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Fama ruim de políticos me tirou da mídia, diz Popó, nocauteado nas urnas

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

11/11/2014 06h01

O status de deputado federal conferido ao parlamentar Acelino Freitas, do PRB-BA, não fez bem ao ex-boxeador Popó. A conclusão é dele mesmo, após ser nocauteado nas urnas baianas, há pouco mais de um mês, quando sua campanha para reeleição foi à lona com apenas 23.017 votos. É quase um terço do que conquistara quatro anos antes, quando ingressou na Câmara dos Deputados com 60.338 simpatizantes. Em 31 de janeiro de 2015, ele despede-se do Congresso Nacional.

Pelo menos no discurso, ele tenta não acusar o golpe.

“Vamos voltar a ver o Popó na mídia de novo”, resumiu o atleta, campeão mundial em duas categorias de peso. “Como político, eu não era chamado para nada mais. Em alguns lugares, eu entro pela minha história como atleta, porque se fosse como deputado, não entrava”, afirmou ao pé do ringue de sua academia, em um clube de Brasília.

Coincidência ou não, a agenda de Acelino Popó Freitas fora da Câmara dos Deputados intensificou-se. Além desta entrevista ao UOL Esporte, gravou com Sportv, foi a Belém participar de um evento de sua grife de óculos, assinou contratos de patrocínio em Belo Horizonte já nesta semana, e ainda tem compromissos em Florianópolis nos próximos dias, também a negócios envolvendo seus feitos como atleta.

Como deputado, Popó apresentou 74 projetos de lei. Só em 2014, foram 17. Curiosamente, oito deles foram na sessão do dia 4 de fevereiro. Entre suas proposituras, estão o pedido de regulamentação de modalidades esportivas de luta, a inclusão do estudo da capoeira no conteúdo da educação básica, a criação de uma delegacia especializada em crimes contra pessoa com deficiência, entre outros.

Embora reclame do status de deputado federal, arrecadou R$ 284 mil para a campanha à releição, mas não foi o suficiente. Quatro anos antes, gastara R$ 569 mil para sair-se vitorioso. Na entrevista abaixo, Popó explica porque saiu-se mal nesta eleição e qual motivo o faz ser tão mal visto como deputado federal.

UOL Esporte: Já que você não será mais deputado, o que você vai fazer? Voltar a lutar?
Popó: Não, não. Lutar, não. Estou para virar quarentão [completa 40 em setembro de 2015]. Estou esperando uns convites aí. Fui sondado para ser secretário de esporte de algum Estado.

Está difícil de achar algo para fazer?
Não. Eu sempre vivi de renda, dos meus investimentos, vivo com os aluguéis. Não tenho muita preocupação com cargo, nada disso. Nunca dependi de cargo. As pessoas me chamam para os lugares não é porque sou deputado. Em alguns lugares, eu entro pela minha história como atleta, porque se fosse como deputado, não entrava.

Ser deputado, neste caso, te atrapalhou.
Muitas vezes. Perdi oportunidade de fazer comercial de TV, perdi patrocínio, perdi tanta coisa. Olhe, nem que fosse a cada quinze dias, ou uma vez por mês, eu tinha pelo menos um convite para estar em um programa na TV com transmissão para o Brasil inteiro. Como político, eu não era chamado para nada mais.

Por quê?
Por causa da imagem dos políticos. Você vê esses negócios aí de mensalão, Petrobras, pizza, tudo isso aí conta negativamente. Tudo isso contou para não me convidarem mais para nada. Vou voltar a fazer palestras. Aí tenho proposta para ser comentarista de TV nos Jogos do Rio-2016.

Então, você nunca mais tentará ser deputado?
Não sei. Não vou dizer que desta água nunca mais beberei. Mas se for, não vai ser pela Bahia. A Bahia nunca me ajudou em nada. Eu só ajudei, a minha vida toda, desde que comecei a lutar, ajudei a Bahia, nunca deixei de falar do meu Estado. Mas, politicamente, na Bahia, não dá mais. Se as pessoas, na hora de votar, chegassem na urna e lembrasse de Popó, quatro vezes campeão mundial, o cara dormiu no chão até os 23 anos, tem projeto social, já fez num sei quantos projetos de lei, já ajudou tanta gente, se as pessoas lembrassem disso. Ninguém pensa nisso na hora de votar. Pessoal lembrou da caixa de cerveja, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida [Popó apoiou a candidatura do tucano Aécio Neves à Presidência da República]...

Você está dizendo, então, que o eleitor vende voto.
Com certeza. Olhe bem o que aconteceu comigo. Um rapaz veio me perguntar quanto eu pagava para plotar [adesivar] o carro dele. Eu respondi: “Meu amigo, você veio falar com a pessoa errada, porque eu que estou precisando de dinheiro para a campanha. Aliás, quem deveria me pagar era você, porque eu enviei quase R$ 7 milhões em emenda parlamentar para Salvador. Se você está vendo um asfalto melhor, a saúde da cidade melhorando, tudo isso foi verba minha. Então, você que deveria pagar a mim”. Sabe o que o rapaz me falou? “Ah você é muito difícil, você não é do político que eu gosto”. Pessoal que ia lá no meu comitê de campanha só ia para pedir dinheiro.

O que dá voto então?
O que dá voto é Bolsa Família, é Minha Casa, Minha Vida, é uma uma garrafa de cerveja. A política que eu vim trabalhar aqui foi a do bom deputado, defender o povo. Mas a imprensa é um pouco culpada disso. Porque ela se preocupa mais em meter o pau no político do que mostrar o que a gente faz de bem.