíadas foi desastrosa. A equipe comandada por Larry Brown perdeu dois jogos na primeira fase (Porto Rico e Lituânia) e avançou apenas no quarto lugar de seu grupo. O revés ante os portorriquenhos por 19 pontos é até hoje o pior da história do país em torneios internacionais.

Parecia, porém, que iria embalar na reta final após atropelar a então invicta Espanha nas quartas de final. Mas foi eliminada na semifinal pela Argentina de Rubén Magnano e Manu Ginóbili. Restou aos norte-americanos a medalha de bronze, conquistada ante a Lituânia.

Foi a primeira (e única) vez que o país não levou o ouro olímpico desde que os atletas da NBA passaram a defender a seleção, em 1992. Até 2004, os Estados Unidos haviam perdido apenas dois jogos na história dos Jogos Olímpicos. Em Atenas, foram três derrotas.

Um desempenho desastroso para uma potência que buscava apagar outro fiasco. Dois anos antes, os Estados Unidos ficaram fora do pódio de um Mundial disputado em casa. Em Indianápolis, o time comandado por George Karl foi eliminado nas quartas de final pela Iugoslávia além de perder para Argentina e Espanha, ficando em sexto lugar. Nunca uma seleção norte-americana havia sido derrotada com jogadores da NBA até então.

Mudança dentro e fora de quadra

EUA nas olimpíadas -  -

Os fiascos nas principais competições internacionais fizeram com que a federação norte-americana chegasse a uma conclusão: ter os melhores jogadores do planeta não era mais suficiente. Era preciso mudar, tanto na preparação dentro de quadra quanto a mentalidade dos jogadores. Tarefa que seria capitaneada por Jerry Colangelo, eleito executivo do ano na NBA em quatro oportunidades e respeitado no meio esportivo do país.

A primeira medida tomada por Colangelo foi conversar com os principais astros da liga norte-americana para conscientiza-los sobre como o prestígio do basquete do país havia ficado abalado com os fracassos internacionais e convence-los da importância de defender o time nacional. Alguns, como Tim Duncan e Kevin Garnett, manifestaram desejo de não mais atuar pela seleção. Já outros, como LeBron James, Carmelo Anthony, Dwyane Wade e Kobe Bryant, aceitaram o desafio e se comprometeram com as futuras convocações.

A outra mudança importante ocorreu no comando da equipe. Nada de chamar um consagrado treinador da NBA. Para se adaptar melhor ao ‘mundo Fiba’, a federação do país trouxe para comandar a seleção o multivencedor técnico do basquete universitário Mike Krzyzewski. Conhecido como ‘Coach K’, ele já havia participado da equipe nacional como assistente técnico nas conquistas olímpicas em Los Angeles-1984 e Barcelona-1992.

O início não foi promissor, com derrota nas semifinais do Mundial de 2006 para a Grécia, restando ao país a conquista da medalha de bronze ante a campeã olímpica Argentina. Os resultados, porém, vieram de forma arrasadora nos anos seguintes e se mantiveram sem sobressaltos desde então.

Em 2008, o chamado “Time da Redenção” formado por 11 jogadores All-Stars da NBA atropelou todos os adversários para conquistar o ouro nas Olimpíadas de Pequim. Resultado que se repetiu quatro anos depois, nos Jogos de Londres. Conquistas que vieram com todos os principais jogadores do país integrando a seleção nacional, que se submeteu a uma longa preparação para ambos os torneios.

Até mesmo o Mundial, considerado torneio de segunda linha pelos norte-americanos, foram encarados com uma importância maior. Se os astros veteranos não compareceram por lesão ou questões contratuais, Kevin Durant comandou o título em 2010, conquista que não vinha desde 1994. Sucesso que se repetiu em 2014, com um time formado por jovens talentos da NBA que devem formar a base da seleção nos próximos anos.