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Você temeria ir à Olimpíada mais perigosa de todas? Esses brasileiros, não

Oficiais fazem a segurança em um dos locais oficiais de competição dos Jogos de Sochi, na Rússia - REUTERS/Alexander Demianchuk
Oficiais fazem a segurança em um dos locais oficiais de competição dos Jogos de Sochi, na Rússia Imagem: REUTERS/Alexander Demianchuk

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

06/02/2014 06h00

Um ex-alto diretor da CIA, a agência de inteligência do governo americano, declarou nos últimos dias que enxerga Sochi como a Olimpíada "mais perigosa" da história. Segundo a imprensa russa, estima-se que existam quase 30 homens de segurança para cada atleta do evento, em um número que pode sugerir certo exagero. Mas mesmo com a operação recorde, ou então por causa dela, a atmosfera de medo do terror estará em cada pedaço da sede dos Jogos de Inverno de 2014.

Desde o colapso da União Soviética, há duas décadas, foram registados mais de 1800 ataques terroristas na Rússia, a maioria na conturbada região das repúblicas federadas do Cáucaso do Norte (como Tchetchênia e Daguestão). Uma área predominantemente muçulmana e que tem o território reivindicado pelo grupo radical islâmico "Emirado do Cáucaso".

Sochi também integra a região, numa faixa de terra mais tranquila em relação aos vizinhos. A cidade é um balneário localizado entre o Mar Negro e as montanhas do Cáucaso, próximo a regiões que abrigam estes grupos separatistas. Nos últimos dias de dezembro, extremistas islâmicos da região promoveram dois ataques em questão de horas, que mataram 34 pessoas em Volgogrado, a cerca de 400 km da sede olímpica. Um aviso escancarado para o governo de Vladimir Putin.

Dias depois, em Sochi, um shopping precisou ser evacuado às pressas após uma ameaça falsa de bomba. Em seguida, um grupo extremista divulgou um vídeo com promessas de abalar os Jogos. De quebra, os comitês olímpicos de Eslovênia, Hungria, Itália e Alemanha anunciaram que receberam cartas ou e-mails com ameaças de ataques, em textos escritos em inglês e em russo.

Apesar deste clima de tensão no ar, já antes da abertura, os atletas brasileiros que viajam para os Jogos Olímpicos preferem confiar na operação de segurança russa e dizem que o temor precisa ficar em segundo plano.

"Não me preocupa, não me deixa ansioso, até porque é algo que não é controlável por mim. É uma questão para o governo russo e o comitê organizador. A segurança foi planejada através de eventos-teste anos anteriores. Em Vancouver (2010) já foi grande o esquema para entrar em todos os locais. A gente fica chateado, é algo que vai contra a celebração dos valores tradicionais da Olimpíada, de igualdade, amizade", diz Leandro Ribela, atleta do cross country. 

"A minha ansiedade e a vontade de estar lá são muito maiores do que o medo. Eu vivo em Washington DC (capital dos EUA), e as ameaças aqui são constantes, não posso deixar de viver a minha por causa disto. Treino, vou à escola, vou ao cinema eu tenho que continuar a levar a vida do jeito que ela é. Tenho plena confiança nas autoridades russas e no sistema de segurança que eles vão fornecer para os atletas", afirma Isadora Williams, brasileira da patinação artística.

ANTIGA KGB RESPONDE POR OPERAÇÃO DE SEGURANÇA

Uma operação nunca vista em eventos esportivos já está em vigor em Sochi para a realização dos Jogos de Inverno. Estima-se que até 100 mil homens estejam destacados para o trabalho de prevenção, em um esquema que custará US$ 3 bilhões aos organizadores russos.

Para efeito de comparação, 40 mil homens trabalharam na segurança dos Jogos de Londres, em 2012, em outro evento cuja ameaça do terror pautou o planejamento.

A coordenação da operação em Sochi está a cargo do Serviço Federal de Segurança [a antiga KGB, agência de segurança da extinta União Soviética]. O esquema prevê embarcações militares e submarinos na costa, além de aviões de guerra e drones (não-tripulados) na vigilância do espaço aéreo.

A entrada na cidade de 170 km² será restrita aos 350 mil habitantes, além de atletas e jornalistas credenciados. A organização espera cerca de 215 mil visitantes para os Jogos, sendo 75% deles russos. Além dos ingressos, o torcedor precisará de uma espécie de "passaporte de espectador" para circular nos locais de competição, com dados controlados pelo ministério do Interior.