Topo

Como polêmica entre Fiba e Euroliga ajuda o Brasil no basquete

Marcelinho Huertas em ação pela seleção brasileira em jogo contra a Lituânia - AFP
Marcelinho Huertas em ação pela seleção brasileira em jogo contra a Lituânia Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

23/11/2017 04h00

Nesta sexta-feira (24), a seleção brasileira masculina de basquete visita o Chile, em Osorno, pela primeira rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019, que pela primeira vez serão organizadas pela Federação Internacional de Basquete (Fiba) em formato semelhante ao do futebol, com datas espalhadas pelo calendário. A inovação não foi de agrado da Euroliga e criou impasse que pode acabar beneficiando o Brasil.

Desde que a Fiba lançou a Liga dos Campeões, seu próprio torneio continental na Europa, uma queda de braço com a Euroliga foi iniciada, e as Eliminatórias são novo capítulo da disputa. A liga de clubes do Velho Continente, a princípio, não aceitou o novo sistema e não aceitou incluir as datas em seu calendário.

Assim, a nona rodada da Euroliga tem partidas marcadas para esta quinta-feira (23) e para o dia seguinte, o que impossibilita que seus jogadores sejam convocados para as Eliminatórias salvo acordo entre seleção e clube para algum atleta pontual.

O Brasil, que disputa as Eliminatórias das Américas tem apenas um atleta que disputa a Euroliga: o armador Marcelinho Huertas, do Laboral Kutxa Baskonia. Outras seleções dos continentes terão mais dificuldade para montar seu elenco.

É o caso, por exemplo, da Argentina, que tem três jogadores envolvidos na disputa da Euroliga: o armador Facundo Campazzo, o Real Madrid, e o armador Luca Vildoza e o ala Patricio Garino, companheiros de Huertas no Laboral Kutxa Baskonia.

O mesmo pode ser tido a respeito do Canadá, que terá três possíveis convocados jogando a Euroliga: o armador Kevin Pangos, do Zalgiris, o ala Aaron Doornekamp, do Valencia, e o ala-pivô Kyle Wiltjer, do Olympiacos.

Existem mais seleções que perderam opções de convocados para a primeira rodada das Eliminatórias. A República Dominicana não poderá contar com James Feldeine, ala-armador do Estrela Vermelha. O Uruguai não terá o armador Jayson Granger, do Laboral Kutxa Baskonia. Por fim, o México não contará com o pivô Gustavo Ayón, do Real Madrid.

Os Estados Unidos, que têm 60 jogadores em ação na Euroliga, terão de recorrer a outros meios na montagem da seleção.

NBA também não libera

Nenê encara Scola para anotar cesta para o Brasil, contra a Argentina - Jim Young/Reuters - Jim Young/Reuters
Nenê em ação pela seleção brasileira em jogo contra a Argentina
Imagem: Jim Young/Reuters

A comissão técnica da seleção americana normalmente não teria de pensar na Euroliga para montar seu elenco, mas a NBA também não tem paralisações no calendário para atender às Eliminatórias. Com isso, a oferta de jogadores disponíveis diminui ainda mais, o que também afeta o Brasil.

Os pivôs Nenê e Lucas Bebê e Cristiano Felício fazem parte das rotações, respectivamente, de Houston Rockets, Toronto Raptors e Chicago Bulls e dificilmente seriam liberados em caso de convocações da seleção brasileira. No cenário mais otimista possível, o técnico Aleksandar Petrovic pode sonhar em contar com o armador Raulzinho, que só ganhou espaço no Utah Jazz após as lesões de Dante Exum e Joe Johnson, e com o ala Bruno Caboclo, que jogou apenas sete minutos pelo Toronto Raptors nesta temporada.

Tirando os Estados Unidos, o Canadá é quem mais sofre com a restrição de convocados da NBA. O país tem 11 jogadores na NBA: os armadores Dillon Brooks, Tyler Ennis, Cory Joseph, Jamal Murray e Nik Stauskas, os alas Khem Birch, Trey Lyles, Dwight Powell e Andrew Wiggins e os pivôs Kelly Olynyk e Tristan Thompson.

Mais três países das Américas têm jogadores que seriam convocáveis na NBA. A Argentina tem o ala-armador Manu Ginobili, já aposentado da seleção, e o ala Nicolás Brusino. República Dominicana tem o ala Luis Montero e os pivôs Al Horford e Karl-Anthony Towns. Por fim, Porto Rico tem os armadores José Juan Barea e John Holland e o ala Moe Harkless.

