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Fórmula 1

F1 virou uma competição amadora de kart indoor no GP da Bélgica

Livio Oricchio

Do UOL, em Spa (Bélgica)

22/08/2014 13h17

A F1 é, em geral, um mundo ultraprofissional. Mas, curiosamente, tem seus momentos de elevado amadorismo, como é o caso, neste fim de semana no circuito Spa-Francorchamps, da definição do companheiro de Jules Bianchi na Marussia.

Primeiro a equipe anunciou, quinta-feira, que o norte-americano Alexander Rossi substituiria o inglês Max Chilton na 12.ª etapa do campeonato, o GP da Bélgica. Chilton, na tentativa de reduzir o desgaste da sua imagem, afirmou que estava deliberadamente colaborando com o time, ao ceder seu lugar a Rossi.

Mas nesta sexta-feira, menos de 24 horas depois do anúncio da Marussia e da suposta demonstração de desprendimento de Chilton, a mesma equipe distribuiu comunicado para informar que Chilton seria o seu piloto em Spa-Francorchamps. 

Haja vista que no treino livre da manhã Rossi treinou com o carro da Marussia é à tarde foi a vez de Chilton. Pela manhã Rossi estabeleceu o 20.º tempo, a 1 segundo e 450 milésimos de Bianchi, 19.º. À tarde, Chilton ficou em 18.º, a 1 segundo e 264 milésimos de Bianchi, 16.º.

O "espetáculo" que a F1 tem oferecido em Spa lembrou as competições de kart indoor entre grupos de amigos que, de repente, decidem tirar um racha final e cada grupo escolhe os seus melhores pilotos para a prova. "Vai você, João", diz um. O outro responde: "Não, não, você é melhor, Carlos, mais rápido, vai você". 

O UOL Esporte viu Bernie Ecclestone no paddock da pista belga e o máximo que conseguiu do principal dirigente do espetáculo foi um gesto típico com as mãos, como quem não deseja nem pensar no tema, certamente incomodado com o fato de a Marussia ter agido como se a F1 fosse uma brincadeira de colegas de trabalho.

Já na terça-feira a direção da Caterham deixou os fãs da F1 sem saber o que pensar ao divulgar que o alemão Andre Lotterer, de 32 anos, iria substituir o japonês Kamui Kobayashi no GP da Bélgica. Ele é um ídolo no Japão. Todos os consideram o melhor japonês que já competiu na F1. E foram os 2 milhões de dólares que os fãs arrecadaram que o levaram a assinar com a Caterham, este ano.

Ninguém diz nada tanto na Caterham quanto na Marussia sobre as mudanças de pilotos, o que reforça o amadorismo de como esse processo está sendo conduzido e, com certeza, desagradou bastante os interessados pelo evento e Ecclestone. O diretor da Marussia, Graeme Lowdon, limitou-se a dizer: "O que aconteceu é o resultado na mudança das condições". 

O que se comenta no paddock é que por Chilton estar com os pagamentos atrasados com a Marussia, e Rossi tinha um patrocinador pronto para investir, a direção da Marussia, recorrendo ao que está escrito no contrato de Chilton, o substituiu por Rossi. 

Mas também de acordo com os rumores no autódromo, o piloto inglês teria realizado o pagamento e, dessa forma, a Marussia teve de cumprir o contrato com Chilton. Como os anúncios, em escala mundial, pelo visto significam pouco para os responsáveis pelo time, fica o dito pelo não dito e o não dito pelo dito. 

E quem recebe o impacto maior de tamanho amadorismo é a F1, cuja imagem já anda um tanto combalida com a mudança radical do regulamento este ano, pois mais desagradou a torcida do que aumentou o seu interesse pela competição.

Nesse momento, fim das duas primeiras sessões livres do GP da Bélgica, Chilton vai participar amanhã no terceiro treino livre. Mas o histórico do fim de semana sugere cautela. Como a FIA parece não impor limites para essas alterações de última hora, demonstrando o seu lado amador também, a Marussia pode alegar "motivo de força maior" e de repente voltar com Rossi. 

O regulamento diz ser possível um piloto iniciar o GP no primeiro treino livre e depois outro o substituir. Como ocorre com frequência. Mas se o time alegar que um dos seus pilotos não tem condição física de seguir no evento, caracterizando o chamado "motivo de força maior", existe a possibilidade de nova troca. 

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