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Como filho de boxeador nigeriano virou próximo projeto do Brasil para a NBA

Michael Uchendu (à esquerda) em ação contra Shilton em treino do Bauru - Victor Lira/Bauru Basket
Michael Uchendu (à esquerda) em ação contra Shilton em treino do Bauru Imagem: Victor Lira/Bauru Basket

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

18/11/2017 04h00

Com apenas 19 anos de idade, Michael Uchendu pode se tornar o próximo projeto brasileiro para a NBA, a liga profissional americana de basquete. Filho de ex-boxeador profissional nigeriano, o pivô de Bauru chama atenção de olheiros dos Estados Unidos e trabalha para crescer no clube do interior paulista.

O UOL Esporte apurou que olheiros da NBA acompanham Michael mais de perto desde a última temporada. Sem rodeios, o pivô admite que jogar na liga americana é uma meta em sua carreira.

"Antes, era sonho. Agora, é meta. Qualquer jogador de basquete quer a NBA, e eu não sou diferente. Acredito que preciso evoluir e trabalho diariamente para isso, para quando chegar a hora certa estar pronto e não deixar passar a chance", disse Michael, ao UOL Esporte.

Em sua segunda carreira como profissional no Bauru, o pivô chama atenção pela força que apresenta para jogar perto da cesta. O próprio jogador admite que este é um dos seus principais pontos fortes.

"Sou um pivô que joga pesado embaixo, jogo de costas, tenho um bom gancho, bom giro e boa movimentação de pernas. Sempre jogo atacando o aro, seja na defesa ou no ataque. É impossível comparar, mas, acho que tento fazer um jogo como o do Shaquille O’Neal. Eu só não tenho a força dele e nem dou as enterradas que ele dava (risos), mas tenho um jogo pesado ali embaixo", comparou, referindo-se ao pivô que foi campeão da NBA por Los Angeles Lakers e Miami Heat.

O interesse de olheiros é apenas o primeiro passo para que Michael um dia alcance sua meta de jogar na NBA. Para melhorar sua cotação junto às franquias da liga profissional americana, o pivô coloca o arremesso como principal fundamento a ser desenvolvido.

"Eu tenho um jogo de poste baixo forte, de gancho, batida e giro. Então, tenho trabalhado muito os tiros de média e de longa distância, além do passe. Mas, principalmente os chutes, pois sei que esse será um atributo a mais de jogo que vai criar outra dificuldade para a defesa que, além de marcar embaixo, terá de me marcar aberto", explicou.

Assim, Michael mostra estar atento às agências modernas da NBA, que exige cada vez mais que seus pivôs saibam arremessar de média e longa distância. Talvez por isso, o jogador diz se espelhar em Blake Griffin, astro do Los Angeles Clippers, e Draymond Green, atual campeão da liga americana pelo Golden State Warriors.

"Os pivôs que admiro são o Blake Griffin, que tem um jogo pesado de frente e costas, e o Draymond Green, com chutes de longe, uma boa marcação e tocos. Gosto deles por jogarem de costas e de frente", afirmou.

Acompanhamento internacional

Michael entrou definitivamente no radar de olheiros da NBA no ano passado, quando registrou médias de 9,4 pontos e 9,2 rebotes em 20 minutos por exibição pela seleção brasileira na Copa América sub-18. O bom desempenho na competição e em Bauru fez com que o pivô fosse convidado para o Adidas Nations, evento que reúne jovens promessas do basquete mundial.

Em Houston, Michael terminou o Adidas Nations com médias de 18 pontos e dez rebotes por partida por uma equipe de promessas da América Latina, chamando ainda mais atenção de olheiros. As boas atuações renderam até mesmo proposta de times colegiais dos Estados Unidos.

"Fui para esses eventos com essa intenção, de mostrar meu trabalho, de me apresentar, e acredito que consegui deixar isso. Foram momentos bons, onde pude apresentar um pouco de tudo que faço diariamente por aqui. Alguns olheiros e técnicos de colégios e vieram sondar. É natural. Hoje, meu foco é todo no Bauru e nos campeonatos que temos a disputar. Sei que, seja qual for o meu futuro, ele depende do que eu fizer agora, no presente. Por isso, mantenho minha cabeça no trabalho diário e nos nossos objetivos como time", declarou.

Além de Michael, mais cinco jogadores brasileiros estiveram no Adidas Nations: Danilo Sena, Gabriel Jaú, João Vitor, Bernardo da Silva e Yago, este último recentemente convocado para a seleção brasileira adulta. De acordo com Vinícius Guimarães, escritor especializado em basquete que cobriu o evento, o pivô de Bauru foi um dos destaques da competição.

