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Fórmula 1

GP da Rússia foi precedido por polêmica e riscos. Agora, vem para ficar?

Autódromo de Sochi receberá o Grande Prêmio da Rússia a partir desta sexta-feira - REUTERS/Eric Gaillard
Autódromo de Sochi receberá o Grande Prêmio da Rússia a partir desta sexta-feira Imagem: REUTERS/Eric Gaillard

Do UOL, em São Paulo

10/10/2014 13h00

A partir desta sexta-feira, a Fórmula 1 dá um novo passo no rumo aos mercados emergentes mundiais. Com a entrada da Rússia no calendário, a categoria desbrava um novo território, com um automobilismo emergente, dinheiro para investir, intenções e polêmicas.

A escolha de Sochi para sediar a prova, no lugar de cidades como Moscou ou São Petersburgo, não foi aleatória. Trata-se de um conhecido balneário às margens do Mar Negro que atrai russos durante o verão. Não por acaso, o Autódromo de Sochi tenta fortalecer a imagem da região de Krasnodar como um destino turístico da Rússia e do Leste Europeu.

“Neste mês de outubro, a cidade vai se tornar um centro de atenção para centenas de milhares de pessoas e fãs do automobilismo de todo o mundo”, declarou Aleksandr Tkachev, governador de Krasnodar, em material promocional divulgado durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 também em Sochi, em fevereiro.

“O autódromo, capaz de hospedar um Grande Prêmio, é uma importante parte da herança olímpica que irá desenvolver o automobilismo na região. Além disso, este megaprojeto irá trazer colossais benefícios econômicos por muitos anos”, completou Tkachev.

O fato da pequena Sochi (menos de 350 mil habitantes) permanecer no noticiário esportivo mundial ao longo de todo o ano de 2014 é uma vitória política dos governantes locais. No entanto, nem tudo que se assistiu, ouviu e leu a respeito da cidade-sede do Grande Prêmio da Rússia nos últimos anos tem sido uma propaganda positiva para o local.

Embora as obras para o Autódromo de Sochi tenham começado em 2011, os protestos contra os eventos internacionais no local ganharam força internacional apenas em 2014. O principal alvo é Vladimir Putin, presidente da Rússia.

Em fevereiro, por exemplo, a banda de rock Pussy Riot tentou gravar um videoclipe de protesto contra Putin em Sochi, mas suas integrantes foram presas a chicotadas pela polícia local. Cinco meses depois, um possível boicote à prova foi incentivado por diferentes grupos, principalmente mediante à crise política entre Rússia e Ucrânia na região da Crimeia.

O boicote contra Putin, porém, não ganhou força na F-1. “O que está acontecendo na Rússia e naquela parte do mundo é de grande preocupação para todos (…). Mas nós sempre dissemos que, como esporte, nós tentamos nos desvencilhar de tomar partido político nestas coisas”, disse na ocasião Claire Williams, chefe auxiliar de equipe da Williams, segundo a agência de notícias Reuters.

A espera dos russos pela Fórmula 1

Aos trancos e barrancos, porém, o Grande Prêmio da Rússia saiu do plano das ideias. E, de quebra, chegou para marcar um momento importante do crescimento do automobilismo no Leste Europeu – e, especificamente, na própria Rússia.

Potência geopolítica da Guerra Fria, a então União Soviética passou a se abrir para o automobilismo internacional no início da década de 80, e chegou a tentar um Grande Prêmio na temporada de 1983. A prova acabou barrada por questões burocráticas nacionais, e a categoria só conseguiu sua passagem pela chamada Cortina de Ferro quando desembarcou na Hungria em 1986.

O que não quer dizer que o não houvesse interesse por competições no país. A partir da dissolução da União Soviética, em 1991, os pilotos que competiam internamente passaram a ganhar a Europa e o mundo. Na Fórmula 1, o primeiro a chegar oficialmente foi Sergey Zlobin, piloto de testes da Minardi em 2002.

Nas categorias de base, o automobilismo russo passou a revelar nomes com capacidade de alçar voos mais altos. Nomes como Vitaly Petrov, Daniil Kvyat, Sergey Sirotkin, Mikhail Aleshin e Ivan Samarin, entre outros, chegaram à Fórmula 1, à Fórmula Indy, à GP2 e à Fórmula 2, por exemplo. Na F-1, os russos chegaram ainda com duas equipes: Midland (2006) e Marussia (desde 2011).

Entre tantos avanços, conquistar uma vaga no calendário da elite do automobilismo mundial era um passo esperado para os russos. Veio então o aval da Formula One Management (FOM) em 2010, depois de algumas tentativas de Vladimir Putin. E, em 2014, com o Autódromo de Sochi concluído, os russos finalmente poderão acompanhar a Fórmula 1 correndo em casa.

O Autódromo de Sochi

A pista que receberá o Grande Prêmio de Sochi se tornou – voluntariamente ou não – um dos atrativos das Olimpíadas de Inverno de 2014. O traçado foi construído em meio a parte das instalações olímpicas, na chamada “Vila Olímpica da costa”. O local recebia competições de esportes no gelo, como curling, hóquei e patinação, enquanto as competições de neve eram disputadas na chamada “Vila Olímpica da montanha”, em Krasnaya Polyana.

Embora o traçado seja inédito para os pilotos, muitos deles já puderam conhecê-lo por meio de simuladores. “Como circuito, definitivamente há semelhanças com outras pistas. Talvez a melhor comparação seja com Cingapura. Mas, diferente de Cingapura, o layout é mais fluido, então será mais rápida. Alguns setores me lembram um pouco a Coreia do Sul ou Abu Dhabi”, analisou Sebastian Vettel. Não por coincidência, os circuitos de Cingapura, Coreia do Sul, Abu Dhabi e Rússia foram todos desenhados por Hermann Tilke.

Tilke aproveitou parte das instalações olímpicas de Sochi para desenhar o circuito. O setor mais emblemático do traçado, entre as curvas 2 e 5, dará a volta na praça que recebeu a Pira Olímpica em Sochi no primeiro semestre. A reta dos boxes foi construída nas proximidades, com obras inclusive durante o período olímpico. Instalações como o Iceberg Skating Center, o Bolshoy Ice Dome e a Adler Arena, todas utilizadas na Olímpiada de Inverno, estarão ao lado da pista.

Segundo o material promocional da prova divulgado durante o período olímpico, os pilotos chegarão a 320 km/h no traçado, que receberá também provas da GP2 e da GP3 durante o fim de semana da Fórmula 1. Entre os pilotos, a novidade é aguardada com expectativa.

“É sempre empolgante chegar a um local novo, particularmente a um novo circuito. Como piloto, é sempre legal ter uma novidade, e obviamente, a Rússia tem um layout novo para nós”, disse o australiano Daniel Ricciardo, da Red Bull. “Até aqui, vi apenas fotos do paddock e o desenho da pista, então chegarei com a mente aberta a respeito de expectativas. De qualquer forma, tenho altas expectativas, porque sei que os organizadores se esforçaram muito para fazer desta corrida um sucesso”, completou o alemão Nico Hulkenberg, da Force India.

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