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Alzheimer faz Eder Jofre reencontrar sua paixão pela pintura

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

10/08/2013 06h00

Eder Jofre fez fama com os punhos: diretos, cruzados e seu infalível gancho de esquerda levaram muitos à lona. Mas o peso da mão para boxear também sempre foi acompanhado por uma paradoxal leveza para desenhar. E a paixão pela arte voltou para o bicampeão mundial de boxe, com o tratamento para tentar retardar os efeitos do mal de Alzheimer. É que desenhar e pintar estão entre as atividades recomendadas pelos médicos.

Curiosamente, um acidente na juventude de Eder fez com que sua vida rumasse para o boxe, em vez de levá-lo para a arquitetura. “Ele sempre desenhou, até porque quando era adolescente fez um curso de desenho arquitetônico. Mas teve um problema na escola, caiu o teto e ele perdeu todo o seu material. Aí acabou priorizando o boxe”, diz o filho Marcel Jofre, rindo em seguida: “Ainda bem que caiu o teto!”.

Eder Jofre foi internado no último mês de julho após uma crise de depressão e, após a realização de exames, foi constatado que ele tem uma condição moderada de Alzheimer, doença degenerativa que no caso de lutadores muitas vezes é ligada à prática do boxe, apesar de não poder ser comprovada a influência da prática do esporte.

“Graças a Deus ele teve alta do hospital, há um pouco mais de uma semana. Está morando com a minha irmã, fazendo acompanhamento médico e tomando as medicações prescritas. O bom é que o quadro de depressão, por causa da morte da minha mãe, foi embora. E agora é tocar a vida”, explica Marcel, relembrando que a companheira de Eder por 53 anos, Cidinha, morreu em maio.

Outras atividades recomendadas ao Galo de Ouro, campeão dos galos e penas nas décadas de 1960 e 1970, são palavras cruzadas, quebra-cabeças e leitura. Mas desenhar é especial para a família do ex-pugilista.

DOCUMENTÁRIO 'EDER JOFRE, O GALO DE OURO', MOSTRA LADO ARTISTA

Eder chegou a ilustrar a biografia “O Galo De Ouro - A Vida De Eder Jofre”, escrita por Henrique Matteucci. Agora, usa a família como inspiração.

“Ele fez um desenho quase perfeito de mim e da minha esposa. No hospital, fiz um desafio para ele desenhar meu filho na hora, e também ficou muito bom”, conta Marcel. “Ele não vinha desenhando, falava que não estava inspirado, mas agora pedimos e ele tem feito, então esse tratamento fez ele reencontrar esse lado da arte.”

Além disso, Eder já retomará as atividades físicas. Apesar de ter 77 anos, ele nunca parou de se exercitar, treinando inclusive elementos da preparação de boxe. O Galo de Ouro já se matriculou em uma academia e retomará a movimentação nas próximas semanas, pulando corda, fazendo seus abdominais e batendo nos tradicionais sacos de pancada.