Estima-se que 440 mil prostitutas oferecerão seus serviços durante a Copa, sendo que mais ou menos 40 mil delas serão destacadas para a atividade exclusivamente em razão da demanda do evento. Em Berlim, maior bordel de luxo da Europa aguarda mês de muita atividade
Imagine um país que, por algum tempo, esteja repleto de visitantes cheio de entusiasmo. Muitos serão jovens, outros não, mas todos com certa quantidade de dinheiro para gastar no bolso, e a maioria bem distante de suas casas (e mulheres). Em muitos lugares do mundo, esse quadro de concentração masculina em massa se configura ideal para a proliferação da indústria do sexo.
A Copa do Mundo, que tomará a Alemanha em junho e no começo de julho, certamente revolucionará o mercado da prostituição local, pois se encaixa com perfeição na descrição acima. A indicação de que isso deve acontecer parte dos governantes europeus, que chegaram discutir o tema oficialmente. Em janeiro, o parlamento da UE (União Européia) elaborou um estudo pedindo a adoção de medidas para prevenir exageros na indústria do sexo durante o evento.
Para evitar a prostituição desmedida, o congresso da UE chegou a discutir a possibilidade de se exigir visto de entrada de países de terceiro mundo, especialmente os latino-americanos, durante a Copa. A proposta, no entanto, acabou vetada.
Tudo indica que há pouco a se fazer para conter o crescimento do mercado do sexo na Alemanha durante a Copa. Um levantamento no país estima que cerca de 440 mil prostitutas devem oferecer seus serviços aos torcedores que acompanharão o Mundial, sendo que mais ou menos 40 mil delas serão destacadas para a atividade exclusivamente em razão da demanda da competição.
A prostituição se tornou uma profissão como outra qualquer na Alemanha em 2001, quando o então chanceler Gerhard Schröeder aprovou uma lei legitimando a atividade das "trabalhadoras do sexo". Desde então, essas profissionais contribuem com as finanças do país, pagando impostos como qualquer outro cidadão alemão.
Principalmente na capital Berlim, vai ser difícil desassociar a prostituição da Copa. Bem perto do palco da final do Mundial, apenas a três paradas de trem do estádio Olímpico, se localiza o maior bordel de luxo do continente europeu. Inaugurado no final do ano passado, o Artemis, construção de três andares que custou 6,5 milhões de euros, abriga 50 prostitutas e pode receber numa mesma noite até 150 clientes.
"Mas esses números vão crescer muito para a Copa do Mundo. Devemos ter pelo menos 100 garotas trabalhando e esperamos 300 clientes por dia", afirma Reiko Optiz, gerente da Artemis, que descreve a casa como uma opção de classe para a prostituição de rua.
No interior da casa trabalha quase uma "Nações Unidas" de prostitutas, com garotas de várias partes do mundo. "Temos uma brasileira e uma peruana. Enfim, mulheres de muitos países, até do Afeganistão. Não faltará opção para os torcedores da Copa", relata o gerente do bordel de Berlim.
A expectativa que a Copa traga lucro para o mercado do sexo é compartilhada pelas garotas do Artemis. "Pessoalmente, espero trabalhar bastante. Esperamos muitos brasileiros para a Copa. Acho até que vou torcer para o Brasil", diz Sandy, garota alemã de 23 anos que trocou Colônia para tentar a vida na capital Berlim.
Além da grande decisão da Copa, outras cinco partidas serão realizadas em Berlim, incluindo a primeira partida do Brasil no Mundial, contra a Croácia, no dia 13 de junho.
Além do entusiasmo físico, o torcedor que quiser freqüentar o Artemis durante a Copa deverá ter como pré-requisito a carteira cheia. Apenas para entrar no bordel, são necessários 70 euros. No estabelecimento, o cliente ainda precisa negociar pessoalmente com as trabalhadoras locais para combinar uma sessão, que pode custar até 120 euros.
Artemis, bordel de luxo na capital Berlim
Mas o furor do mercado da prostituição durante a Copa na Alemanha não se restringe a Berlim. Colônia, por exemplo, também espera o negócio do sexo aquecido durante o Mundial. Numa medida inovadora entre as sedes da competição, a prefeitura local resolveu construir um complexo de cabines individuais no subúrbio da cidade, onde as mulheres podem atender seus clientes longe das vistas do resto da população.
Aflita com o provável aumento do mercado do sexo na Alemanha durante a Copa, uma associação familiar do país começou campanha contra a banalização da prostituição. Líderes do movimento escreveram cartas a cada jogador da seleção local, pedindo adesão na luta. Apenas o goleiro reserva Jens Lehmann se comprometeu a ajudar. Por essa razão, o jogador, que por ora vai perdendo a briga pela titularidade contra o veterano Oliver Kahn, virou o "queridinho" das senhoras alemãs.
Em resposta, uma organização de assessoria a prostitutas também demonstrou que consegue ter ações politizadas. Durante a Copa, a militância das "trabalhadoras do sexo" divulgará uma cartilha de bom comportamento aos clientes, oferecendo uma série de orientações, desde como preservar a higiene, passando pela necessidade do uso da camisinha, até como se dirigir com respeito às meretrizes alemãs.
Os cartolas do país envolvidos com o Mundial acordaram tarde para o assunto. Recentemente, Theo Zwanziger, presidente da DFB (sigla para Federação Alemã de Futebol), admitiu que a entidade subestimou o tema durante o planejamento e organização da Copa.
A declaração do dirigente foi proferida durante evento do Conselho Nacional da Mulher Alemã, que lançou campanha de conscientização a prostitutas. A iniciativa se concentra principalmente em orientar mulheres para agir em casos de agressão.
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