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José Cruz: A decadência do esporte foi prevista em 2016 pelo TCU

O "Relatório Sistêmico de Fiscalização Deporto e Lazer" publicado pelo TCU - José Cruz
O "Relatório Sistêmico de Fiscalização Deporto e Lazer" publicado pelo TCU Imagem: José Cruz
José Cruz

02/05/2019 12h00

O "Relatório Sistêmico de Fiscalização Deporto e Lazer", elaborado em 2016 pelo Tribunal de Contas da União, é um documento precioso na rara literatura sobre a fragilidade do esporte nacional.

Trata-se de um diagnóstico dos gastos do Ministério do Esporte entre 2013 e 2015 com "Esporte e Lazer", que também revela onde estavam os furos da corrupção continuada. Está no relatório:

"Foi observado reduzido nível de transparência das informações pertinentes à gestão de recursos pelas entidades do Sistema Nacional do Desporto".

É a extensão do que escrevi em fevereiro, sobre uma auditoria do Tribunal, mostrando outros desmandos.

Este novo documento mostra informações e gráficos que escancaram a fragilidade do nosso sistema esportivo, a começar pela ausência de uma Política Nacional do Esporte. Tal política é fundamental para que a Secretaria de Esporte do Ministério da Cidadania tente dar rumo ao setor. Mas estará o Capitão disposto a isso? As medidas adotadas até agora indicam, tristemente, que não.

Se assim for, o governo repetirá a omissão de outros, principalmente dos sete desastrados ministros que passaram pela extinta pasta. Eles nunca analisaram ou discutiram os relatórios do TCU, sempre valiosos em alertas e sugestões.

Foram sete "excelências" ministeriais em 15 anos -- média de dois anos e pouco para cada -- cujos nomes devemos lembrar para que os seus desprezos pela causa não fiquem no esquecimento. Eles também são responsáveis pela decadência de agora.

Vamos lá: Agnelo Queiroz (que já esteve preso e responde a processo por corrupção), Orlando Silva (que foi demitido pela então presidente Dilma Rouseff), Aldo Rebelo (que entrou para "salvar" as obras da Copa do Mundo), George Hilton (pastor "especialista em gente"!) Ricardo Leyser (fechou os olhos à corrupção), Leonardo Picciani (agropecuarista!), e Leonardo Cruz Fróes da Silva (não é meu parente; entrou para apagar a luz).

Nessa rotina de sucessões de ministros, o ciclo olímpico transformou-se em ciclo vicioso. Hoje, dirigentes respondem à Justiça por desmandos com verbas públicas.

A corrupção -- ainda não totalmente apurada -- foi real; continuam as disputas desportiva-política-religiosa por cargos na ainda capenga Secretaria de Esporte; e há cortes de todo tipo nas verbas públicas.

Nos tempos dourados, o esporte de alto rendimento aplicou R$ 7,7 bilhões, entre 2010 e 2014, segundo o TCU. Pouco antes, vamos encontrar valores bilionários também na preparação do Brasil aos Jogos Pan-Americanos de 2007.

Enquanto isso ocorria, o relatório do TCU de 2016 registrava "os principais riscos" que ajudam a entender o desperdício de então e repercutem o grave momento de agora. Veja:

  1. Risco de malversação de recursos públicos destinados ao esporte de rendimento, em razão da fragilidade da aplicação deses recursos; e
  2. Risco de que os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos 2016, inclusive a meta de controles sobre posicionar-se entre os deze primeiros países (ficamos em 13º) não sejam sustentáveis para o período pós-2016 (grifo meu).

As origens da atual crise no setor estão bem documentadas, pois não?

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