Topo

Fórmula 1

Revolução da Williams tem um responsável. E ele gosta do Massa

Livio Oricchio

Do UOL, em Budapeste (Hungria)

25/07/2014 16h03

Se fosse feita uma enquete no paddock da F1, amanhã, por exemplo, antes da sessão que definirá o grid do GP da Hungria, em Budapeste, com a pergunta "qual o maior responsável por a Williams sair das últimas colocações, no ano passado, para as primeiras nesta temporada", haveria grande chance de a maioria das respostas ser "Pat Symonds". O UOL Esporte o entrevistou com exclusividade no Circuito Hungaroring. E ele falou muito bem de Felipe Massa.

Esse inglês hoje de 61 anos tem no currículo nada menos de ser o engenheiro de Ayrton Senna, na Toleman, em 1984, e de Michael Schumacher, no início dos anos 90 na Benetton, dentre tantas outras funções que assumiu, como a de diretor de engenharia da Renault nos dois títulos de Fernando Alonso, em 2005 e 2006. O calibre dos campeões que passaram por suas mãos dá bem uma ideia da sua eficiência profissional.
 
Em julho do ano passado Symonds começou a trabalhar na Williams. A organização de Frank Williams foi considerada a "equipe da década de 90 na F1", com os títulos de 1992, com Nigel Mansell, 1993, Alain Prost, 1996, Damon Hill, e 1997, Jacques Villeneuve. Mas em 2013, tudo o que conseguiu foi 5 pontos, antepenúltima colocada, diante de 596 da campeã, Red Bull.
 
A tarefa de Symonds era das mais complexas: tirar a Williams literalmente do fundo do poço. 
 
Hoje, exatamente um ano depois de assumir a direção técnica da escuderia onde correm Felipe Massa e Valtteri Bottas, a sua realidade é oposta a do ano passado. Esses saltos espantosos de desempenho na F1 de uma temporada para a outra são raros. É verdade que a mudança radical do regulamento e a troca do motor Renault pela unidade motriz da Mercedes favoreceram bastante à completa inversão de perspectiva.
 
Depois de dez etapas, a Williams está em terceiro entre os construtores, com 121 pontos, portanto 116 a mais que em todo o Mundial de 2012, e restam ainda, com a corrida de domingo, no Circuito Hungaroring, nove provas para o encerramento do campeonato.
 
"Eu gostaria de acreditar que muitos me consideram o principal responsável por essa guinada da Williams", disse, rindo, Symonds. "Dei a minha contribuição, sim, para o crescimento da Williams, mas não faço nada sozinho. Há um grupo de profissionais dos mais capazes atrás de mim, mas que havia perdido o rumo."
 
Antes de enveredar pelo universo técnico, o repórter o questiona sobre os pilotos da Williams. Symonds afirma, sem hesitar: "Sim, estou bastante satisfeito com eles. Se você me perguntar se disponho dos melhores do mundo, Vettel, Alonso, Hamilton... (pausa). Temos o que o nosso time necessita nesse momento, pilotos capazes que confiam no que estamos fazendo", afirma. 
 
Nomes como os três citados, não se encaixariam numa organização que está se reestruturando, desejariam chegar dispondo já de um carro potencialmente vencedor e uma equipe já muito bem desenvolvida, precisa, explica o engenheiro. O que não é o caso da Williams ainda.
 
Diante da insistência do repórter no tema pilotos, o diretor técnico da escuderia se estende: "Acredito muito em Valtteri, tem um grande futuro. Já trabalhei com muitos outros pilotos nessa fase da carreira (24 anos), não é difícil para mim identificar um grande talento. E Valtteri é um deles".
Pat Symonds, diretor técnico da Williams - Drew Gibson/Getty Images - Drew Gibson/Getty Images
Pat Symonds, diretor técnico da Williams
Imagem: Drew Gibson/Getty Images
 
Massa é também o seu objeto de análise. O atual piloto da Williams disputa a sua 12.ª temporada na F1, aos 33 anos. "Ele me surpreendeu. É muito rápido, ótimo no trabalho com o time, se preocupa com todos, ajuda a incentivá-los, mas infelizmente sofreu uma série de acidentes que nos está custando muito no campeonato. Se tivesse terminado as corridas estaríamos muito melhor. Mas essas coisas acontecem."
 
O repórter pede que fale mais de Massa, como por exemplo se sua experiência é, de fato, bastante útil ao grupo e de que forma. "Sim, sem dúvida. Eu não conhecia Felipe até ele vir a competir conosco. Apoiei fortemente sua contratação. Era perfeito para o momento da Williams. Mas não sabia que Felipe era tão bom", afirma.
 