"Dos seis brasileiros que foram para Houston, apenas João Vitor, do Flamengo, e Bernardo da Silva, de Wasatch Academy, não tiveram muitos minutos na rotação do time da América Latina. Yago, Danilo Sena, Gabriel Jaú e Uchendu foram titulares e se destacaram. Uchendu e Yago lideraram a equipe e terminaram entre os dez jogadores com melhor média de pontuação do Adidas Nations. Além disso, o pivô de Bauru foi o líder de rebotes do torneio, com dez por jogo. Como não podia deixar de ser, seus atributos físicos e seus instintos de rebote e defesa chamaram a atenção dos americanos que cobriram o evento", relatou, ao UOL Esporte.

Encontrado no shopping

Anos antes de chamar atenção de olheiros da NBA por seu desempenho em quadra, Michael foi encontrado por um brasileiro... enquanto caminhava no shopping. Foi assim que o pivô deu seus primeiros passos na modalidade como jogador do Espéria, em São Paulo.

"Jogo basquete desde os 11 anos e posso dizer que o que me levou a ele foi o destino. Eu nem gostava de basquete. Um dia estava andando no shopping e um técnico do Clube Espéria, o Evandro Fabrício, me viu e veio falar comigo. Me achou com uma estatura boa e pediu meu telefone. Depois, ligou e falou com meu pai. Eles acertaram tudo, comecei a treinar lá dias depois e nunca mais abandonei o basquete", relembrou.

De acordo com Michael, seu pai, que também foi esportista profissional, foi um de seus maiores apoiadores no basquete.

"Me influenciou muito. Ele foi a pessoa que mais me apoiou a jogar basquete. Desde pequeno, ele sempre falava para praticar esportes, desde futebol, vôlei e handebol, além de basquete. Esse contato com outras modalidades também me ajudou a me formar como atleta, deu uma cancha para o basquete", disse o pivô.

Apesar da influência, Michael conta que nunca pensou em seguir os passos do pai nos ringues.

"Nunca pensei em seguir esse caminho. Sempre gostei de esporte, mas, boxe nunca foi minha praia", afirmou.

Hora de decolar?

Em sua temporada de estreia no time profissional, Michael fez parte do elenco que conquistou em 2017 o primeiro NBB da história do Bauru. Se o ambiente vencedor pode ajudar o desenvolvimento do pivô, por outro lado o plantel estrelar dificulta que o jogador tenha lugar cativo na rotação do time. Na campanha, ele disputou 27 jogos, com médias de 1,5 pontos e 1,3 rebotes em 5,2 minutos por exibição.

Agora, em sua segunda campanha pela equipe adulta de Bauru, Michael aposta no entrosamento com o astros para ganhar mais espaço e tentar deslanchar.

"Tenho algumas expectativas. Primeiro, espero estar mais na rotação do time, estou trabalhando para isso todos os dias, buscando meu espaço nos treinos. Apesar de ser um time novo, que mudou desde a última temporada, estou entrosado com a maioria deles, pois já jogamos uns dois ou três anos juntos. Eu já sei o que o Alex, o Shilton e o Rafael Hettsheimeir querem que eu faça em quadra. Individualmente, eu quero evoluir mais, sei que tenho muitas coisas ainda a melhorar no meu jogo e espero que isso aconteça, pois quero ser mais uma arma desse time", afirmou.

Nomes citados por Michael, Alex e Hettsheimeir estão entre os maiores nomes da geração do basquete brasileiro e foram figuras fixas na seleção brasileira nos últimos anos. Segundo o jovem pivô, a liderança dos dois é valiosa em seu desenvolvimento como jogador.

"Ajudou muito nessa minha transição para o adulto. São jogadores com muita bagagem, muita experiência, jogaram e jogam com os melhores do mundo na seleção. Então, é outra cabeça, outro estilo de jogo. Eles sabem basquete. Jogar com eles é sim um diferencial, estou a cada minuto aprendendo, seja em uma batida de bola, em um gancho, até o jeito de se posicionar na quadra, de olhar a quadra. Isso tudo vem agregando ao meu jogo. Tenho aprendido muito com Alex, Hettsheimeir e Shilton, eles gostam de ensinar os mais novos e passar o que já passaram dentro e fora de quadra, mostrando os erros e acertos que tiveram. Isso faz toda diferença", declarou.

Com Michael, o Bauru tem como próximo adversário no NBB o Franca, fora de casa, em jogo que acontece dia 2 de dezembro.