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Fórmula 1

Novo diretor da Ferrari adota estilo 'Jean Todt': fala pouco e manda muito

Livio Oricchio

Do UOL, em Xangai (China)

18/04/2014 08h43

Pode ser apenas uma primeira impressão e o tempo vir a desmenti-la. Mas nos escassos 10 minutos de entrevista com a imprensa, hoje em Xangai, o novo diretor da Ferrari, Marco Mattiacci, sugeriu ser um homem de poucas palavras. Mais: deixou no ar ser um tanto autoritário.

Se confirmado, sua escolha por parte do presidente da empresa, Luca di Montezemolo, representará uma volta ao passado: no período de maior sucesso da história da Ferrari, de 1999 a 2004, quando a escuderia italiana conquistou cinco títulos mundiais com Michael Schumacher e seis de construtores, o diretor da Ferrari era o francês Jean Todt, atual presidente da FIA, igualmente profissional que falava pouco e ordenava muito.

E essas são características opostas às do diretor demitido no fim de semana, Stefano Domenicali, cuja principal marca da sua personalidade é não estabelecer uma relação de hierarquia com os subordinados, fazendo com que muitos questionassem a sua liderança, fatal para as contínuas mudanças na maneira de pensar do espírito latino do grupo. Montezemolo e a direção da Fiat, proprietária da Ferrari, devem ter compreendido que o modelo distensivo de gestão de Domenicali não funciona numa organização como a Ferrari.

O UOL Esporte perguntou a Mattiacci com qual escola se identificava mais, a adotada por Todt, de se impor na equipe, sua palavra é a final e pronto, ou a de Domenicali, sempre disposto a compreender todos, com menos cobranças. "Serei eu mesmo", respondeu quase monossilabicamente, ratificando a impressão de não se estender demais. Domenicali responderia questão semelhante em cinco minutos.

"Sou uma pessoa muito curiosa, observo bastante os outros. Vivo há quase 20 anos fora da Itália e conheci profissionais do mais alto nível nos Estados Unidos em termos de gestão. Meu princípio fundamental é escutar e aprender, agora velozmente. Parto disso." Mattiacci era o responsável pela Ferrari nos Estados Unidos, principal mercado consumidor dos carros esportivos que produz.

A Ferrari não vence o Mundial de Pilotos desde 2007, quando Kimi Raikkonen celebrou o título no GP do Brasil. E o último campeonato de construtores foi em 2008, única conquista de Domenicali. Fernando Alonso faz cobranças à equipe e algumas chegam à imprensa. Essa reformulação em curso, já que outros profissionais deverão ser substituídos, relaciona-se com a necessidade de se fazer algo para manter o espanhol no time.

Mattiacci falou de Alonso: "O tenho como grande profissional, provavelmente o melhor hoje na F1, e compartilho das suas exigências. Ele quer ser campeão com a Ferrari, como todo piloto que compete na F1". E sobre a possibilidade de poder salvar esta temporada disse: "Hoje tive meu primeiro encontro com o grupo, fui conhecê-lo, e me apresentar também. Lutaremos, isso é o que eu posso dizer. Há uma diferença (de performance), todos sabem, mas lutaremos."

Pensou que fosse um trote

Tudo aconteceu muito rápido, entre receber o convite de Montezemolo para assumir a Ferrari e já estar trabalhando. "Sexta-feira (dia 11),  recebi uma ligação às 5h58. Montezemolo começou a falar e achei que era uma brincadeira de 1.º de abril tardia. Mas depois de um minuto de conversa compreendi que não era uma peça", contou, sem esboçar um único sorriso o tempo todo. "Encarei não como uma oferta de trabalho, mas uma missão."

O novo diretor da Ferrari estava em Nova York e imediatamente voou para a Itália. "Passei sábado, domingo e segunda-feira em Maranello. Conheço a Ferrari, trabalho aqui há 14 anos. Existe um número incrível de profissionais de talento na Ferrari. Vi isso em outras empresas nessas minhas experiências pelo mundo, mas em nenhuma encontrei gente com tanta emoção pelo trabalho que faz como aqui."

Sua primeira providência será conhecer a equipe. E antes de pensar em qualquer nova mudança deseja entender seu funcionamento. "É cedo para pensar nisso. Primeiro preciso aprender muita coisa, ver o que há de bom e depois..." O presidente da Ferrari lhe deu carta branca. "Disse-me que posso dispor de todos os recursos necessários, o importante é construir um futuro sólido." E tem liberdade também para sair ao mercado contratar quem julgar necessário. "Mas terá de ser alguém que, de fato, agregue valores a Ferrari, pois temos uma equipe excelente."

Apesar da experiência internacional com a Ferrari, suas funções sempre foram essencialmente na área de negócios, não na esportiva. E a pergunta é inevitável: como ser diretor da Ferrari sem entender de F1? "Isso me dá uma enorme motivação." Falou, ainda: Saí da Itália com 21 anos (tem 44) e trabalhei em várias regiões, como Ásia, Estados Unidos, América do Sul, Oriente Médio, e minha função sempre foi montar equipes de trabalho, selecionar profissionais de talento".

Seu desfecho é uma clara mensagem aos fãs da Ferrari que desejam ver sua equipe lutar de novo pelas vitórias e títulos: "Sempre montei times muito competitivos em tudo o que fiz. E conquistamos os resultados planejados".

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