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Lembra da Minardi da F-1? O bobsled do Brasil se define assim na Olimpíada

Equipe brasileira de bobsled posa junto com o trenó que será usado nas competições em Sochi - Divulgação/Confederação Brasileira de Desportos no Gelo
Equipe brasileira de bobsled posa junto com o trenó que será usado nas competições em Sochi Imagem: Divulgação/Confederação Brasileira de Desportos no Gelo

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

02/02/2014 06h00

Os brasileiros voltam a descer uma pista olímpica de bobsled neste mês em Sochi, após a ausência nos Jogos de Vancouver em 2010. O retorno olímpico acontece através de muito sacrifício e a bordo de um trenó usado, o principal deles comprado junto ao time de Mônaco. Um material que não se compara à tecnologia de ponta dos favoritos da prova. Mesmo assim, o sonho é voltar da Rússia com o melhor resultado da história do país.

Em entrevista ao UOL Esporte, o piloto da equipe brasileira, Edson Bindilatti, explica a diferença técnica para os favoritos com uma analogia direta com uma escuderia modesta que passou pela Fórmula 1.

"Dá para dizer que a gente é a Minardi dos trenós. Se os outros são tipo um carro 2.0, a gente é um 'milzinho'. Nossa matéria prima está bem abaixo. Os melhores são a Ferrari", afirmou.

Mas se os brasileiros reaparecem nos Jogos em condições mais modestas, a pista olímpica de Sochi verá nas próximas semanas um desfile de tecnologia de ponta. Na disputa de dois homens, por exemplo, a equipe dos Estados Unidos terá à disposição um trenó tido como revolucionário, desenvolvido pela montadora alemã BMW (mais estreito, de fibra de carbono). Tudo para tentar reconduzir os norte-americanos ao pódio depois de 62 anos.

Já os brasileiros estão na disputa de quatro homens, a mesma em que disputaram duas edições, Salt Lake City-2002 e Turim-2006. A equipe foi formada há apenas um ano e hoje conta com três trenós comprados de times de Mônaco e Suíça, "por cerca de US 40 mil", segundo Bindilatti.

"Para você ir a um fabricante de trenó e encomendar um demanda planejamento de 18 meses. Não tivemos isso, não sabíamos se estaríamos nos Jogos. Tivemos a possibilidade de comprar um trenó existente no mercado, competitivo, dentro da nossa verba para comprar. Dentro do mercado, o preço era acessível, e o trenó competitivo. Compramos em Mônaco, tinha sido do time deles da Copa do Mundo, estava em perfeitas condições, e dentro do nosso orçamento. Não tínhamos condições de ter um ótimo, mas um bom. Quem sabe possamos ter um ótimo no próximo ciclo", reforça Emílio Strapasson, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo.

O time nacional compete com a meta de terminar entre os 20 melhores da Olimpíada. Em 2002, os brasileiros ficaram na 27ª colocação. Quatro anos mais tarde, conseguiram um 25º lugar.

"Para empurrar o trenó estamos próximos dos melhores, mas o nosso trenó está bem abaixo do resto. É muito difícil disputar uma medalha. Mas a gente espera ficar entre os 20 melhores e descer (a pista) quatro vezes. Só os 20 melhores descem quatro vezes, quem não consegue desce três", diz o piloto brasileiro.

Além de Bindilatti, a equipe que vai à Rússia conta com Edson Ricardo Martins, Fábio Gonçalves Silva e Ordilei Carlos Pessoni como titulares. O quarteto tem a orientação do técnico Cristiano Paes.

A equipe brasileira encarou uma longa maratona de treinos e competições de três meses, até a confirmação da classificação em meados de janeiro. Neste período, os integrantes deixaram família e empregos para trás em nome do sonho olímpico.

"Tivemos de deixar a família. Foram três meses longe dos familiares. Deixamos os nossos empregos também, tudo por amor ao esporte. Minha noiva ajudou bastante neste período a segurar as coisas. Todo mundo tinha esse objetivo de disputar a vaga", relata Bindilatti.

Longe das pistas, Bindilatti atua como técnico de atletismo e personal trainner. Antes do bobsled, foi atleta do decatlo. Esta será a terceira Olimpíada do piloto, que esteve em edições anteriores em papéis diferentes: Salt Lake City (2002) como pusher e Turim (2006) como breakman.

EQUIPE TROCA APELIDO: AGORA SOMOS "GELO TROPICAL"

Durante o empenho de classificação para Sochi, a equipe de bobsled promoveu através do Facebook uma campanha para batizar o time. O apelido de "Gelo Tropical" acabou escolhido, deixando para trás a alcunha de "Bananas Congeladas", considerada jocosa por parte da comunidade do esporte.

"Acabamos escolhendo o nome 'Gelo Tropical', por causa das nossas belezas naturais, dos animais bonitos. A gente quer mostrar isso também. Acho que é um nome bem bacana, Tropical Ice. Bem fácil de entender em inglês e em português", argumenta o piloto da equipe de quatro homens.

"(Bananas Congeladas) tem esse lado pejorativo lá fora. Mas a gente quer mostrar uma nova cara da confederação. É um trabalho sério, focado. A gente quer trazer o publico para a gente também", conclui Bindilatti.

As disputas do bobsled masculino de quatro homens acontecem a partir do dia 22 de fevereiro. O Brasil também conseguiu classificar representantes para a disputa feminina, em vaga inédita, com Fabiana dos Santos e Sally Mayara.