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Fórmula 1

Vettel perdeu disputa para Ricciardo de novo. A F1 comenta o resultado

Livio Oricchio

Do UOL, em Xangai (China)

19/04/2014 08h28

Já havia acontecido na Austrália, estreia do jovem Daniel Ricciardo na Red Bull. Depois o fato repetiu-se no circuito de Sakhir, em Bahrein, dia 5, e neste sábado, na classificação para o GP da China, mais uma vez o australiano foi melhor que o companheiro de equipe, ninguém menos de o tetracampeão do mundo Sebastian Vettel.

O placar de quem é mais eficiente na definição do grid está 3 a 1 para Ricciardo, levando-se em conta apenas a disputa entre ambos na classificação, sem a punição no grid em Bahrein, por a Red Bull liberá-lo dos boxes sem prender uma roda na Malásia. É uma surpresa que Vettel e a própria F1 estão tentando compreender. A maioria imaginava que o inexperiente Ricciardo, ao menos no início do campeonato, enfrentaria dificuldades com um parceiro tão talentoso como Vettel.

A disputa entre ambos hoje no circuito de Xangai foi emocionante. O cronômetro estava zerado, mas a volta que Vettel e Ricciardo completariam a seguir ainda valia. Depois de 27 segundos o alemão registrou 1min54s960, segundo tempo, primeira fila. Mas quando o cronômetro marcou 52 segundos depois de zerado, Ricciardo cruzou a linha de chegada e obteve 1min54s455, impressionantes 505 milésimos mais rápido que Vettel. Ricciardo foi para a primeira fila, em segundo, e Vettel caiu para terceiro.

Seria um resultado até certo ponto normal, afinal estava chovendo, se também em outras duas definições do grid, este ano, Ricciardo da mesma forma não tivesse sido mais eficiente que Vettel. Na abertura do Mundial, em Melbourne, diante da enorme torcida que foi assistir à estreia do australiano num time de ponta, Ricciardo também ficou em segundo na classificação. Vettel, somente 13.º.

Quinze dias mais tarde, na Malásia, Vettel deu o troco. Largou em segundo enquanto Ricciardo em quinto. Nas duas últimas definições do grid, contudo, deu o australiano de novo. No Bahrein, Vettel não foi além da 11.º colocação, enquanto Ricciardo, ótimo terceiro. Punido, caiu para 13.º. E hoje o próprio piloto alemão reconheceu o melhor momento do companheiro.

A sinceridade de sempre

O UOL Esporte perguntou a Vettel na entrevista depois da sessão de classificação: “Sebastian, você tem este ano um parceiro mais competitivo, isso faz com que você mude a forma de começar o fim de semana de competição?” Vettel tinha Lewis Hamilton, da Mercedes, o pole position, e o próprio Ricciardo ao lado. “Bem, este ano é muito, muito diferente, os carros são distintos, não acho que podemos comparar com 2013, para começar”, disse.

E seguiu seu raciocínio: “Daniel está fazendo um trabalho muito bom. Ele não teve apenas um bom fim de semana, mas vários. Parece conseguir tirar o máximo do carro. Já eu talvez esteja tendo um pouco mais de dificuldades, mas é certo que temos o mesmo carro”.

Normalmente quando um piloto está vencendo tudo na F1, como é o caso do notável Vettel, recordista absoluto de precocidade em tudo na competição, não reconhece publicamente quando, pelas mais diferentes razões, começa a perder a disputa para alguém com o mesmo carro. Em especial se o companheiro nunca pilotou para um time campeão. Mas Vettel é grande não apenas como piloto, senão como homem. A sequência da sua resposta bem denota o fato.

“Não é uma questão de carro. Se ele consegue me vencer, está vencendo dentro da pista, de forma inquestionável. Claro, não estou gostando nada disso e sei que tenho de realizar um trabalho melhor para vencê-lo.”

 Com exclusividade para o UOL Esporte, o consultor da Red Bull e Toro Rosso, quem define as contratações dos pilotos das duas equipes, Helmut Marko, comentou: “Quando transferimos Daniel da Toro Rosso para a Red Bull, acreditávamos que teria de se adaptar a uma estrutura vencedora, ao carro e depois de cinco ou seis etapas começasse a pressionar um pouco Sebastian”.

Mas já na primeira prova do ano Ricciardo não apenas foi melhor na classificação como na corrida. Recebeu a bandeirada em segundo, causando espanto na F1. Horas depois, no entanto, acabaria desclassificado por seu carro consumir mais de 100 quilos por hora de combustível em alguns momentos da corrida. Mas o cartão de visita já havia sido dado a todos e redistribuído nos GPs de Bahrein e até agora no da China.

Alemão vai reagir, diz Lauda

O austríaco Niki Lauda, três vezes campeão do mundo e diretor da Mercedes, pede um tempo. “Daniel está impressionando, não há dúvida. Mas Sebastian é muito forte de cabeça, talvez seu ponto mais forte, e saberá reagir. Assim que eles tiverem um carro em melhores condições, e não vai demorar, estão chegando, veremos o melhor de Sebastian de novo.”

 No ano passado, Fernando Alonso foi questionado a respeito de Vettel. O alemão, por exemplo, conquistou seu quarto título de forma avassaladora, vencendo as nove últimas etapas. Seria um piloto especial falando de outro especial. “Os números que ele vem obtendo, os recordes que quebra respondem por si. Mas gostaria de vê-lo com um carro que não fosse tão superior como o seu.” Alonso foi delicado ao falar do companheiro de Vettel por ser amigo de Mark Webber, o outro piloto da Red Bull em 2013. “Também seria interessante ver Sebastian sob pressão dentro do próprio time.” Pois Vettel está se submetendo nesta temporada a esses exames todos.

 Outro que abordou os inesperados resultados dentro da Red Bull desse início de campeonato foi Felipe Massa, da Williams. “O Ricciardo é um piloto rápido, talentoso, chegou numa equipe grande e já mostrou tudo isso em três GPs e uma classificação”, disse. “Mas ele mudou para um time de ponta na melhor hora, quando houve uma mudança grande na F1. Teria sido mais difícil para ele se o regulamento fosse o mesmo, pois o Vettel já conhecia o carro, a equipe”, acrescentou Massa. “O Vettel está tendo de aprender, como Ricciardo e todos nós.”

Equipe não é apenas sua, agora

Massa manda um recado ao alemão: “Vai ter de acelerar, caso contrário tem chance de ficar para trás. Estava acostumado a ter a equipe toda junto dele, por ser muito mais eficiente que o Webber, está agora sob pressão. Mas tem talento, por tudo que fez, para ir para cima também”.

A primeira oportunidade é já amanhã, ao longo das 56 voltas do GP da China, quarto do calendário, no circuito de Xangai. Com a perda dos 18 pontos na prova da Austrália, Ricciardo soma 12 no campeonato, décimo colocado. Sem a desclassificação seria o segundo, com 30. O líder é Nico Rosberg, da Mercedes, com 61. Vettel está em sexto, com 23. A largada do GP da China será às 4 horas, horário de Brasília.

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