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O Ministério do Esporte 23 anos depois

O atual ministro do Esporte, Leandro Cruz (esq.), ao lado de Paulo Wanderley, presidente do COB, durante evento para combate do assédio e abuso sexual e moral no esporte - Francisco Medeiros/ Ministério do Esporte
O atual ministro do Esporte, Leandro Cruz (esq.), ao lado de Paulo Wanderley, presidente do COB, durante evento para combate do assédio e abuso sexual e moral no esporte Imagem: Francisco Medeiros/ Ministério do Esporte
José Cruz

27/12/2018 04h00

Este artigo, que sintetiza os 23 anos do Ministério do Esporte, ajudará a melhor entender sobre os rumos do setor a partir de 1º de Janeiro próximo.

O primeiro ministro, Edson Arantes do Nascimento, durou até 1998. Deixou como legado a "Lei Pelé", um aperfeiçoamento da Lei Zico, o ex-craque que foi secretário de governo do então presidente Collor de Mello. 

O economista, engenheiro e urbanista Rafael Greca, hoje prefeito de Curitiba, foi o segundo ministro. Ficou menos de dois anos no cargo. Em seu lugar entrou o produtor de café e deputado mineiro Carlos Melles. Imaginem: depois de um engenheiro e urbanista, tivemos um produtor de café para dirigir o esporte brasileiro!!!

A era FHC foi encerrada com Caio Carvalho, professor da Fundação Getúlio Vargas, que tentou conjugar esporte e turismo. Mas esses temas não eram prioridades do governo.

Em 2003, começou a Era PT, com o médico Agnelo Queiroz no comando da pasta. Entenderam a sequência? Engenheiro, cafeicultor e médico dirigiram o esporte... E tem mais!

Como deputado federal, Agnelo criou a lei que repassa verbas das loterias para o esporte. No seu mandato, o presidente Lula assinou o Estatuto de Defesa do Torcedor, uma bela peça de museu. Em 2006, Agnelo saiu para se candidatar ao Senado. Perdeu. Quatro anos depois, elegeu-se governador do Distrito Federal. Denunciado por corrupção, responde a vários processos. 

O segundo ministro da Era PT foi Orlando Silva, um ex-presidente da União Nacional dos Estudantes. Usou o Ministério como trampolim para se eleger deputado federal. Orlando afastou da pasta a maior parte dos "companheiros" petistas e tornou o órgão reduto de amigos do PCdoB. Ele ignorou todas as denúncias, do TCU, inclusive, sobre corrupção na pasta que dirigia. Em outubro de 2011, foi demitido pela então presidente Dilma Rousseff, acusado de corrupção, em processo que ainda tramita na Justiça. 

Pela ordem, seguiram-se os ministros Aldo Rebelo, que preparou o país para a Copa do Mundo e Jogos Rio 2016; o deputado federal George Hilton, um pastor da Igreja Universal, que na posse declarou não entender de esporte, mas "de gente" ; Ricardo Leyser, que desde Orlando Silva era o secretário-executivo do Ministério. Já no governo de Michel Temer, assumiram o deputado federal Leonardo Picciani e o atual, Leandro Cruz Froes (não é meu parente), que também não entendem nada do assunto.

De positivo nesse tempo ficaram duas leis: a Bolsa Atleta e a de Incentivo ao Esporte. Sem fiscalização adequada, esses programas contribuíram para desvios de verbas públicas. 

Pelo perfil desses "especialistas" em esporte - médico, urbanista, cafeicultor, pastor evangélico etc - não há dúvidas de que foram treze anos de desperdício. A falta de diálogo e intercâmbio com os ministérios da Educação e Saúde foi total.

Uma iniciativa importante desperdiçada foi o "Atleta na Escola", que consistia na prática de atletismo por estudantes entre 12 e 17 anos. Em 2015, quando o programa entraria no seu terceiro ano, o governo cortou a verba de R$ 70 milhões anuais e frustrou três milhões de estudantes. Para que se tenha ideia da estupidez dessa decisão, esse R$ 70 milhões correspondiam aos gastos de apenas dois dias e meio de atividades do Congresso Nacional. 

Nesse panorama, se já não havia disposição do governo Bolsonaro de manter o Ministério do Esporte, as excelências que por lá transitaram não demonstraram a importância da pasta como instrumento de fortalecimento do setor, quer como atividade complementar da educação, de apoio à saúde e qualidade de vida ou de incentivo ao alto rendimento. Isso sem falar na significativa participação da indústria do esporte no PIB, como comentaremos adiante. 

Feliz 2019 para todos. 

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