Topo

Ele trocou uma ilha tropical pelo gelo e orgulhou a princesa de Tonga

Bruno Banani, de Tonga, desliza sobre a pista olímpica de luge dos Jogos Olímpicos de Inverno - LIONEL BONAVENTURE / AFP
Bruno Banani, de Tonga, desliza sobre a pista olímpica de luge dos Jogos Olímpicos de Inverno Imagem: LIONEL BONAVENTURE / AFP

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

08/02/2014 14h25

Tonga é uma ilha minúscula localizada na Polinésia, um verdadeiro paraíso tropical de mar azul claro e paisagem de cair o queixo. Neste sábado, a pequena nação de pouco mais de 100 mil habitantes festejou uma façanha improvável. Filho de um fazendeiro de mandioca e financiado pela família real, Bruno Bonani se tornou o primeiro atleta olímpico da história de seu país.

O atleta de 27 anos estreou na disputa do luge, um esporte perigoso em que se desce uma enorme pista de gelo, em alta velocidade, deitado de costas em um trenó. Bonani veio aos Jogos de Sochi sabendo que ficaria entre os últimos, mas pronto para comemorar sua façanha pessoal.

"É incrível, uma mistura de sentimentos. Tive um pouco de medo, mas estava muito focado na descida", afirmou Bruno sobre a sensação da estreia olímpica.

"As pessoas falam no meu país que eu sou maluco. Recebi muitas mensagens depois da cerimônia de abertura", emendou o atleta de Tonga.

Neste sábado Bruno competiu apoiado pela porta-voz da família real de Tonga, que ajuda a bancar sua aventura gelada. Tudo começou em um sonho da princesa Salote Mafile'o Pilolevu Tuita, que queria que o país tivesse um atleta nos Jogos de Inverno.

"Ele saiu do nada e agora é tudo. É uma celebridade no país”, disse Leafa Wawryk, excêntrica representante do sangue azul tonganês, que gritou tanto na descida até ser focalizada pela transmissão oficial de TV. “A princesa falou com ele, disse para o Bruno apenas uma coisa: seja você mesmo", acrescentou a porta-voz.

Banani fez o tempo de 1min47s293 no tempo somado de suas duas descidas na pista de luge de Sochi, parcialmente na 33ª colocação.

Após a descida, o tonganês relatou que já se machucou diversas vezes, inclusive com um desmaio em pista. No entanto, Banani diz que espera evoluir e competir por mais 11 ou 15 anos, até chegar ao top 8 do luge mundial.

CARREIRA MARCADA POR FARSA DE MARKETING PARA VENDER CUECAS

Mesmo insignificante na batalha pelo ouro olímpico, Banani já chegou à Olimpíada de Sochi com notoriedade em torno de sua história. Tudo em razão de uma farsa a respeito de seu nome, criticada inclusive pelo Comitê Olímpico Internacional.

Estudante de Tecnologia da Informação e ex-jogador de rúgbi, o aspirante foi aprovado numa seleção de atletas em seu país, vencendo 19 concorrentes. Na época, abordado por uma agência de marketing baseada nos EUA, trocou seu nome de Fuahea Semi para Bruno Banani, alcunha que também batiza uma marca de roupas da Alemanha.

A ideia era que Semi conseguisse o patrocínio da marca alemã, famosa por suas cuecas, em razão do que era para ser uma "incrível coincidência" de nomes. Até o governo de Tonga entrou na história para emitir um passaporte com o batismo novo do atleta – com participação da princesa Salote Mafile'o Pilolevu Tuita.

Então, o filho de plantador de mandioca deixou a ilha de 106 mil habitantes para treinar na Alemanha. Lá conseguiu virar garoto-propaganda da Bruno Banani em uma publicidade de cuecas e apoio para treinar com a equipe de luge alemã, considerada a melhor do planeta.  

A farsa de Tonga caiu com uma investigação promovida pelo jornal alemão Der Spiegel. Na oportunidade, o presidente do COI, Thomas Bach, disse que o episódio se tratava de "uma perversa ideia de marketing, de mau gosto". Mesmo assim, o dirigente alemão declarou que a entidade que preside não pode fazer nada se o passaporte do atleta apontasse o nome de Bruno Banani.

Sobre a polêmica, Bruno foi lacônico após estrear como atleta olímpico neste sábado: "não foi minha decisão mudar de nome".