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Cigano do basquete já conquistou rei e magnata iraniano. Hoje está no NBB

Jimmy Baxter é o segundo principal pontuador do São José no NBB - Divulgação/São José
Jimmy Baxter é o segundo principal pontuador do São José no NBB Imagem: Divulgação/São José

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

04/12/2014 06h00

Americano de nascimento, jordaniano por opção e ‘cidadão do mundo’ por profissão. Este é Jimmy Baxter, um dos destaques do São José na disputa do NBB. O ala de 34 anos pode ser considerado um verdadeiro cigano do basquete. O Brasil é o 16º país no qual ele está vivendo e jogando. 

E neste périplo pelos quatro cantos do planeta, histórias e causos inusitados não faltam para o atleta natural de Saint Petersburg, na Flórida (EUA). Como quando ele se encontrou com Abdullah II, Rei da Jordânia, em seu palácio na capital Amã para discutir os termos de sua naturalização. A reunião foi realizada no início de  2013 e selou sua mudança de nacionalidade. Poucos meses depois, representou o país no Campeonato Asiático das Filipinas. A Jordânia ficou apenas na sétima colocação e não conseguiu a classificação para o Mundial da Espanha.

“Um técnico grego que havia sido meu treinador quando passei pela Grécia em 2011 (defendeu o Ilisiakos) estava no comando da Jordânia e me fez o convite. Aí fui jantar com o rei e tivemos um papo agradável. Ele é um entusiasta do esporte e se interessou muito pelo fato de eu ter passado por vários países e me adaptar facilmente a qualquer lugar. Fizeram a proposta e eu gostei bastante”, disse Baxter ao UOL Esporte.

Para defender a Jordânia, ele ganha um salário que não quis revelar. Seu próximo torneio pela seleção deverá ser o Pré-Olímpico Asiático de 2015, que valerá vaga na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Só na preparação para o campeonato deverá retornar ao país que adotou como segunda pátria. Em que pese ter se naturalizado, Baxter não fala nada em árabe, nem se converteu ao islamismo, religião dominante naquela nação. 

O encontro com o rei jordaniano, porém, não foi o único momento de “ostentação” de Baxter. Em 2011, quando foi ao Irã para defender o Petrochimi Bandar Imam BC, recebeu um polpudo presente de boas-vindas para deixar claro que o fato de ser americano não seria nenhum tipo de empecilho para atuar em um país que não possui relações diplomáticas com os Estados Unidos.

“Desci do avião, e o dono do time já me recebeu com uma mala com US$ 50 mil (R$ 127 mil) dentro para mostrar que eu não teria nenhum problema lá. Fiquei 40 dias defendendo o time e recebei US$ 150 mil (R$ 384 mil). Me davam tudo do bom e do melhor. Só viajava de primeira classe na avião, tinha tudo o que precisava na minha casa. O fato de eu ser americano não me criou nenhum problema lá. Eu vivia em uma cidade chamada Mahshahr, que é muito rica e conhecida pelo refino e exploração de petróleo”, contou Baxter, de 1,98m de altura.

“A única coisa engraçada é que quando ia no shopping todo mundo me olhava como se eu fosse um ET, porque eu era o único negro lá (risos)”, disse.

Se adaptar aos mais variados países e culturas nunca foi um grande problema para o ala. Logo após se formar na universidade em 2004 deixou os Estados Unidos para sua primeira experiência internacional, em Portugal. E a partir daí não parou mais. Além de Grécia e Irã, passou também por França, Itália, Letônia, Bélgica, Turquia, Israel, Eslovênia, Alemanha, Venezuela, República Dominicana e Argentina.

Baxter - Divulgação/JBF - Divulgação/JBF
Jimmy Baxter se naturalizou jordaniano e defendeu o país em torneio em 2013
Imagem: Divulgação/JBF

“Não gosto de passar muito tempo em um mesmo país. Gosto de estar sempre mudando, conhecendo novos estilos de jogos, novas culturas. Aprecio muito a mentalidade europeia. Prefiro ficar lá do que jogando em divisões menores nos Estados Unidos”, disse Baxter, que em 2004 se inscreveu para o Draft da NBA, mas não foi selecionado por nenhuma franquia.

Baxter está em sua segunda passagem pelo Brasil, mas a primeira foi muito breve. Ele foi contratado pelo Brasília para fazer três partidas da Liga das Américas. Como o time não conseguiu avançar da primeira fase, ele retornou para a Argentina, onde defendeu o Obras Sanitárias. Antes de ser contratado pelo São José para a disputa desta temporada, fez um período de treinos no Peñarol de Mar del Plata (ARG).

“Meu agente recebeu a proposta e passou para mim. Eu achei que seria uma excelente uma oportunidade, uma liga que está evoluindo e se estruturando. Ainda estou tendo de me acostumar porque o basquete aqui é muito mais corrido do que o jogado na Europa, o ritmo é completamente diferente”, disse Baxter, que tem médias de 13 pontos e 4,4 rebotes por partida no NBB.

Em que pesem as várias experiências internacionais, Baxter não domina nenhum outro idioma além do inglês, linga no qual deu a entrevista. Ele apenas arranha algumas palavras em espanhol.

“O basquete tem um idioma mundial, então nunca tive grandes problemas. Aqui no Brasil pensava que mais gente falaria em inglês, mas não estou tendo grandes problemas. O  (Andre) Laws que é americano me ajuda muito aqui em São José, assim como o Caio Torres e o Dedé, que falam bem o inglês”, disse.

Perto do fim da carreira, Baxter espera que nos próximos anos consiga fincar raízes em algum lugar e vê o Brasil como o lugar ideal para isso. Até hoje, não permaneceu em nenhum país por mais de dois anos.

“Vamos ver como as coisas andam, mas gostaria de passar muitos anos no Brasil. Estou gostando do país”, concluiu Baxter, que é solteiro e não tem filhos.

Em tempo, o São José, de Baxter, ocupa a quinta colocação do NBB. São cinco vitórias e três derrotas, um aproveitamento de 62,5%.