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Fórmula 1

Equipe brasileira é lembrada como fracasso. Mas resultados merecem respeito

Folhapress
Imagem: Folhapress

Julianne Cerasoli

Do UOL, em São Paulo

14/12/2015 06h00

Nos fatos, uma equipe que chegou a terminar um campeonato à frente da Ferrari e conquistou pódios. No imaginário brasileiro, um fracasso apelidado de “tartatuga” e “açucareiro”. No aniversário de 40 anos da equipe Copersucar-Fittipaldi, o único time brasileiro da categoria começa a fazer as pazes com a sua história.

O projeto começou ainda em 1973, com apenas quatro pessoas, mas só virou realidade dois anos depois, com o apoio da Copersucar e tendo Emerson Fittipaldi, já bicampeão do mundo e tido como um dos grandes astros da época, como piloto a partir de seu segundo ano de existência.

“Eu e o Wilson sempre fomos por esse caminho e nosso sonho era ter uma equipe e um carro brasileiro, porque tinha tudo a ver com o nosso perfil”, disse Emerson ao UOL Esporte. “Eu era meio empreendedor, comecei construindo volantes. Foi uma experiência difícil, mas espetacular. Poder estar nesse mundo foi muito bom.”

O carro foi apresentado em 16 de outubro de 1974, com pompa, em Brasília, e disputou sua primeira prova na Argentina, no início do ano seguinte. Na época, o time já contava com o ex-mecânico-chefe da Tyrrell, Jo Ramirez, como chefe. Ramirez se tornaria, nos anos seguintes, figura importante na administração da McLaren e uma das pessoas mais próximas a Ayrton Senna na Fórmula 1.

Ramirez não foi o único grande nome que passaria pela Copersucar. O campeão do mundo de 1982 Keke Rosberg foi um dos pilotos, Harvey Postlethwaite, que viria a ser projetista da Ferrari, e Adrian Newey, um dos maiores gênios da história do esporte, com títulos na Williams, McLaren e Red Bull, também fizeram história no time brasileiro.

As primeiras duas temporadas foram difíceis, com apenas três pontos marcados - ainda que, na época, apenas os seis primeiros colocados pontuassem. Comparando-se com os dias atuais, em que os 10 primeiros pontuam, contudo, a Copersucar teria feito, em 1976, mais pontos (36 contra 27) que a poderosa McLaren obteve em 2015.

Nos dois anos seguintes, foram cinco quartos lugares - mais do que equipes do meio do pelotão, como Force India, Lotus ou Toro Rosso, conseguiram neste ano. O time conseguiria seu primeiro e mais festejado pódio em 1978, com Fittipaldi, no GP do Brasil e, após mais uma temporada seguinte em 1979, voltaria outras duas vezes no pódio em 1980.

Foi neste ano em que a Copersucar superou a Ferrari, com 11 pontos. Traduzindo para a pontuação de hoje, aquela campanha daria ao time 58 pontos em um campeonato de 14 etapas. Hoje, com 19 provas, a tradicional Sauber não passou de 36 pontos, por exemplo.

Contudo, a má imagem da equipe no Brasil e o consequente desinteresse dos patrocinadores foram minando as possibilidades da equipe a partir de 1982, culminando com seu fim no ano seguinte.

Os irmãos nunca esconderam a mágoa pela falta de reconhecimento no Brasil devido à falta de vitórias. Essa ideia de que o time era um fracasso, inclusive, acabou afastando os patrocinadores, justamente quando a equipe estava melhor organizada e Emerson acreditava que tinham feito um bom carro.

“O último ano da equipe também foi especial”, relembrou Emerson. “Foi quando desenhamos um carro muito rápido, mas não tinha orçamento para continuar. Foi quando o Tim Wright [que depois faria os carros do bicampeonato de Alain Prost na McLaren] e o [Ricardo] Divila desenharam e o Adrian Newey era o engenheiro júnior, era o aerodinamista, um gênio. A primeira vez que andamos na Alemanha, o Keke foi muito bem. Era o carro que ia projetar a gente à frente, mas o patrocinador parou de bancar, infelizmente a equipe acabou.”

A equipe dos Fittipaldi faria sua última corrida no GP da Itália de 1982, já sem Emerson, que se aposentara dois anos antes. Mas ficou para a história com um currículo de respeito, sendo a 35ª equipe com mais pontos entre as 159 que já correram na história da Fórmula 1. 

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