Topo

Fórmula 1

É possível Massa melhorar na segunda parte da temporada de F1?

Livio Oricchio

Do UOL, em Budapeste (Hungria)

24/07/2014 08h43

Boa parte das atenções dos brasileiros que se interessam por F1 vai estar concentrada, no próximo fim de semana, no trabalho de Felipe Massa no GP da Hungria, no sempre quente Circuito Hungaroring, em Budapeste, 11.ª etapa do campeonato. Os treinos livres começam já amanhã, às 5 horas, horário de Brasília.

O piloto da equipe Williams-Mercedes dispõe hoje de carro para lutar por posições no pódio, como tem feito com sucesso o companheiro, o finlandês Valtteri Bottas. Mas, por sua responsabilidade e circunstâncias da competição, Massa tem se envolvido numa série impressionante de acidentes. Felizmente até agora sem consequências físicas.

O que esperar de Massa no restante da temporada? A corrida húngara marca o início da segunda parte do Mundial.

Será que o Massa das nove corridas restantes, a começar pelo GP da Hungria, será o mesmo do polêmico acidente com Kevin Magnussen, da McLaren-Mercedes, ainda na primeira curva, domingo, em Hockenheim, que já sai do carro atribuindo culpa aos outros, ou um piloto que a exemplo de Bottas vai finalmente aproveitar a eficiência do modelo FW36 da Williams e começar a obter grandes resultados?

O momento de Massa, este ano, tem semelhanças com o experimentado na Ferrari em 2012, quando o companheiro era Fernando Alonso. Depois do GP da Alemanha, também décima etapa, Alonso liderava o Mundial com 154 pontos. Havia vencido três vezes, Malásia, Valência e Alemanha, sido segundo duas, Espanha e Grã-Bretanha, e terceiro em Mônaco, além de outros resultados com pontos.

Já Massa somava apenas 23 pontos e seu melhor resultado era um quarto lugar no GP da Grã-Bretanha. A diferença de rendimento assustava a direção da Ferrari. O piloto. E os brasileiros fãs da F1.

As semelhanças com 2012, felizmente para Massa, parecem se limitar, este ano, aos números de produção. Na temporada com Alonso na Ferrari Massa se descontrolou emocionalmente. Desde 2010 perdia por larga margem para o espanhol. Já tinha compartilhado a equipe com campeões como Michael Schumacher e Kimi Raikkonen e esteve próximo senão na frente de ambos.

Sem entender a origem da diferença enorme imposta por Alonso, Massa foi buscar ajuda profissional, um psicólogo, e descobriu que a resposta para boa parte de suas dificuldades estava dentro de si próprio. Essencialmente, perda da autoconfiança.

A explicação para o seu caso remonta a 2008. Naquele ano Massa era a referência da Ferrari, o líder, diante da apatia de Kimi Raikkonen. E o grupo fechou com ele. No auge de sua carreira, estimulado ao máximo, contando com um bom carro e apoiado pelo time, Massa só não foi campeão por uma contingência do esporte. Lewis Hamilton ficou com o título por um ponto, 98 a 97.

Mas depois da chegada de Alonso, em 2010, Massa passou a ser um simples coadjuvante da escuderia. Os italianos logo viram a maior capacidade de Alonso e passaram a gravitar a seu redor. O espanhol é um mestre, também, independente do seu enorme talento, em fazer tudo convergir para si.

Massa passou de centro das atenções a subalterno da Ferrari, a ponto de nos primeiros treinos livres, às sextas-feiras, fazer experiências de ajuste no carro, com soluções distintas das adotadas por Alonso, apenas para ver se funcionavam, em detrimento dos seus interesses na competição. Essa subserviência o destruiu. Como faria com a maioria.

O desafio de Massa agora é menos complexo. A realidade na Williams é outra, daí as possibilidades de uma segunda metade de temporada melhor existirem.

Massa não perdeu velocidade, como em 2012. A prova é a pole position no GP da Áustria. Ao menos em uma volta lançada. Ainda a seu favor: o modelo FW36 da Williams não tem reações que penalizam tanto o seu estilo, como a Ferrari F2012.

Mais: o tratamento oferecido pela Williams é exatamente o mesmo do dispensado a Bottas. Não há preferências no grupo, Massa não tem como se sentir preterido. Pelo contrário, é até privilegiado, pois com toda a vantagem de Bottas no Mundial, 91 pontos contra apenas 30, quem sempre cede o carro para Suzie Wolff ou Felipe Nasr é ele e não Massa.

