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Fórmula 1

Câmera em capacete pode mesmo ter contribuído para lesão de Schumacher?

Livio Oricchio

Do UOL, em São Paulo

15/10/2014 07h11

Se o jornalista francês Jean-Louis Moncet soubesse que seu comentário despretensioso sobre o acidente de esqui de Michael Schumacher fosse gerar a repercussão e os desdobramentos que teve provavelmente jamais teria aberto a boca. Foi mais ou menos o que disse depois de ver o que aconteceu.

Moncet, especializado em Fórmula 1, pois vai a todas as corridas desde 1990, disse à rádio Europe 1 que um elemento que contribuiu para as lesões de Schumacher foi o fato de ele ter no seu capacete uma câmera GoPro, registrando as imagens da sua descida da montanha.

E como o jornalista citou ter se encontrado com Mick, filho do ex-piloto alemão, a impressão de quem ouviu a entrevista foi que Mick, de 15 anos, piloto de kart, teria sido quem lhe contou a história da câmera. "Eu não disse que falei com ele", defendeu-se o francês.

O caso ganhou tal dimensão que as ações da bem-sucedida companhia norte-americana GoPro, produtora da câmera de alta aceitação no mercado, caíram 16%. Moncet disse, depois, ainda, que seu comentário não atribuía culpa a ninguém.

O assunto não é novo. Há alguns meses circulou no paddock dos autódromos onde a F1 corre essa história de que a câmera de vídeo instalada na porção alta do capacete teria sido o que primeiro tocou na rocha, quando Schumacher caiu.

E como a câmera é fixada com uma haste fina no capacete, as tensões do choque teriam se concentrado num ponto apenas do capacete, contribuindo bastante para ocasionar a fratura do crânio e a hemorragia que se seguiu.

Os capacetes são projetados e construídos com a função de distribuir por toda a sua superfície as forças que o atingem, exatamente para esse fim, reduzir as chances de causar uma lesão mais séria no ponto do impacto. A câmera, segundo essa hipótese, teria alterado as especificações de segurança do capacete.

Mas diante da ausência de informações sobre tudo o que cerca o episódio ocorrido com Schumacher no fim do ano passado, essa versão da câmera não foi muito considerada.

O UOL Esporte conversou com o diretor médico do GP do Brasil de F1, o doutor Dino Altmann, médico da FIA também. Sua opinião é a mesma da maioria na F1. É pouco provável a existência de uma relação entre o uso da câmera GoPro e o drama do ex-piloto.

"Sabemos que quando Schumacher caiu, bateu com o lado esquerdo do capacete na pedra. E a câmera é normalmente instalada em cima, centralmente. Para a câmera ter interferido no acidente, teria que estar do lado esquerdo do capacete, o que não parece ter sido o caso", explica Altmann.

Histórico

No dia 29 de dezembro, Schumacher esquiava com o filho Mick na estação de esqui de Méribel, nos Alpes franceses, cerca de 200 quilômetros distante de onde reside, em Gland, na Suíça, a 12 quilômetros ao sul de Lausane, no lago Le Mans.

O ex-piloto saiu da pista de esqui, espontaneamente, talvez para tornar a descida mais emocionante, mas caiu e chocou a cabeça protegida com o capacete numa rocha. Sangrando, mas consciente, foi levado para o Hospital Moutier, próximo à estação.

Como o quadro se agravou rapidamente, levando-o a perder a consciência, os médicos o encaminharam de helicóptero para o Hospital Universitário de Grenoble. Já em coma, entrou imediatamente em cirurgia, a fim de conter a hemorragia. Mas os danos neurológicos estavam feitos.

Dia 3 de janeiro completou 45 anos de idade, desacordado no hospital, sempre com a esposa, Corinna, do lado. Nesses dias recebeu a visita de médicos de grande reputação internacional, como o doutor Gerard Saillant, francês, envolvido no projeto da FIA de pesquisar acidentados com limitações em decorrência de lesões neurológicas.

A assessora de imprensa de Schumacher, a alemã Sabine Kehn, permitiu com sua postura amadora, de procurar esconder tudo de todos, que as mais fantasiosas versões sobre o ocorrido com o ex-piloto fossem comentadas no mundo todo.

No dia 16 de junho, mais de seis meses depois de ser internado em estado crítico, Schumacher deixou o Hospital Universitário de Grenoble para seguir o tratamento no Centro Hospitalar de Vaud, em Lausanne, a 20 minutos de carro da sua residência, especializado em reabilitação de pacientes com o quadro do alemão.

Nesse dia, Kehn distribuiu um comunicado para informar a mudança de hospital e no meio do texto, quase subliminarmente, escreveu que Schumacher havia saído do coma. O que de mais importante aconteceu desde o acidente foi divulgado com algo de menor importância pela assessora.

A última notícia oficial data de 9 de setembro. Mais uma vez Kehn escreveu que Schumacher deixou o Hospital de Vaud e seguiria a recuperação na sua própria residência.

Não se sabe se Schumacher é capaz de interagir com a família, os médicos, os fisioterapeutas, não se conhece nada a respeito da real condição do ex-piloto. Os médicos são, em geral, céticos quanto às chances de Schumacher estar mantendo estado de vigília constante e compreender tudo o que se passa do seu redor.

Enquanto competiu, Schumacher foi na maior parte do tempo um fenômeno. Entre 1991 e 2006 venceu sete títulos mundiais, estatisticamente é o maior de todos os tempos. Voltou a correr entre 2010 e 2012, pela Mercedes, equipe que o patrocinou para estrear na F1, mas não era mais o excepcional piloto de antes.

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