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Fórmula 1

Magnussen minimiza batida com Massa e diz que tem que aproveitar as chances

Livio Oricchio

Do UOL, em Budapeste (Hungria)

24/07/2014 16h30

O GP do fim de semana é o da Hungria, 11.ª etapa do campeonato, mas os sons da prova de Hockenheim, domingo, ainda reverberam no paddock da F1. A entrevista coletiva de Kevin Magnussen, da McLaren-Mercedes, foi tão concorrida nesta quinta-feira no Circuito Hungaroring quanto a de campeões mundiais como Fernando Alonso, da Ferrari, e Lewis Hamilton, Mercedes. 

Todos desejavam conhecer a visão do jovem dinamarquês de 21 anos sobre o acidente espetacular com Felipe Massa, Williams-Mercedes, na primeira curva depois da largada no GP da Alemanha, já que lá não se pronunciou. Kevin hoje finalmente respondeu à imprensa.
 
E, em separado, nessa entrevista exclusiva para o UOL Esporte, o filho do piloto que ganhou mais corridas que Ayrton Senna na Fórmula 3 Britânica, Jan Magnussen, abordou vários outros temas também. Além de discorrer sobre o assunto do dia demonstrou toda sua jovialidade ao confessar sentir-se, muitas vezes, sozinho. "É um dos lados negativos dessa opção de vida."
 
Direto ao ponto. O que aconteceu na largada em Hockenheim? "Não é tão importante assim, não analisei com esse nível de detalhamento. Não quero entrar em discussão. Já passou e não vai mudar nada. Deixo para os comissários julgarem. Apenas digo que foi ele (Massa) que foi analisado pelos comissários, não eu", disse Kevin.
 
E completou: "Larguei muito bem, estava próximo do Bottas, mas não o suficiente para ultrapassá-lo. Depois aconteceu o que todos viram". E pediu para mudar o tema da conversa.
 
O repórter do UOL lhe apresenta a queixa de vários colegas de pista, que afirmam ser muito agressivo na primeira volta. "Lembro de um único acidente, com o Kimi. Quebrei minha asa dianteira e ele teve um pneu furado (GP da Malásia). Mais nada. Eu tento dar o meu melhor, só isso. Claro, evito ter contato com outros carros. Mas você tem de aproveitar as chances de ultrapassar que surgem. Ser muito agressivo ou não é um equilíbrio que você tem de descobrir. 
 
Seu discurso de estreante este ano no Mundial prossegue: "Você não pode vir para a F1 e não fazer um bom trabalho. Você busca o limite e tem de descobrir esse limite. Um dia você o encontra. Provavelmente ainda não atingi esse estágio, é preciso tempo, mas não acho que estou indo tão mal".
 
Kevin disputa sua primeira temporada depois de ter sido campeão da Fórmula Renault 3.5, similar a GP2, no ano passado. Após dez etapas na F1, este ano, Kevin conseguiu impressionar muito na abertura do Mundial ao obter o segundo lugar. 
Kevin Magnussen pilota sua McLaren na temporada de estreia na Fórmula 1 - Ker Robertson/Getty Images - Ker Robertson/Getty Images
Kevin Magnussen pilota sua McLaren na temporada de estreia na Fórmula 1
Imagem: Ker Robertson/Getty Images
 
E depois o máximo que conseguiu com o pouco competitivo modelo MP29-Mercedes da McLaren foram duas sétimas colocações. Tem 37 pontos diante de 59 do companheiro, o piloto mais experiente da F1, Jenson Button, campeão do mundo de 2009, e tendo lá largado em 257 GPs.
 
O lendário Ron Dennis, sócio e diretor da McLaren, homem de grande proximidade com Senna na sua época na equipe, de 1988 a 1993, vem cobrando Button por melhores resultados e deixa em aberto a possibilidade de substituir os dois pilotos em 2015, quando a Honda será a parceira da escuderia. 
 
O dinamarquês diz não temer as ameaças. "Lutamos pelo pódio na primeira corrida e depois sofremos para marcar pontos. É frustrante. Mas o time sabe o que estou fazendo, tem os dados todos, e comparam meu trabalho com o de Jenson e podem ver quem está vencendo no grupo. Não é óbvio para quem está de fora, mas é para eles, que sabem também porque não luto lá na frente. Meu futuro é aqui, na McLaren.
 
O MP4/29 não tem rendimento sequer semelhante ao modelo da Mercedes e da Williams, lembra o dinamarquês. Existe, porém, a contribuição do piloto nesse processo de falta de resultados. Kevin não esconde sua maior dificuldade. "Os pneus. Na Fórmula Renault 3.5 a filosofia é outra. Aceleramos tudo do começo ao fim da corrida. Aqui na F1 é preciso entender como os pneus funcionam, como se desgastam, e encontrar as respostas. Ainda tenho o que crescer, estou aprendendo."
 
Por solicitação de Bernie Ecclestone, a Pirelli fornece na F1 pneus de elevada degradação para gerar mais pit stops e tornar as corridas menos previsíveis. "O que torna esse aprendizado difícil é que não podemos treinar, praticamente, é preciso aprender no fim de semana de GP."
 
O próprio piloto atenta para a questão da solidão como outro dos desafios da F1, além de entender os pneus. "Aqui você fica muito sozinho. Viaja, deixa a família, os amigos para trás, isso realmente me surpreendeu. Passa muito tempo só, no motorhome, aviões, não é fácil." Nunca é demais lembrar que há dois anos, apenas, Kevin era ainda um adolescente. "Você se sente sozinho." Só é com imensos desafios profissionais e pessoais para responder.
 
"Quando não estou assistindo a um filme permaneço longos períodos no telefone, com a família, os amigos. Tenho ficado no telefone ou Skype um tempo considerável. E quando não é o caso, durmo."
 
A relação com o pai é distante. Jan Magnussen apareceu no automobilismo simplesmente quebrando o recorde de ninguém menos de Senna. Em 1994, Jan venceu 14 corridas na Fórmula 3 Britânica. Senna tinha a melhor performance, com 13 vitórias em 1983. 
 
Mas Jan não levou a sério a profissão. Bebia, fumava, não tinha disciplina alguma. Foi companheiro de Rubens Barrichello na Stewart-Ford em 1997 e parte de 1998, até Jackie Stewart cansar e dispensá-lo. Por ser ainda jovem, 41 anos, disputa o Campeonato Dinamarquês de Turismo com um Corvette, dentre outras competições.
 
"Não tenho muito o que aprender com meu pai. A F1 de sua época era bem diferente. O mundo mudou. Meu pai não teve ninguém para orientá-lo, para lhe dizer isso é certo isso é errado, infelizmente, é o que posso dizer. Não tinha conhecimento em como se comportar para ser piloto de F1. Talentoso, sem dúvida, mas não entendeu o que a F1 exige", disse Kevin. Já na Fórmula Renault 3.5 afirmava ao repórter do UOL que o pai era "um exemplo de piloto para não ser seguido e não para ser copiado".
 
Pouco se veem hoje. "Ele tem o seu mundo, as suas corridas, estamos sempre bastante ocupados, e quando eventualmente nos cruzamos, o que é raro, evitamos falar de automobilismo."
 
Pois se Jan não tinha gana alguma de tentar ser campeão, o filho segue caminho oposto. "Estou aqui para isso, tenho enorme confiança no que posso fazer e não vou esmorecer nunca." Quem conhece Jan sabe que jamais se expressaria dessa forma sobre o futuro. Vivia, e ainda o faz, intensamente, mas apenas o presente. Kevin, bem mais preparado, o futuro.
 

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