Topo

Fórmula 1

Lotus era candidata ao título. Hoje, é lanterna. Dá para explicar?

Livio Oricchio

Do UOL, em Xangai (China)

17/04/2014 17h04

Você se interessa pela F1? Então, após três etapas na temporada, uma pergunta deve te atormentar: O que acontece com a Lotus? Como um time pode ir da elite, capaz de levar Kimi Raikkonen a lutar pelo título nos últimos dois anos, para o fundo do grid, disputando as últimas colocações? 

Ninguém melhor para responder isso que o homem responsável por fazer a Lotus ser grande novamente. A tarefa está a cargo de seu novo diretor geral, o argentino Federico Gastaldi, que falou com exclusividade com o UOL Esporte em Xangai, antes da programação oficial do GP da China (que começa com os treinos livres às 23h de Brasília desta quinta-feira).

De cara, ele teve de explicar a queda. "Tudo é novo na F1 este ano. Outro regulamento, os times precisaram começar quase do zero. E, infelizmente, a Renault, nossa fornecedora da unidade motriz (o sistema que é composto pelo motor e pelos sistemas de recuperação de energia), reconhecidamente está atrasada." 

Na primeira série de testes em Bahrein, em fevereiro, Romain Grosjean e Pastor Maldonado, os pilotos da Lotus, quase não andaram. Segundo Gastaldi, a causa foram os sérios problemas do V-6 turbo francês e dos dois sistemas de recuperação de energia. "Não conseguimos obter nenhum dado sobre o comportamento do carro para começar a trabalhar o chassi por não podermos acumular quilômetros", disse Gastaldi.

Ninguém é insubstituível

Outro fator que está contando contra o time é a estrutura humana da Lotus deste ano. O time é bem diferente da de 2013 e 2012. Perdeu sua espinha dorsal. Os dois projetistas do carro, James Allison e Dirk de Beer, seguiram Raikkonen e foram para a Ferrari. Já o diretor geral Eric Boullier está na McLaren. "Tivemos mudanças significativas. Mas uma coisa que Allison fez com precisão foi montar uma estrutura técnica capaz de não sentir a perda de um profissional. E ninguém é insubstituível", argumenta Gastaldi.

"Temos um grupo fantástico de engenheiros e técnicos em Enstone (Inglaterra). Nosso time conta com 500 funcionários especializados. São os mesmos que fizeram a Lotus lutar pelo título. O que nos falta, essencialmente, é de uma unidade motriz mais confiável para podermos desenvolver o carro", diz o diretor da Lotus. "Nossos pilotos são, da mesma forma, muito bons".

Com isso, ele é realista quanto à distância que separa sua equipe da melhor escuderia da temporada, a Mercedes. "Estamos bem atrás e aqui na China não será diferente. Mas já para a etapa de Barcelona teremos muitas modificações no carro, bem como a Renault promete uma unidade motriz bem mais eficiente. Eles conquistaram (em conjunto com a Red Bull) os quatro últimos títulos, são os maiores interessados em reverter essa situação difícil".

A partir do GP da Espanha, dia 11 de maio, Gastaldi acredita que entenderá melhor a condição da Lotus. Até agora, a situação não é nada bonita. Na abertura do campeonato, na Austrália, Romain Grosjean, largou em último (22º) e abandonou na 43ª volta , de um total de 57, por pane no sistema de recuperação de energia. Já Pastor Maldonado saiu na penúltima posição do grid e, pelo mesmo motivo, parou na 29ª volta.

Na Malásia, Grosjean saiu em 15º e terminou em 11º, uma volta atrás do vencedor, Lewis Hamilton, da Mercedes. Maldonado foi o 16º no grid, mas a unidade motriz se rompeu na corrida, na 7ª volta.

No GP de Bahrein, uma boa notícia. O carro da temporada, o E22-Renault, passou a ser responsabilidade do diretor técnico Nick Chester, o substituto do agora ferrarista Allisson. Após quase ter acumulado muito pouca quilometragem até então, o time conseguiu que seus dois pilotos completasse a prova. Grosjean largou em 16º e recebeu a bandeirada em 12º. Maldonado saiu em 17º para ser 14º. Também importante: ambos terminaram na mesma volta do vencedor, Hamilton.

Orçamento garantido para 2014

Toda essa luta para entender os problemas e achar soluções é feito, sempre, com a sombra das dificuldades financeiras da Lotus. O ponto de interrogação quando o assunto é dinheiro nunca foi escondido por seus proprietários, Gerhard Lopez e Eric Lux, ambos de Luxemburgo. "Falou-se muito disso. Mas pelo que me foi repassado nas nossas reuniões, graças a Deus parece que o orçamento deste ano já está fechado", explica o argentino. "Muitas equipes, hoje, estão numa situação difícil. Não é por outra razão que pressionam os responsáveis pela F1 para cortar custos".

Estima-se que a Lotus venha a dispor de 120 milhões de euros (R$ 400 milhões), pouco menos da metade do orçamento da Red Bull, Mercedes e Ferrari. Os problemas financeiros podem estar equacionados, segundo Gastaldi. Mas também é verdade que Raikkonen ainda não recebeu pela temporada passada. "Mas não deixamos de pagar por ele ter trocado a Lotus pela Ferrari. Foi por que nossos acordos com novos investidores não deram certo".

A Lotus, segundo se comenta na F1, não pagou cerca de 10 milhões de euros (R$ 34 milhões) para o finlandês, já que seu contrato previa 50 mil euros (R$ 170 mil) por ponto conquistado. Em 2013, o campeão do mundo de 2007 somou 183 pontos. Gastaldi confirmou que negocia com o empresário de Raikkonen, o inglês Steve Robertson, e está "próximo de finalizar um acordo". 

O peixe morre pela boca

O novo diretor da Lotus disse que os donos chegaram perto de fechar negócio com um novo sócio, no ano passado. "A negociação com o grupo Quantum Motorsport começou a dar errado quando aquele senhor (o norte-americano Mansoor Ijaz, titular do grupo) passou a conversar demais com a imprensa. Na F1, todos sabem que se deve permanecer com a boca calada". Ijaz dava detalhes de um acordo não definido, ainda.

Até agora, as funções de Gastaldi na Lotus eram restritas à área comercial. Assumir a direção geral da equipe é, como afirmou, um desafio. "Já entendi que minha função será criar as ferramentas necessárias para que essa turma extraordinariamente capaz, com velocidade nas veias, possa tornar o carro competitivo". 

E finaliza: "Desde que, claro, a Renault também faça a sua parte, disponibilizando uma unidade motriz mais eficiente, que responda com mais potência e não superaqueça".

Fórmula 1