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O que mudou (e pode mudar) no basquete nacional após a Globo perder espaço

Karla Torralba*

Do UOL, em Franca (SP)

12/03/2015 06h00

A Rede Globo saiu de cena da parte comercial do basquete masculino brasileiro com a troca da emissora pela NBA. E, diferentemente de antes, a nova gestão já começa a dar frutos para a modalidade, segundo a Liga Nacional de Basquete (LNB).

O diretor institucional da LNB e principal negociador da parceria com a NBA, Kouros Monadjemi, afirmou que a troca era necessária pela falta de apoiadores da modalidade na área comercial.

“Fizemos uma troca: tirar a Globo da parte comercial, só da área comercial, e colocar a NBA nisso. Olha o que já aconteceu. Pela primeira vez na história de um Jogo das Estrelas, nós tivemos patrocínio. De onde vem isso? Trabalho que os caras (NBA) fazem por interesse. Globo nunca fez isso. Disputamos três anos o jogo final do NBB em um jogo. TV aberta, 17 mil pessoas e os caras (Globo) não colocaram uma placa de publicidade. Largaram”, comentou Kouros, que, apesar do desconforto pela emissora não ter conseguido patrocinadores, destaca que a relação do NBB ainda é de muita dependência da Rede Globo.

“Eu jamais vou trocar a Globo. Globo é a melhor parceira. Se eu estou hoje com a NBA é por causa da Globo. Se a NBA fechou com a Globo, é por causa do NBB. Juntos. Estamos trabalhando isso há 5 anos. Não vamos meter o pau na Globo porque não é esse o ponto. A Globo tem muito mais coisas para fazer. Foi uma troca espontânea muito importante. A Globo concordou. Ela tinha que me ajudar: se não me arruma patrocínio, então me dá o dinheiro. E deu. Não tem o que reclamar. A Globo tem BBB, jornal, novela. O basquete está no final da lista dela de buscar patrocínio”, completou.

O diretor da NBA no Brasil, Arnon de Mello, ressalta que a ligação com a Rede Globo é de extrema importância para as ligas norte-americana e brasileira para conseguir mais transmissão de jogos de basquete. “A questão é poder ter exposição na televisão. Isso é importante. Dentro da Globo o produto basquete está crescendo, mas é um espaço pequeno, não tinha um foco tão grande naquilo”, ressaltou o diretor.

A princípio, a diretoria internacional da NBA não entendia bem a questão de apenas uma emissora ter o direito de transmitir os jogos dos torneios de basquete. “O mercado no Brasil de distribuição de mídia é diferente dos Estados Unidos, onde se vende os direitos de exibição para várias emissoras. Nesse sentido foi sempre uma dificuldade para a NBA poder ter uma parceria como a que temos com a Globo aqui. Como lá temos vários parceiros, a ideia é que tivéssemos outros aqui”, explicou Arnon.

A Globo tem contrato de exclusividade para transmissão do NBB até 2018.  Kouros alerta que a relação entre Rede Globo e NBB não mudou por conta da retirada da emissora da parte comercial, mas que precisou ameaçar sobre a possibilidade de tirar o torneio nacional da emissora e assim teve resultado melhor nas negociações.

“A Globo nunca quis parar de televisionar o basquete. Quando eu ameacei fazer isso, eles falaram que queriam o basquete. Ameacei porque eles não estavam trazendo patrocínio para a liga e queriam tudo. Eu disse: ‘como vamos continuar com você se você não me traz patrocínio? Ou me paga ou abandona isso’. E aí falaram de discutir isso, abriram mais, então veio a NBA e eu falei com a Globo”, explicou o diretor da liga nacional.

“A relação não mudou. A Globo nos dá total apoio de transmitir de 68 a 72 jogos por ano. Mas, por outro lado, melhorou a condição de jogo único na final do NBB. Discutimos para que fossem pelo menos dois transmitidos da melhor de três. Pedimos para que o Jogo das Estrelas saísse da grade pela troca pela final do NBB. Eles aceitaram e para nós foi ótimo”, completou. 

Procurada para comentar sobre o assunto, a Rede Globo respondeu por meio de sua assessoria de imprensa que "não faz parte e não se envolveu no acordo comercial entre NBB e NBA". 

As mudanças e promessas após o primeiro torneio com apoio da NBA

A liga brasileira não esconde a satisfação por ter o apoio da NBA. Do outro lado, a NBA, na figura de seus diretores, tentam mostrar cada vez mais na prática o negócio lucrativo que quer fazer no basquete nacional.

1- Patrocinadores:

Foi o primeiro evento oficial da Liga Nacional Brasil após a parceria com a NBA e pela primeira vez os patrocinadores apareceram. Foram cinco apoiadores para o Jogo das Estrelas que aconteceu na última semana, em Franca (SP): Bradesco, Adidas, Tam, Spalding e Stance.

2-Ídolos:

Para despertar o amor e interesse de crianças e torcedores do basquete, a NBA levou Horace Grant para Franca, ex-jogador campeão da NBA quatro vezes, três com o Chicago Bulls e mais uma com os Lakers.

3-Entretenimento:

Acostumada a transformar o jogo de basquete em um grande show, a NBA quer trazer esse ingrediente ao Brasil. As conhecidas dançarinas e mascotes, por exemplo, são algo que a diretoria da liga norte-americana no Brasil quer trazer para o país. “Só não trouxemos já para o Jogo das Estrelas porque está no meio da temporada nos EUA”, contou Arnon de Mello.

4-Intercâmbio:

Mandar times brasileiros aos Estados Unidos para disputar jogos na pré-temporada contra equipes da NBA é uma preocupação. O Flamengo foi aos EUA em outubro de 2014 para três amistosos contra Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies

5-Produtos:

A NBA pretende criar produtos licenciados do Novo Basquete Brasil com até mesmo uma loja oficial. A Spalding deve criar uma bola especial do NBB para a próxima temporada também.

6-Olheiros:

Observadores dos Estados Unidos estiveram em Franca na última semana para saberem um pouco mais de como o Brasil faz seu evento comemorativo de basquete.

*A repórter Karla Torralba viajou a convite do Bradesco