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Di Grassi diz que 'quase todos pagam' na F-1, mas vê Massa como exceção

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

12/11/2013 11h38

Lucas di Grassi disputou uma temporada completa pilotando a extinta Virgin, em 2010, além de mais dois anos como piloto de testes da Pirelli. Aos 29 anos, Di Grassi se diz desiludido com a principal categoria do automobilismo. Em entrevista ao UOL Esporte, o atual piloto da Endurance declara que praticamente todos os pilotos só estão empregados na Fórmula 1 porque pagam.

“A Fórmula 1 tem ótimos pilotos, isso é indiscutível, mas seria muito mais competitiva se tivesse menos ‘pagantes’. Dos 20 pilotos atuais, você tem uns 5 que estão lá porque são bons e outros 15 pagantes. Têm muitos pilotos que não poderiam estar, enquanto nomes como Heidfeld, Kobayashi e Kovalainen estão fora da categoria”, disse Di Grassi.

Ele abre exceção a Felipe Massa, recém contratado pela Williams.

“Eu conheço a história do Felipe [Massa]. Tudo o que ele conseguiu foi por seu esforço e dedicação. Ele passou dificuldade para chegar à Fórmula 1, não teve alguém por trás com muito dinheiro”, complementa.

Na época em que perdeu posto na Virgin, Di Grassi deu entrevista à rádio Jovem Pan dizendo que sua vaga foi comprada pelo substituto (Jerome d’Ambrosio).  O piloto brasileiro afirma ter feito a escolha certa ao migrar para a Endurance (competição com carros de turismo).

Recentemente, outro piloto brasileiro engrossou o coro contra o sistema atual da Fórmula 1. O baiano Luiz Razia usou as redes sociais para ironizar uma suposta tentativa da Toro Rosso (controlada pelos investidores da Red Bull) de buscar pilotos endinheirados.

UOL Esporte – Como você analisa a Fórmula 1 atual?

Di Grassi - Sempre houve histórias de pilotos que pagaram. O filme Rush apresentou o Lauda pagando para correr nos anos 70. Não é novidade. Mas antes eram algumas equipes de médio e pequeno porte que aceitavam. A McLaren e a Williams, por exemplo, jamais aceitariam até pouco tempo atrás um piloto por ser pagante. Mas hoje a Williams está quebrada. Não sei se o Maldonado estaria na Williams se não tivesse patrocínio. O mesmo acontece com a McLaren com o Perez.

Na Indy é mais pagante que na Fórmula 1. O Rubens Barrichello, apesar de todo histórico na Fórmula 1, precisou levar patrocinadores para correr, senão não o aceitariam. Na Endurance também tem, mas as grandes equipes são compostas por montadoras, que querem os melhores pilotos para buscar títulos

Nota da redação: Os pilotos mexicanos Sergio Perez (McLaren) e Esteban Gutiérrez (Sauber) contam com o apoio do bilionário Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo, segundo a Forbes. Pastor Maldonado (Williams) é patrocinado pela petrolífera estatal venezuelana PDVSA.

UOL Esporte – E qual seria a explicação para a maior necessidade da F-1 no dinheiro de pilotos?

Di Grassi - O corte de recursos oriundos de empresas de cigarros e bebidas fez com que as montadoras aos poucos reduzissem seu investimento na Fórmula 1. E para sobreviver sem o dinheiro do cigarro e em meio à fuga de montadoras, a categoria deu espaço a “equipes produtos” e pilotos patrocinados.

UOL Esporte – Como você vê a relação “piloto + patrocínio”?

Di Grassi - Não é demérito um piloto ter um patrocínio. O Maldonado tem o apoio do governo da Venezuela. O Alonso para onde for terá o Santander patrocinando. O conjunto ‘bom piloto e patrocínio’ é fundamental. Mas a metade das equipes está quebrada. E o lado financeiro, infelizmente, é colocado como fator principal.

UOL Esporte – Mas não existem “pagantes” também na Endurance ou Indy, por exemplo?

Di Grassi – Na Indy é mais pagante que na Fórmula 1. O Rubens Barrichello, apesar de todo histórico na Fórmula 1, precisou levar patrocinadores para correr, senão não o aceitariam. Na Endurance também tem, mas as grandes equipes são compostas por montadoras, que querem os melhores pilotos para buscar títulos.

A Fórmula 1 tem ótimos pilotos, isso é indiscutível, mas seria muito mais competitiva se tivesse menos 'pagantes'. Dos 20 pilotos atuais, você tem uns 5 que estão lá porque são bons e outros 15 pagantes. Têm muitos pilotos que não poderiam estar

comenta Di Grassi, que correu na categoria em 2010

UOL EsporteVocê se sente incomodado por não estar na Fórmula 1?

Di Grassi – De forma alguma. Eu estou muito feliz na Endurance competindo pela Audi, uma grande equipe e que disputa títulos. Eu faço o que gosto e não pago para correr. Prefiro estar disputando o Mundial de Endurance, que tem enorme prestígio na Europa, do que estar em uma equipe da Fórmula 1 como pagante.

UOL EsporteAs alterações nos motores e tecnologia dos carros para o próximo ano contribuirão para o encarecimento da Fórmula 1?

Di Grassi – Sem dúvida. A tendência é ficar ainda mais cara a Fórmula 1 e, consequentemente, ter mais pagantes a partir da implantação das mudanças previstas nos carros. Haverá maior necessidade de apoio financeiro.

UOL Esporte E como você projeta a Fórmula 1 para daqui alguns anos?

Di Grassi - A médio prazo, a Fórmula 1 terá menos apelo, porque será ainda menor o espaço para os pilotos de talento. A Globo fez chamadas recentes na TV convocando as pessoas para assistir às corridas. Isso até anos atrás não precisava.

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