Alternativas internacionais

Vitor Benite durante jogo do Brasil contra República Dominicana - Ronaldo Schemidt/AFP - Ronaldo Schemidt/AFP
Vitor Benite em ação pela seleção brasileira contra a República Dominicana
Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Ao contrário da NBA, a D-League, que funciona como uma divisão inferior da liga profissional americana de basquete, vai ceder jogadores para partidas das Eliminatórias. Entre os 12 convocados pelos Estados Unidos para as duas primeiras rodadas, 11 são desta origem, e a lista é completada pelo agente livre Semaj Christon.

O Brasil tem três opções de convocáveis que jogam na D-League: o armador Georginho, do Rio Grande Valley Vipers, o ala Mogi, do Grand Rapids Drive, e o também armador Scott Machado, do South Bay Lakers, que é americano com cidadania brasileira.

Outro caminho é convocar jogadores atuam na Europa em clubes que não participam da Euroliga. A primeira lista do Brasil, por exemplo, teve três jogadores nesta situação: o armador Ricardo Fischer, do Bilbao Basket (ESP), o ala-armador Vitor Benite, do Murcia (EUA), e o pivô Augusto Lima, do Besiktas (TUR) – o último pediu dispensa para resolver problemas pessoais. O também pivô Vitor Faverani, colega de Benite no Murcia, também pode virar opção, assim como o ala Danilo Fuzaro, do Breogán (ESP).

Jonathan Tavernari, do Dinamo Sassari (ITA), Leonardo Demétrio, companheiro de Fuzaro no Brogán, e Felipe dos Anjos, emprestado pelo Real Madrid ao San Pablo Burgos (ESP), são outros exemplos de jogadores brasileiros que atuam na Europa e estão fora da Euroliga.

Os citados Bruno Caboclo, Georginho, Mogi, Scott Machado e Vitor Faverani não foram convocados para as duas primeiras rodadas das Eliminatórias, mas vale lembrar que a lista preliminar da seleção brasileira foi enviada à Fiba antes da contratação de Petrovic ser oficializada. Por isso, há a possibilidade de o técnico realizar alterações para as próximas partidas.

Seleção caseira

Alex Garcia, do Brasil, rouba a bola de Mantas Kalnietis - Eric Gay/AP - Eric Gay/AP
Alex em ação pelo Brasil durante partida contra a Lituânia
Imagem: Eric Gay/AP

Com a restrição na oferta de jogadores que atuam nos Estados Unidos e na Europa, as seleções das Américas terão de recorrer às ligas nacionais na montagem de seus elencos. A notícia é boa, já que o Novo Basquete Brasil exerce domínio continental nos últimos anos.

A Liga das Américas, principal competição de clubes das Américas, teve representantes do NBB campeões entre 2013 e 2015 – Pinheiros, Flamengo e Bauru, respectivamente. O clube do interior paulista ainda foi vice em 2016. Neste ano, brasileiros não puderam participar por conta da suspensão imposta pela Fiba à Confederação Brasileira de Basquete (CBB).

Já a Liga Sul-Americana, segundo maior competição de clubes, teve brasileiros como campeões em suas quatro últimas edições. O Brasília venceu em 2013 e 2015, o Bauru levou em 2014 e o Mogi das Cruzes ficou com o título em 2016.

A seleção brasileira para as duas primeiras rodadas das Eliminatórias terá nove representantes do NBB: os armadores Fulvio, do Vasco, e Yago, do Paulistano, os alas Alex, do Bauru, Jhonatan, do Paulistano, e Leo Meindl e Antonio, do Franca, os alas-pivôs Lucas Dias, do Paulistano, e Rafael Hettsheimeir, do Bauru, e o pivô Lucas Mariano, do Vasco.

O ala Marquinhos, do Flamengo, foi convocado, mas pediu dispensa para resolver problemas pessoais. Antonio foi chamado para o seu lugar.

Na segunda-feira (27), três dias depois de visitar o Chile, o Brasil recebe a Venezuela na Arena Carioca 1 para encerrar sua participação nas primeiras Eliminatórias para a Copa de 2019. O grupo B tem ainda a Colômbia. Os três primeiros colocados de cada chave avançam para a segunda fase.

Depois, as 12 seleções que avançarem para a segunda fase serão divididas em dois grupos de seis. Os três primeiros colocados de cada chave mais o melhor quarto se classificam para a Copa do Mundo.