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Fórmula 1

Hamilton, Alonso e Vettel podem, de fato, ir para a McLaren?

Livio Oricchio

Do UOL, em Nice (França)

28/08/2014 13h37

O interesse de Ron Dennis, sócio da McLaren, e seu diretor, Eric Boullier, por um piloto comprovadamente capaz de liderar a elevação da equipe à condição de vencedora novamente, é explícito e não novo. E os pilotos que atendem ao pré-requisito de ambos e da Honda, parceira da McLaren a partir do ano que vem, são poucos.

No último fim de semana, no paddock do Circuito Spa-Francorchamps, na Bélgica, falou-se muito sobre quem poderiam ser os pilotos da McLaren-Honda já em 2015 ou de 2016 em diante. A lista de Dennis e Boullier é restrita: Lewis Hamilton, hoje na Mercedes, Fernando Alonso, Ferrari, e Sebastian Vettel, Red Bull-Renault.

Quais as chances de cada um de se transferir para o time que conquistou 12 títulos mundiais de pilotos, só perde para a Ferrari, com 15, e 8 títulos de construtores, menos eficiente apenas que a Williams, com 9, e a Ferrari, 16?

Em primeiro lugar, os três pilotos desejados pela McLaren-Honda têm contrato para o ano que vem. O compromisso de Hamilton com a Mercedes e o de Vettel com a Red Bull termina no fim de 2015. E o de Alonso com a Ferrari, em 2016.

Portanto, no caso de um dos três aceitar o convite de Dennis e Boullier, alguém vai ter de pagar a multa rescisória. E com certeza não é baixa. Os três recebem por ano pouco mais de 20 milhões de euros, valor estimado da multa. Mais: para aceitar o convite, os três exigiriam receber mais do que ganham hoje.

Dennis e Boullier se expuseram de forma tão acintosa no mercado, sem esconder suas intenções, por terem convencido os japoneses ser fundamental para a McLaren-Honda voltar a ser uma escuderia vencedora, e rápido, investir pesado na contratação desses pilotos, comprovadamente capazes de fazer a diferença.

Em outras palavras, se a Honda tiver de pagar, mesmo que valores elevados, para contar com Hamilton, Alonso ou Vettel, não hesitará. Está no seu orçamento de F1. É por isso que Dennis e Boullier abrem o jogo com quem fala com eles. Têm lastro.

Se dinheiro não é problema, o que impede os pilotos, então, de aceitar o convite?

Cada um dos três tem sua história especial. Hamilton está desgostoso na Mercedes. Acredita, firmemente, que Nico Rosberg está jogando sujo para vencê-lo. Mas Hamilton sabe, também, que a equipe conta hoje com estrutura técnica e base financeira para se manter dentre os que vão lutar pelo título por alguns anos, pelo menos.

Hamilton, menos estresse, agora

O piloto inglês tem um advogado de defesa de peso dentro do grupo, Niki Lauda, sócio do time e responsável maior por convencê-lo a trocar a McLaren pela Mercedes, no fim de 2012. Agora, depois do ocorrido no GP da Bélgica, com as regras ficando claras sobre o que cada piloto da Mercedes pode fazer na pista, o ambiente deve melhorar para Hamilton.

As conversas para estender o seu contrato até já começaram. Foram interrompidas, agora, para que as duas partes se concentrem na conquista dos títulos de pilotos e construtores.

Apesar do estresse com Rosberg em provas como as de Mônaco, da Hungria (a equipe pediu no rádio para deixar o piloto alemão ultrapassá-lo, pois estava em outra estratégia e não foi atendida) e Bélgica, Hamilton não vive um clima de guerra como se pode pensar. Sabe que pode ainda ser campeão do mundo, apesar da importante desvantagem na classificação, 220 a 191. Restam sete etapas. A próxima é dia 7, em Monza, na Itália.

Os 7 ou 8 milhões de euros que receberia a mais na McLaren-Honda não parecem estimulá-lo para trocar a certeza de lutar pelo título da Mercedes pela promessa de seu ex-time. Com Rosberg, agora, controlado mais de perto por Toto Wolff e Lauda, Hamilton deverá, na teoria, se desgastar menos, sentir-me menos injustiçado.

É bem pouco provável que Hamilton aceite trocar a Mercedes pela McLaren em 2015. E como nesse caso renovará com a escuderia alemã por pelo menos mais dois anos, 2016 e 2017, portanto também em 2016 seria surpreendente a mudança.

Mas, claro, no caso de perda do título, este ano, para um piloto que sempre derrotou, desde o kart, Rosberg, poderia provocar em Hamilton uma reação inesperada, tomada por razões emocionais. Também não deve ser excluída essa possibilidade, mas é pequena.

Alonso, risco por risco...

Tudo o que Fernando Alonso mais deseja na vida é dispor de um carro que lhe permita disputar o título. Dentro de si, considera-se o melhor. E só não venceu mais campeonatos, além do de 2005 e 2006, pela Renault, por culpa das equipes com quem trabalhou.

A opção de trocar a Ferrari, agora bem reestruturada, pela McLaren-Honda em 2015 parece, também, não atraí-lo. Há grandes dúvidas se a McLaren produzirá um chassi competitivo e até se a Honda, sem a experiência de uma temporada dos concorrentes, Mercedes, Renault e Ferrari, será capaz de disponibilizar uma unidade motriz eficiente.

