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Livros de Armstrong mantêm interesse no Brasil, mas editora admite "saldão" de estoque

Lance Armstrong falou abertamente de práticas de doping em entrevista a Oprah Winfrey - AFP PHOTO/HARPO STUDIOS/GEORGE BURNS
Lance Armstrong falou abertamente de práticas de doping em entrevista a Oprah Winfrey Imagem: AFP PHOTO/HARPO STUDIOS/GEORGE BURNS

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

22/01/2013 06h00

A entrevista na TV norte-americana na última semana representou o desfecho da novela que ligava Lance Armstrong ao doping, em uma história da qual todos pareciam saber o final, deflagrada meses antes por sanções esportivas de entidades de ciclismo. Mas, mesmo com a confissão pública de que trapaceou, usando substâncias proibidas para melhorar sua performance, o  antigo campeão continua sendo uma marca poderosa e que atrai atenção.

No Brasil, Armstrong tem dois livros publicados pela Editora Gaia, do grupo Global Editora, ambos bem-sucedidos comercialmente. Em contato com o UOL Esporte, a empresa informa que os títulos seguem vendendo em bons níveis de mercado, mesmo com a evolução do escândalo a partir do segundo semestre de 2012.

Apesar disso, a companhia admite que provavelmente deverá queimar o estoque com um "saldão" especial, em razão do impacto negativo do caso, negociando os exemplares a preços bem abaixo do mercado.  

"Os livros não pararam de vender, mas com certeza em longo prazo vamos ter que liquidar os estoques", diz Richard Alves, diretor comercial da Global Editora.

Ao lado, reprodução das capas de dois livros ligados ao ciclista Lance Armstrong lançados no país. Um deles apresenta um programa de treinamento endossado pelo atleta

O principal êxito da editora em um título ligado ao ciclista é "Lance Armstrong – Programa de treinamento", que atingiu a 5ª edição brasileira. Segundo a empresa, a expectativa é que essa obra tenha uma sobrevida um pouco maior, pois se atém à preparação esportiva, sem conexões biográficas com o personagem.

Por sua vez, "A luta de Lance Armstrong" tem três edições pela Editora Gaia, relatando essencialmente a batalha do atleta para vencer um câncer de testículo. Anterior ao escândalo, a obra assinada pelo jornalista norte-americano Daniel Coyle trata o ciclista como um herói do esporte.  

A empresa diz que o sucesso das obras ligadas a Armstrong motivou o conteúdo editorial a procurar estender o catálogo do gênero - a Gaia chegou a publicar livros do tema assinados por autores nacionais.

Em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey exibida na última semana nos Estados Unidos, Armstrong admitiu que suas sete vitórias na Volta da França (de 1999 a 2005) foram conquistadas sob efeito de substâncias proibidas. O atleta também confessou ter sido submetido a transfusões de sangue para melhorar seu desempenho esportivo, prática também considerada ilegal pelos organismos internacionais de doping.  

Em decorrência da confissão, o ciclista deve ser obrigado a devolver a medalha de bronze conquistada na Olimpíada de Sydney em 2000 [prova contra o relógio], além de enfrentar complicações judiciais em seu país.

Armstrong está sendo processado pelo ex-companheiro de equipe Floyd Landis baseado na Lei sobre Falsas Declarações (False Claims Act), conhecida como "Lei Lincoln", que autoriza um cidadão a processar uma pessoa física ou jurídica acusada de ter enganado o Governo Federal [segundo o Wall Street Journal, o governo teria liberado mais de US$ 30 milhões para patrocinar a US Postal].

VENDAS DESPENCAM NO VAREJO

Procurada pela reportagem do UOL Esporte, a Livraria Cultura, uma das grandes redes do setor no país, informou que a venda de títulos ligados a Armstrong despencou 90% entre jan.2012 e jan.2013

SOBRE O ESCÂNDALO

Em outubro do ano passado, a Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada) havia tornado público um relatório no qual acusava a US Postal, antiga equipe de Armstrong, de ter organizado o "mais sofisticado, profissional e bem-sucedido programa de doping que o esporte jamais viu".

Na sequência, a União de Ciclismo Internacional baniu Armstrong do esporte pelo resto da vida e confirmou a cassação dos sete títulos do norte-americano na Volta da França, principal prova de ciclismo de estrada do planeta.

Em desdobramentos imediatos, Armstrong perdeu patrocínio milionário da Nike e ainda contratos polpudos com a cervejaria Anheuser-Busch e com a fabricante de bicicletas Trek.