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Fórmula 1

Com estilo ousado e temperamento forte, pai campeão é o oposto de Nico

Michael King/Getty Images
Imagem: Michael King/Getty Images

Do UOL, em Abu Dhabi

24/11/2016 06h00

No GP da Inglaterra de 1985, Keke Rosberg já era o mais rápido na classificação quando resolveu voltar à pista, após uma leve garoa, para fazer uma tentativa final que os demais consideraram uma perda de tempo. E, colocando o carro de lado em sua tocada intensa, melhorou seu tempo e obteve, então, a maior média de velocidade da história daquele traçado de Silverstone.

Não é uma cena que esperamos ver Nico Rosberg repetir. Bem mais disciplinado e contido que o pai, o alemão traçou um caminho completamente diferente, mas pode chegar ao mesmo objetivo neste final de semana: tornar-se campeão do mundo.

Apesar de, especialmente nas últimas décadas, vários filhos de ex-pilotos terem surgido no automobilismo, ver a segunda geração igualando o feito da primeira é raro na Fórmula 1: só aconteceu uma vez, quando Damon Hill, filho do bicampeão Graham, conquistou o título de 1996. Na época, o britânico ganhou o campeonato 34 anos após o último triunfo do pai, que morreu em 1975 em um acidente aéreo. E, neste final de semana, também 34 anos depois do único título de Keke, Nico pode fazer o caneco voltar à família Rosberg.

As diferenças entre os dois, contudo, são tão grandes que, há tempos, Keke já não acompanha mais de perto a carreira do filho, ao contrário do que acontecia quando o piloto da Mercedes estreou, justamente pelo time no qual o pai foi campeão, a Williams.

Tanto, que Nico hoje pouco busca o aconselhamento do pai. “Ele não me dá conselhos de pilotagem. E se ele o faz não são conselhos fáceis de assimilar. Depois que as coisas acontecem eu sempre acho que deveria ter seguido, mas o normal é que eu mantenha meu ponto de vista”, revela o líder do campeonato.

“Ele é muito inteligente e sempre me aconselha em vários aspectos, mas mais do lado administrativo. E às vezes eles faz comentários sobre estratégias e coisas do tipo.”

De fato, há mais diferenças que semelhanças tanto nas trajetórias dos dois, quanto na realidade da própria Fórmula 1 34 anos depois.
Keke, sueco de nascimento, mas correndo pela Finlândia, estreou na Fórmula 1 apenas aos 29 anos, em 1978, e chegou a desistir da categoria logo no ano seguinte, sendo chamado de volta para substituir James Hunt na Wolf no meio da temporada de 1979. Keke passou ainda pelos últimos anos difíceis da Copersucar - na época já conhecida como Fittipaldi - antes de ganhar uma chance de Frank Williams em 1982.

O time vinha de dois títulos de construtores, mas não seria a grande força da temporada: em tempos de efeito-solo, a Ferrari tinha se acertado para 1982 e a Renault também vinha forte, com o jovem Alain Prost e parecia que o título ficaria com o francês ou um dos ferraristas, Gilles Villeneuve ou Didier Pironi. Porém, o carro de Prost e de seu companheiro Rene Arnoux quebrava muito, Villeneuve morreu em um acidente na classificação da quinta etapa e Pironi sofreu um acidente seríssimo na Alemanha, sete GPs depois.

Com seis pódios - sendo apenas uma vitória - em 16 etapas, Keke foi coroado campeão na temporada que acabou ficando conhecida como a mais maluca da história.

Maluco também era seu estilo de pilotagem, extremamente agressivo e bastante diferente do filho, que demorou 11 temporadas para chegar à prova final como líder de um campeonato.

Se não tem nada do temperamento do pai, Nico ao menos aproveitou seus contatos para desenhar a carreira, primeiro com a Mercedes, que o apoiou desde o kart e, na F-1, da Williams equipe pela qual estreou em 2006, aos 20 anos.

Nas pistas, Nico sempre atendeu às expectativas, colecionando títulos em uma carreira acelerada nas categorias de base para evitar um embate direto com seu rival dos tempos de kart, Lewis Hamilton. Sempre um ano na frente do inglês, também nascido em 1985, Nico ganhou tudo até chegar na F-1.  Foram quatro temporadas e alguns pódios na Williams até o alemão ser chamado para fazer parte do novo projeto da Mercedes, que comprara a Brawn no final de 2009.

Superando sistematicamente Michael Schumacher, Nico foi ganhando respeito no paddock, mas a dúvida era o quanto a idade estava pesando para o heptacampeão. Quando Hamilton chegou ao time alemão, portanto, era sua chance de se medir contra um dos melhores do grid - e no auge. De 2013 para cá, o duelo foi equilibrado, mas Lewis sempre teve vantagem. Em 2016, contudo, Nico venceu 9 provas para se colocar em posição bastante favorável para conquistar o título neste final de semana, podendo ser campeão pela primeira vez com um simples pódio. E sem precisar de uma temporada maluca para igualar o pai.

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