Por unidade motriz entenda-se o motor V-6 Turbo de 1,6 litro e os dois sistemas de recuperação de energia, MGU-K, cinético, e MGU-H, térmico.

Aposta por aposta, a da Ferrari é mais segura para Alonso. Há menos variáveis em jogo. Está acompanhando de perto o trabalho da nova dupla de projetistas, o inglês James Allison, chassi, e o sul-africano Dirk de Beer, aerodinâmica, os responsáveis pelos velozes carros da Lotus em 2012 e 2013. O grego Nikolas Tombazis, responsável pelos carros da Ferrari desde 2007, desta vez será um coadjuvante do projeto.

Alonso viu também que na área da unidade motriz o maior responsável pelo fracasso deste ano, Luca Marmorini, foi substituído por Mattia Binotto. E com a liberdade permitida pelo regulamento para 2015, uma nova unidade motriz está sendo concebida. Mais: Marco Mattiaci, novo diretor geral, pode não entender de F1, mas é um líder. Fala pouco e cobra muito, como exige a F1.

O caso de Alonso é ainda mais contundente que Hamilton quanto ao estímulo que a McLaren-Honda representa: pouco. De novo, não são os 7 ou 8 milhões de euros que os japoneses lhe pagariam a mais que o fariam sair da Ferrari e ir para a McLaren.

Se em 2015 a McLaren-Honda mostrar progressos inequívocos, aí sim poderá representar uma opção válida para Alonso a partir de 2016, desde que a Ferrari não cresça como parece ser possível em 2015.

Vettel, forte razão para sair

O caso de Sebastian Vettel é particular. E diante das circunstâncias que o cercam, representa o único dos três pilotos que concordaria em deixar sua equipe para aceitar o desafio da McLaren-Honda já em 2015. Teria sérias razões para isso.

A principal: está ficando cada vez mais embaraçante para ele competir ao lado de Daniel Ricciardo. O jovem australiano de 25 anos já venceu três GPs, na temporada de estreia na Red Bull, enquanto Vettel, nenhum. Ricciardo soma depois de 12 etapas 156 pontos, é o terceiro colocado no Mundial. Vettel, 98, sexto.

Tudo de excepcional que Vettel conquistou nos últimos quatro anos, quando foi tetracampeão, está em xeque, para muita gente fora e até dentro da F1. Vettel obteve nesse período quase todas as impressionantes 39 vitórias e 45 poles, colocando-se nas estatísticas dentre os maiores de todos os tempos.

Já não são poucos os que creditam tanto sucesso à excepcional velocidade e resistência dos carros da Red Bull-Renault projetados pelo genial Adrian Newey.

Se em 2015, ao lado de Ricciardo de novo, Vettel continuar perdendo a disputa e por muito, irá ferir irremediavelmente sua fama de piloto. Este ano há ainda a atenuante de que o regulamento é novo e a Red Bull, e principalmente a Renault, não responderam com a mesma eficiência da Mercedes.

O modelo RB10 não reage como Vettel gosta, acostumado com monopostos muito velozes e equilibrados. Ao contrário de Ricciardo, que não é tão sensível a carros não estáveis. Vem de outra escola, HRT e Toro Rosso.

É bem provável que a essa altura Vettel esteja pensando com carinho no convite de Dennis e Boullier. Na McLaren-Honda, sua função seria liderar a equipe a fim de levá-la a ser competitiva em 2016, por exemplo. Isso o isentaria de responsabilidade maior em 2015. E o fracasso deste ano seria atribuído, de fato, a sua pouca adaptação do modelo da Red Bull deste ano.

É bem diferente de nova derrota para Ricciardo em 2015. Vettel entrará na pista, no ano que vem, tendo, sim, de responder ao insucesso deste ano, quer queira ou não. Já começa o campeonato com uma responsabilidade maior da que normalmente tem.

E agora o pior: Vettel compreendeu de forma definitiva que Ricciardo não é Mark Webber. É um piloto muito mais capaz em todos os parâmetros. Para superar Ricciardo o alemão terá de se redescobrir, de novo uma experiência nova para ele, pois nunca se confrontou com ninguém melhor que Webber, seu companheiro desde 2009.

O que a F1 está expondo este ano é que Webber tinha limitações mais severas do que se imaginava. E que, talvez, Vettel seja brilhante, mas sua extraordinária velocidade e regularidade se manifestam somente quando conta com um carro em que seu estilo se encaixa perfeitamente. Qualquer coisa fora desse modelo de monoposto já compromete sua eficiência.

Diante desse quadro, não seria tão surpreendente assim se Vettel, depois de relação quase simbiótica com a Red Bull, decidisse respirar outros ares. Por uma única e exclusiva razão: não desejar confrontar seu trabalho com Ricciardo, um piloto que, sem ninguém esperar, mostrou estar no nível dos melhores da F1.

Seja como for, a definição dos destino dos três não vai demorar. Para a F1 seria fabuloso um dos três se transferir para a McLaren-Honda. Não apenas pela expectativa criada, mas por liberar sua vaga nos times atuais, o que representaria outro foco de interesse dos fãs da F1.

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