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Lais usa queixo e braço para mover cadeiras de rodas no hospital

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

06/03/2014 06h00

A recuperação é longa e os médicos ainda não conseguem precisar o quão longe Lais Souza poderá chegar depois do acidente que colocou a vida da ginasta em risco. Mas a evolução apresentada pouco mais de um mês do ocorrido anima a equipe que trata da brasileira em Miami. Lais já passeia de cadeira de rodas elétrica pelos jardins do hospital Jackson Memorial e é ela mesma quem a controla, de acordo com o que suas limitações permitem.

Em entrevista por e-mail ao UOL Esporte, o médico do COB Antonio Marttos Jr, que acompanha o caso, deu novos detalhes da recuperação. Lais atualmente consegue movimentar até a região peitoral. Abaixo disso, há avanços na parte sensitiva e, como a região lesionada ainda tem edema, os médicos aguardam para saber quanto mais ela poderá recuperar dos movimentos.

O mais importante, explica Marttos Jr., é a garra com que Lais tem mostrado para batalhar por cada avanço, desde que se acidentou no fim de janeiro, durante a preparação para as Olimpíadas de Inverno. Ela teve um problema na terceira vértebra, que se deslocou do restante da coluna cervical e causou danos na medula espinhal.

Primeiro, Lais teve de lutar para não morrer. Agora, já respira sozinha, conversa, se alimenta normalmente e pode curtir atividades “normais”, como ver filmes, ouvir músicas e passear pelo hospital.

A brasileira aprendeu a controlar os movimentos da cadeira de rodas elétrica, que se move com toques do seu queixo e é controlada também pelos braços. “Tem sido uma alegria para ela poder passear pelos jardins do hospital”, afirmou o médico, sobre os pequenos triunfos que já permitem à equipe e à família planejarem saídas a restaurantes, cinemas e outras atividades sociais que vão ajudar no processo. Confira a entrevista:

UOL Esporte: Com pouco mais de um mês do acidente, qual é a evolução do quadro da Lais hoje?
Antonio Marttos Jr.:
A Lais tem evoluído muito bem e dentro do planejado. Conseguimos desenvolver a capacidade dela respirar sozinha, que foi a maior vitória devido à gravidade e ao nível da lesão. Hoje, Lais come de tudo pela boca, respira bem, fala com todos, e faz todos os exercícios de fisioterapia respiratória, motora e [terapia] ocupacional.

Que tipo de movimentos ela tem agora e até que ponto vocês consideram possível que ela evolua neste sentido?
Hoje ela tem movimentos até a região dos músculos peitorais. Ela já esta fazendo fisioterapia e consegue fazer movimentos específicos com os braços utilizando os músculos do ombro e peitorais, apresentando evoluções da parte sensitiva em áreas bem abaixo do nível da lesão, na qual ainda há edema. Por isso não podemos fazer um prognóstico definitivo neste momento.

O quanto o esforço do paciente ajuda na melhora? E como você vê especificamente a Lais neste ponto?
O esforço da paciente é fundamental em cada fase do processo de recuperação. Inicialmente, Lais lutou por sua vida. Depois para sair da ventilação mecânica e poder se alimentar pela boca novamente. Agora para se adaptar às limitações neste momento. Ela está sendo exemplar. É muito forte e determinada. Pede sempre mais durante a fisioterapia, ela está acostumada a fases, como as de treinamentos. Lais é uma campeã.

Que tipo de pedidos ela tem feito e como tem lidado com tudo isso?
Lais faz pedidos comuns a qualquer pessoa de sua idade. Quer assistir filmes, ouvir música, estudar, tudo isso entre uma sessão e outra de fisioterapia.

O que ela se lembra do acidente? E ela tem noção total do perigo que passou e de que poderia estar numa situação ainda mais difícil?
Ela não se lembra do acidente, mas sabe do risco que correu e está muito feliz por estar vencendo cada fase em sua recuperação.

Ela já consegue deixar o quarto? Como é a movimentação com a carreira de rodas elétrica?
Ela está se adaptando bem à cadeira de rodas e tem tido muita alegria em poder passear pelos jardins do hospital. Inicialmente ela movimenta a cadeira com o queixo, posteriormente controlando com o braço. Tudo isso faz parte do processo de reabilitação. Com isso ela poderá ir a restaurantes, cinema... Todas estas atividades fazem parte do tratamento.

Vocês devem apostar em tratamentos inovadores para ajudar na recuperação?
Existem muitos tratamentos sendo testados neste momento em todo o mundo. Aqui no Jackson memorial Hospital e Miami Project to Cure Paralysis ela terá acesso a todos estes tratamentos em seu devido tempo.

Há previsão para a sua volta ao Brasil?
Ainda não há previsão para sua volta ao Brasil. Lais ficará em Miami o tempo necessário para que possa retornar sem riscos durante a viagem de avião. O COB está dando todo o suporte para que ela fique em Miami o tempo necessário para que tenha acesso a tudo de mais moderno que existe no tratamento da lesão de medula.