Uma possível saída para Massa disputar uma segunda metade de temporada mais compatível com a qualidade do carro que tem nas mãos é observar, criteriosamente, a postura humilde e inteligente de Sebastian Vettel.

Não deve ter sido fácil para o alemão, tetracampeão do mundo, afirmar, em resposta ao UOL Esporte, durante coletiva: "Daniel (Ricciardo) consegue tirar mais desse carro da Red Bull do que eu. E temos o mesmo tratamento. Cabe a mim entender onde me vence, nossas telemetrias são abertas, e com calma, sem pânico, reagir, evoluir passo a passo. As reações do RB10 são diferentes de tudo o que fiz na equipe nos últimos quatro anos".

Talvez aí esteja o maior problema de Massa. Bottas está na ascendente como piloto, tem 24 anos, esta é sua segunda temporada, apenas, na F1. Massa, aos 33 anos, se não entrou na curva descendente de produção não deve evoluir muito mais, já que pilota seu 12.º campeonato.

Até certo ponto é normal que, na média, os resultados de Bottas, piloto de muito talento e com a faca entre os dentes, sejam melhores que os de Massa. Ele tem tudo ainda a provar. O que não pode acontecer é Massa desejar, a todo custo, estar na frente de Bottas. Isso deve ser apenas uma consequência do seu trabalho, não algo capaz de desestabilizá-lo.

Vettel estabeleceu metas para avançar na luta com Daniel Ricciardo. E mesmo tendo vencido tudo nos últimos quatro anos não está demasiadamente preocupado com a imagem que tem passado. Assumiu em público que Ricciardo é mais eficiente com o RB10.

Não é o caso de Massa passar a declarar nas entrevistas que Bottas, com o FW36, tira mais do carro que ele. Mas quando olha o monitor e vê Bottas com um tempo melhor, não se perder na busca por superá-lo a qualquer custo. Até porque nas classificações, em uma volta lançada, a luta entre ambos está relativamente equilibrada.

Onde Massa mais se perturba é nas corridas. Parece provável que a manobra imprudente da largada em Hockenheim, domingo, arriscando tudo na disputa com Magnussen, teve origem na sua "necessidade" de estar imediatamente atrás de Bottas no início da prova, o que lhe daria a chance de tentar chegar na frente do companheiro.

Vettel já disputou posição com Ricciardo este ano e, apesar de aguerrido, como o manual cobra de um piloto, não atribuiu à luta simbolismos como "um tetracampeão não pode perder, com o mesmo carro, para um novato".

Foi até o limite no duelo, mas uma vez perdido resignou-se. Prova disso é a serenidade com que trata do assunto. Não se nega a falar. Ao mesmo tempo, trabalha duríssimo, mas sem ser obsessivo, para equilibrar a disputa com Ricciardo, sem dar demasiado valor ao que os fãs pensam de estar perdendo para o australiano, tanto na classificação com em condição de corrida.

Na entrevista concedida depois da prova de Hockenheim, em que Massa não completou mais de uma curva, o piloto da Williams sentiu necessidade de dizer "posso fazer tanto quanto Bottas e até mais".

É um sintoma evidente de que se sente profundamente atingido com o fato de ter sido contratado para ser o piloto que lideraria a Williams na sua reconstrução e, de repente, quem assume o papel é o novato Bottas.

O que talvez Massa não saiba, ao menos como deveria, é que Pat Symonds, diretor técnico, Rob Smedley, diretor de operações, e Bottas têm profundo respeito por suas indicações, sua maneira de trabalhar. "Tem sido de grande importância para a evolução da Williams", diz Symonds.

Na cabeça de Massa, o registrado, é que está perdendo a luta interna na equipe, como foi nos quatro anos com Alonso. Na Williams, livrou-se da função de trabalhar mais para os interesses da Ferrari e de Alonso, mas não de ser menos eficiente que o companheiro.

Esse é o desafio maior de Massa. Saber administrar a pressão que faz a si próprio, muito mais virulenta a possibilidade de obter êxito que se Frank Williams o chamasse, por exemplo, e lhe cobrasse melhores resultados.

Massa não pode ficar mais feliz se for o quinto no grid e Bottas o sexto do que se Bottas estabelecesse a pole position e ele o segundo tempo.

Se Massa passar a somar pontos com regularidade, e com o carro que tem depende apenas de si, mesmo que, na média, um pouco menos de Bottas, toda essa aflição que há nele, sempre negada, mas evidente para quem está de fora, seria atenuada.

Menos preocupado com o que o companheiro está conquistando haveria como sua experiência levá-lo a produzir mais. É um ciclo, mas que para rodar Massa tem de dar a largada. Dentro de si.

Fórmula 1