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Mulheres buscam igualdade salarial no ciclismo mundial, mas UCI resiste

Bryn Lennon/Getty Images
Imagem: Bryn Lennon/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

18/11/2014 06h00

Promover mudanças estruturais e melhorias nas questões trabalhistas para as mulheres que competem profissionalmente foi um dos compromissos de campanha de Brian Cookson na eleição para a presidência da União Ciclística Internacional (UCI). Quatorze meses depois, o cenário é melhor para as atletas, mas elas ainda cobram a instituição de salários mínimos, que seriam pagos pelas equipes profissionais. A entidade, no entanto, analisa que a medida por ser contraprodutiva.

Em entrevista ao jornal The Guardian, Cookson explicou que análise feita por uma comissão de mulheres focadas no assunto indicaram que os efeitos de determinar valores mínimos a serem pagos podem diminuir o número de atletas. Algumas equipes, por exemplo, voltariam ao âmbito amador, onde essas regras não valeriam, e apenas uma restrita elite conseguiria sobreviver do ciclismo sem ter que recorrer a outros empregos.

"Simplesmente colocar uma nova regra (do salário), nesse momento, poderia ser contraprodutivo. Mas isso continua sendo um objetivo importante", afirmou o dirigente. Segundo a consultoria Ernst & Young, os homens que competem no circuito mundial da UCI têm salário mínimo anual de 35 mil euros (R$ 113 mil), sendo que a média em 2012 foi de 265 mil euros (R$ 861 mil). Já segundo o site Cycling News, as principais ciclistas femininas ganham 20 mil euros por ano (R$ 65 mil). Muitas correm de graça.

A questão é mais profunda do que a discussão sobre a igualdade de salários entre homens e mulheres. Ciclismo, como todo esporte profissional, é também negócio, e neste momento não atrai atenção de patrocinadores da mesma forma como ocorre com os homens. Cookson analisa que algumas medidas como dividir as competições em categorias e aumentar o tamanho das provas pode deixar a modalidade mais difícil e, portanto, interessante - atualmente, as mulheres do ciclismo de estrada correm 140 km por etapa, enquanto os homens fazem de 240 km a 280 km.

Atletas como a vice-campeã olímpica Lizzie Armitstead acham inviável medidas como essa justamente porque tantas atletas não se dedicam completamente ao treinamento porque precisam de outros empregos para se sustentar. Ela defende, por exemplo, que equipes que mantenham atletas masculinos criem times femininos também, algo que o presidente da UCI vê como relegar o ciclismo feminino ao papel de coadjuvante.

"É exposição de mídia, é patrocinador. No final do dia, ciclismo é um negócio, então nós temos que poder oferecer algo ao patrocinador. Vai ser difícil, mas é aí que a UCI tem que, talvez, ser um pouco mais dura", pediu Armitstead, em entrevista ao Sky Sports. Segundo ela, "é muito louco" que as mulheres ainda não tenham pelo menos um valor mínimo para receber por serem atletas profissionais.