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Com atleta em coma, médico diz que luta deveria ter sido interrompida

Nick Blackwell ficou com o olho bastante inchado após golpes de rival - Reprodução/Internet - Reprodução/Internet
Nick Blackwell ficou com o olho bastante inchado após golpes de rival
Imagem: Reprodução/Internet

Do UOL, em São Paulo

28/03/2016 19h20

O lutador britânico Nick Blackwell, que está em coma induzido em decorrência dos golpes sofridos na disputa contra Chris Eubank Jr, no último sábado (26), não teria sofrido uma lesão tão grave caso a luta tivesse sido interrompida antes.

De acordo com o neurocirurgião Peter Hamlyn, que já operou diversos boxeadores que tiveram lesões cerebrais, incluindo Michael Watson, que quase sofreu morte cerebral após uma luta com Chris Eubank Sr em 1991, o duelo de sábado poderia ter sido interrompido no sétimo round, três rounds a menos do que a luta realmente durou. Blackwell, de 25 anos, foi conduzido ao hospital logo após a luta com um sangramento cerebral decorrente da lesão no olho esquerdo do ex-campeão.

“Ele estava sendo duramente castigado. Ele não aplicou mais do que dois golpes significativos e conscientes em Eubank, mas recebeu dezenas e dezenas em resposta. No sétimo round teria sido completamente legítimo interromper a luta. Eubank estava conectando diversos ganchos e, se você olhar para a cabeça de Blackwell, toda vez que ele levava um desses ganchos, sua cabeça balançava para trás. É a aceleração e a desaceleração que causam dano”, explicou o médico.

O médico ainda avaliou a quantidade de dano que Blackwell estava sofrendo. De acordo com o experiente médico, era evidente que a diferença na quantidade de golpes demonstrava a incapacidade do campeão de seguir no duelo. Até mesmo o pai de Eubank Jr, que é seu treinador, pediu que o filho parasse de golpear o rosto do rival, priorizando golpes no tronco (confira no vídeo no pé da nota, em inglês).

“Se o árbitro não interromper isso, então eu não sei o que te dizer, mas escute isso: um, se ele não parar a luta e nós continuarmos batendo nele desta forma, ele irá ficar machucado; dois, se isso irá para a decisão, por que o árbitro não parou a luta? Eu não entendo. Então, talvez você não deva deixar a luta para os árbitros. Você não irá continuar batendo no rosto dele para nocautea-lo, você irá bater no corpo”, disse o treinador na ocasião.

Após o caso envolvendo Michael Watson, que precisou ficar 40 dias internado em coma, as organizações de boxe estão tentando amenizar os danos sofridos pelos lutadores durante as lutas, tentando interromper os duelos antes que o estrago causado pelos golpes seja muito severo. No entanto, a decisão dos árbitros segue sendo difícil, ainda mais em lutas valendo cinturão.

“Nós precisamos ter um nível maior de avaliação em lutas de título e precisamos interrompe-las mais cedo. Eu sinto muito pelos árbitros. É muito difícil estar lá no ringue sob tanta pressão e tentando tomar decisões instantâneas. Ele é completamente comprometido, um grande entusiasta do esporte. Imagine o que ele está passando hoje. E eu sinto imensamente por Eubank Jr. Falei várias vezes com seu pai após o ‘caso Watson’ e aquilo foi terrível para ele”, salientou Hamlyn.

O secretário-geral da organização que controla o boxe na Inglaterra, Robert Smith, defendeu a decisão do árbitro, Victor Loughlin, de deixar a luta continuar até o ponto em que ela foi interrompida.

“Todo boxeador entra no ringue sabendo os riscos. Nós temos tudo para deixar o local o melhor possível. Mas nós nunca iremos tornar o esporte 100% seguro. Nós fazemos tudo que podemos fazer, nós somos muito rigorosos neste país. Mas esta é a natureza deste esporte”, declarou Smith.