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Como a baixa estatura do irmão ajudou Pietro Fittipaldi a seduzir a Ferrari

O convite era para o irmão menor, Enzo (em pé), mas a sorte sorriu para o Pietro - Arquivo pessoal
O convite era para o irmão menor, Enzo (em pé), mas a sorte sorriu para o Pietro Imagem: Arquivo pessoal

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 06h00

Caso Pietro Fittipaldi acredite que um campeão precisa de sorte, deve encomendar uma prateleira bem grande para sua residência. O neto de Emerson Fittipaldi recebeu um convite inesperado para integrar a Academia de Pilotos da Ferrari. A equipe havia chamado o irmão dele, Enzo, 13 anos de idade, para uma semana de testes. Na hora de pilotar, perceberam que o menino era muito pequeno para o carro e a alternativa foi convocar Pietro, 18 anos, na última hora.

O jovem piloto aceitou o surpreendente convite e encantou a equipe mais vitoriosa da história da Fórmula 1 baixando em meio segundo o tempo que a Ferrari considerava ideal para pista. O feito foi registrado em um carro de uma categoria que ele jamais havia guiado. Após o bom desempenho veio a oferta que coroou a semana.
 
Para compreender com mais detalhes a sucessão dos fatos: Enzo, irmão mais novo, recebeu um convite para participar de quatro dias de testes enquanto Pietro estava treinando em Jerez de la Fronteira, na Espanha. Após os problemas enfrentados por Enzo no cockpit, Pietro recebeu uma ligação do pai na terça-feira falando da oportunidade.

Voou até Itália e entrou num Fórmula 3 para andar na pista de Fiorano, que fica junto a fábrica da Ferrari. Enquanto o irmão mais velho foi acelerar, coube ao caçula torcer. Em 2015, Enzo voltará para os Estados Unidos, onde compete e mora com a família.
 
O pai da dupla, Gugu da Cruz, exalta o meio segundo obtido pelo filho: “Meio segundo em 20 voltas são 10 segundos”. Mas ressalta que não há nada definido por causa de questões contratuais. O convite foi feito pelo chefe da Academia Ferrari, mas ele respondeu que o filho é piloto da equipe Telmex, de propriedade de Carlos Slim, homem mais rico do mundo de acordo com a Revista Forbes. As duas partes estão negociando e Emerson Fittipaldi entrou na conversa para ajudar a encontrar uma solução.
 
Gugu está otimista e sustenta a confiança no histórico de Sergio Pèrez. O piloto também tinha contrato com Carlos Slim, mas foi integrado ao programa de desenvolvimento da Ferrari. A resposta deve sair em questão de semanas e Pietro afirma que está conseguindo controlar a ansiedade.
 
Mas ele sabe que a inclusão na Academia da Ferrari faria bem para seu crescimento como piloto. O jovem ressalta que não iria dirigir carros da escuderia, mas receberia o apoio dos engenheiros da equipe e dos drivers coach, espécie de instrutores de pilotagem, em treinos e corridas. Também teria acesso a simuladores e ao mental room – um sala em que são desenvolvidas habilidades visuais como visão periférica e melhorado o tempo de resposta a estímulos. Por último, terá a disposição o conhecimento acumulado pela equipe mais vencedora da história da Fórmula 1 e que desde 1950, ano de estreia da categoria, está competindo.
 
“Tem muita informação, muita experiência e isso para um piloto não tem preço”, resume Pietro.
 
Claro que o objetivo final do jovem piloto é chegar a Fórmula 1 e é consenso que participar da Academia Ferrari facilitaria o caminho. Ele não tem um prazo e nem promete que um dia estará num carro de Fórmula 1, mas garante que está dando o máximo. “Tô trabalhando para chegar, lógico que quero chegar. Todo mundo pergunta quando você vai chegar, mas tem muitas coisa que não dá para adivinhar.”
 
Seria o estágio final de uma paixão que começou aos cinco anos, quando ganhou o primeiro kart do pai e do avô. No começo ia uma vez por mês para o autódromo, depois duas, três e aos oito já estava competindo. O piloto se criou nas pistas porque quando não estava correndo acompanhava os tios Christian Fittipaldi e Max Papis, piloto italiano casado com uma filha de Emerson.
 
Crescendo neste ambiente ganhou um título numa categoria da Nascar em 2011. Ano passado começou a pilotar monopostos ao mudar para Inglaterra. De cara, conquistou o título da Fórmula Renault inglesa e ano que vem ainda não definiu se vai para Fórmula 3 ou Fórmula Renault Europeia.
 
Enquanto evolui na busca de um sonho, o garoto vai amadurecendo como pessoa. Ele cresceu nos Estados Unidos, onde os pais e o irmão moram. Agora vive em Camberley, pequena cidade da Inglaterra. Além das habilidades de piloto, tem desenvolvido talentos de 'dona de casa'. Apesar da boa condição financeira da família, Pietro não ganhou uma casa com empregada e mordomo. Tem que se virar sozinho. 
 
“Comecei fazendo só ovo mexido e agora já tô cozinhando uma massa, arroz, feijão, carne e frango. Eu melhorei”. 
 
Mesmo assim com os dotes adquiridos não se sente apto a fazer um jantar para família. O aprendizado doméstico não se limita a cozinha. Também passou a arrumar o quarto, limpar e lavar roupa. Aliado a isso, termina o último ano do colégio. Professores norte-americanos mandam a lição por e-mail e esta é a primeira atividade do dia. 
 
Após os estudos, Pietro vai para a academia aprimorar o físico. O jovem piloto vai deixar as categorias júnior para guiar carros maiores e músculos ajudarão na tarefa. Em três dias da semana tem compromisso é com a equipe. Treinos, estudar a telemetria dos carros e a parte mecânica fazem parte das obrigações.
 
O vestibular do jovem Pietro é por uma vaga na Fórmula 1, um dos testes mais apertado que existem. Uma passagem na Academia Ferrari ajudaria bastante.
 

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