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Polêmica olímpica que envolveu ataque com bastão e prisões completa 20 anos

Do UOL, em São Paulo

07/01/2014 06h00

Daqui a exatamente um mês, no dia 7 de fevereiro, terão início as Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia. Porém, dificilmente o evento terá um fato mais polêmico do que o que completa exatos 20 anos nesta terça-feira: o famoso ataque de bastão a Nancy Kerrigan, patinadora no gelo norte-americana e favorita a medalha olímpica em Lillehammer-1994, na Noruega, por mando de sua principal rival no país, Tonya Harding.

A história, que termina com Kerrigan levando a medalha de prata nos Jogos de Inverno, começou no dia 6 de janeiro, quando ela teve seu joelho acertado por um homem com um bastão enquanto saía de um treino pré-seletiva americana para os Jogos, que ocorreriam no dia 7. 

Enquanto as câmeras flagravam Kerrigan chorando após o ataque, um homem era visto pulando através de uma porta de vidro. Dias depois, ele seria preso, junto a outros quatro homens que assumiram o plano de ataque - Jeff Gilooly, ex-marido de Harding, incluso.

O caso que mobilizou os EUA era, então, decidido: em meio à rivalidade e à briga por uma vaga no time olímpico americano, uma atleta havia mandado um homem agredir sua principal rival. A mandante Harding, porém, nunca foi presa - por este caso. Anos depois, seria presa por agredir um namorado.

  • No vídeo, é possível ver Kerrigan instantes antes e instantes depois de ser atacada.

Porém, o que levou Kerrigan a ser atacada? A principal explicação usada nos EUA até hoje é a falta de limites de um atleta na busca pela glória. Kerrigan já havia sido bronze nos Jogos de Albertville, em 1992. Harding, porém, havia atingido seu auge em 1991, quando realizou uma manobra inédita na patinação, mas três anos depois já não era uma das favoritas. Correndo risco, então, de perder uma das duas vagas dos EUA para a competição, armou a história do ataque.

Com o joelho lesionado, restou a Kerrigan torcer para uma recuperação milagrosa, já que os Jogos teriam início em um mês. Enquanto isso, Harding levou a seletiva americana, garantindo uma das vagas dos EUA.

No mês que separou a seletiva dos Jogos, o esquema que envolvia o ex-marido de Harding, um homem contratado para agredir Kerrigan e outros dois comparsas que ajudaram no plano e na fuga foi desvendado, com ajuda de uma mulher que encontrou, em uma lixeira, um cheque da Federação Americana de Patinação endereçado a Harding, além de papéis com os nomes de seu ex-marido e dos outros homens.

Apesar disso, Harding não assumiu que fazia parte do plano, e relutou antes de revelar que sabia o que ocorreria com a rival. Quando isso foi descoberto, o Comitê Ol[ímpicos dos EUA anunciou que realizaria uma reunião para decidir se ela iria ou não aos Jogos. Porém, ameaçados de processo pela patinadora, abandonaram a ideia e confirmaram que ela iria - e que sua companheira não seria a segunda colocada nas seletivas, e sim Kerrigan, recuperada da lesão.

  • Nos treinos em Lillehammer, Noruega, palco dos Jogos, elas não se falaram.

De volta aos rinques de patinação, Kerrigan seguia como uma das favoritas, enquanto Harding dificilmente teria chance de brigar. Elas treinavam juntas, mas não se falavam. 

No dia da primeira parte da competição, uma quarta-feira, as expectativas se confirmaram. Kerrigan seguiu na briga pelo ouro, enquanto a rival que quase tirou suas chances de competir ficou apenas em 10°.

Dois dias depois, na decisão, outra parte importante da história, e que deu mais razões a todos acreditarem que o ataque aos joelhos de Nancy era mandado: uma câmera esquecida por uma rede de televisão americana flagrou Harding "enrolando" ao máximo antes de entrar para sua prova, como se não quisesse participar.

Já dentro do rinque, ela abandonou a prova no meio, chorando, e pediu para os árbitros para realizar a prova depois, justificando que seus patins estavam soltos. Liberada, ela voltou À pista e não passou do 8° lugar.

A rotina de Kerrigan, por sua vez, foi perfeita. Ou quase isso. Ela acabaria perdendo o ouro para a ucraniana Oksana Baiul, o que causou polêmica. Não por duvidarem que a europeia havia ido tão bem quanto a americana, mas porque os especialistas na modalidade consideraram difícil julgar qual das duas havia sido melhor.

De volta dos Jogos, a agredida com a prata, a agressora sem medalha, ambas abandonaram a patinação profissional.

Kerrigan, casada e com três filhos, se recusa a dar entrevistas, lamentando o fato de ser mais lembrada como a atleta que foi agredida com um bastão do que a atleta que foi duas vezes medalhista olímpica.

Harding, por sua vez, seguiu polêmica. Julgada culpada por conspiração no caso, escapou de ir para a cadeia. Porém, anos depois, foi detida por jogar um calota de pneu em um namorado. Tentou ser boxeadora profissional e cantora. Não se recusa a dar entrevistas, mas fala apenas se for paga para isso.

  • Tonya Harding é atingida durante combate de boxe.

Elas nunca mais se falaram após o caso . Os homens presos, ao saírem da prisão, mudaram oficialmente de nomes. Harding se casou em 2010 e tem um filho, além de ter produzido mais uma polêmica: apareceu em uma "sex tape".