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Josi relembra alegria de Laís Souza segundos antes de acidente e tira lição

Josi Santos com Lais Souza quando treinavam juntas em Salt Lake City - Folhapress
Josi Santos com Lais Souza quando treinavam juntas em Salt Lake City Imagem: Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

11/11/2014 06h00

“Nossa, foi muito, muito ruim. Não gosto nem de ficar voltando naquele dia. Me dói muito.” A data em questão foi 28 de janeiro de 2014. A autora da frase é Josi Santos, competidora do esqui aéreo freestyle. E o fato foi o acidente da companheira de treinos e amiga Lais Souza, na cidade americana de Salt Lake City.

Quis o destino que a dupla vivenciasse aquela situação junta, e hoje, quase dez meses depois, fica para Josi a experiência de ter passado em tão pouco tempo distintos e profundos momentos que testaram seu psicológico. Se a parte ruim ela não gosta que venha à tona, a boa já é muito bem-vinda. A recuperação surpreendente da amiga e os bons momentos antes e depois do acidente, como até os segundos antes de tudo acontecer.

O pouco tempo que separa a alegria e o drama é a maior lição que Josi diz carregar para si após o que vivenciou. “Lembro daquele dia desde o momento em que nós acordamos felizes e alegres. Tenho fotos até hoje no meu celular. Lembro da última subida, a gente rindo e conversando... e depois acontece tudo aquilo em um piscar de olhos. Nós não somos nada e estamos sujeitos a qualquer coisa muito rápido”, falou Josi em entrevista ao UOL Esporte.

“Temos que dar muito valor ao que está ao nosso redor e pensar muito antes de agir. Depois disso, comecei a pensar mais nas coisas, me concentrar mais. Foi uma lição de vida. Tudo ocorreu em um piscar de olhos, não sabemos o que vai acontecer em segundos na nossa vida. Desde a hora que ela falou comigo até o impacto na árvore foram dois ou três segundos só, não foi mais do que isso. Temos que estar muito concentrados no que estamos fazendo e dar valor nas nossas ações”, prosseguiu.


Josi Santos, também ex-atleta da ginástica artística, competiu no esqui aéreo nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia, em fevereiro, ao herdar a vaga que antes era de Laís. Ela lembrou que não queria aceitar a chance e só fez isso depois de a própria amiga ter pedido isso como um reconhecimento pelo esforço de ambas após longos treinamentos. Antes e durante o torneio, Josi fazia sessões diárias com psicólogo para fortalecer a parte mental.

“Eu não tinha condição de ir. Eu não comia, não dormia. Estava praticamente vegetando. Foi um tombaço pra mim. Fiz tratamento psicológico desde o dia que ela falou pra eu ir até o dia de eu entrar na competição. Um psicólogo foi comigo, esquiou comigo, fizemos um trabalho muito bom pra eu conseguir focar um pouco na competição, mas não teve como me controlar no final, não consegui me conter (chorou depois da prova). Eu tinha decidido não, ir e a Laís disse ´vai, você tem que ir, nós treinamos muito isso´”, recordou.

Josi diz que tudo isso fez com que o sonho de disputar uma edição de Olimpíada não lhe propiciasse o gostinho de realização pessoal. “Não sei definir o tamanho da emoção. Disputar a Olimpíada era um sonho, mas nas circunstâncias que fui, nem vi o tamanho da grandiosidade do evento, foi uma competição como as outras. O clima não estava apropriado, não vivenciei nada daquele clima olímpico. Eu tinha parado de treinar porque estava muito abalada.”

Josi está em São Paulo treinando na cidade de São Roque e voltará para Salt Lake City em janeiro para retomar os treinos na neve no inverno americano. Dará continuidade na carreira pelo sonho de participar em melhores condições da próxima edição de Jogos de Inverno, em 2018. Em Sochi, estava com joelho lesionado e fez apenas saltos simples. Agora precisa se aprimorar.

“A gente tem que trabalhar muita coordenação. Fazer saltos com maior dificuldade. Preciso fazer (salto) duplo com duas acrobacias para poder estar entre as melhores. Isso é só treinando bastante e com muita precisão. Temos que fazer muitas correções. Esse esporte depende muito de velocidade, vento e angulação. Tudo conta, precisamos melhorar muito. As acrobacias eu tenho uma base que trago da ginástica e sei executar. O mais importante agora é a saída de rampa e a técnica do movimento.”

Lais Souza esta em um hospital em Miami, nos Estados Unidos, em tratamento para recuperar sensibilidade e o movimento de seu corpo. Josi diz que as conversas são frequentes. “Está dando super certo o tratamento que ela  está fazendo. Ela é confiante demais, sabe da garra que ela tem pra poder voltar a andar. Não é fácil, não é rápido. Mas ela tem mais paciência do que eu, que falo ´levanta logo daí, e ela me pede calma”, falou, em tom de brincadeira entre amigas.