E dá mais detalhes do que deseja dizer: "Vi que em algumas ocasiões Felipe foi melhor que Fernando (Alonso), e eu conheço Fernando mais do que muita gente. Portanto, sabia que Felipe podia ser veloz. E, repito, me surpreendeu. Esperava um piloto com espírito latino, muito emotivo. Mas Felipe é muito direto, claro e objetivo no que diz, é prazeroso trabalhar com ele". 
 
Apesar da ótimo conceito que desfruta dentro da Williams, na prática Massa tem contribuído com bem menos pontos de Bottas. E na sua visão os vários acidentes são fruto apenas do "azar".  O UOL Esporte pede a interpretação de Symonds à série de inconvenientes de Massa. "Ele fala em falta de sorte. Pessoalmente não acredito muito em sorte ou azar. Mas, repito, é um piloto capaz e tem ajudado muito Valtteri. Trabalham realmente bem juntos. Nos meus 31 anos de F1 eu nunca vi companheiros de equipe se darem tão bem, compartilhar absolutamente tudo. É muito bom para o time."
 
Symonds deixa os pilotos nos boxes e quer, agora, falar da equipe. O que impressiona nessa transformação na Williams é que os mesmos responsáveis pelo desastroso carro de 2013, que conseguiu a proeza de terminar o ano mais lento do que começou, foram os que conceberam o veloz e eficaz modelo FW36 de Massa e Bottas, o projetista-chefe Ed Wood e o aerodinamicista Jason Somerville.
 
"É verdade, basicamente o grupo técnico é o mesmo", comentou Symonds. "Eu intervi na integração da unidade motriz (o motor V-6 Turbo de 1,6 litro e os dois sistemas de recuperação de energia) com o chassi e, principalmente, na maneira que trabalhavam na área de aerodinâmica", explica o engenheiro.
 
"Havia pouco diálogo entre os vários setores do carro. Desenvolviam soluções no túnel de vento, que de fato geravam maior pressão aerodinâmica, mas que não podiam funcionar juntas. Eu os fiz pensar diferente, os novos componentes tinham de ser concebidos de forma integrada", afirmou Symonds.
 
Da forma como os técnicos realizavam seus estudos não havia como as inúmeras peças que a Williams tentou no carro do ano passado torná-lo mais rápido, na avaliação de Symonds. "Passamos a ver a coisa de maneira mais pragmática. As soluções tinham de ser integradas e cada componente novo deveria, necessariamente, representar um avanço para o carro."
 
Enche a boca ao abordar o resultado. "Fomos o time que melhor desenvolveu o carro ao longo do campeonato até agora. E tenho muito orgulho disso. Nos apresentamos com um carro razoável na Austrália e hoje tem sido o segundo mais rápido. A maneira como orientei os estudos aerodinâmicos funcionou. Essa era a área com maiores problemas na Williams."
 
Além de tentar terminar o Mundial de Construtores em segundo lugar, atrás apenas da Mercedes (nesse momento a Red Bull está em segundo, com 188 pontos, 67 a mais da Williams), a grande tarefa de Symonds, agora, é preparar a escuderia para enfrentar a realidade de 2015.
 
"Será um grande desafio. O campeonato vai ser muito mais disputado. Enfrentaremos adversários muito mais bem preparados. A Renault e a Ferrari vão produzir unidades motrizes bem mais eficientes que as atuais e os projetistas de Red Bull, Ferrari e McLaren, por exemplo, vão entender onde erraram este ano e explorar o que deu certo nos times que hoje estão vencendo", explica Symonds.
 
Atualmente, a Williams é na maoria das pistas a segunda força da F1. "Em 2015 essa luta será intensíssima." Mas a estrutura da organização de Frank Williams não deve, na visão de Symonds, a nenhuma outra na F1. "Talvez na área de testes estáticos do carro perdemos um pouco, ainda, mas quando conheci a fábrica disse uau!, fiquei impressionado, a Williams tem de tudo, como um túnel de vento fantástico."
 
E explicou a razão: "O negócio de Frank (Williams) não foi durante muito tempo, até colocar ações da equipe no mercado, ganhar dinheiro. O que recebia investia no time, se a equipe necessitava de algo não media esforços para ter. Portanto, tudo o que precisamos para continuarmos fortes nós temos." 
 
O súbito crescimento deste ano não é um episódio isolado, comenta Symonds. A Williams voltou à luta pelas primeira colocações e é, agora, para ficar. Massa tem contrato até o fim de 2016. Bottas, até quando o sócio do time e seu empresário, Toto Wolff, sócio e diretor da escuderia Mercedes também, desejar.
 

Fórmula 1