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Contratada pela Sauber, colombiana quer 'aprender muito' e chegar à F-1

Tatiana Calderón será piloto de desenvolvimento da Sauber em 2017, ao mesmo tempo em que disputará a GP3. A meta é conquistar uma vaga na Fórmula 1 - se possível, logo - Divulgação/Sauber
Tatiana Calderón será piloto de desenvolvimento da Sauber em 2017, ao mesmo tempo em que disputará a GP3. A meta é conquistar uma vaga na Fórmula 1 - se possível, logo Imagem: Divulgação/Sauber

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

19/03/2017 04h00

Tatiana Calderón tinha oito anos em 1º de abril de 2001. Naquele dia, estava assistindo ao Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, marcado por uma arrojada ultrapassagem: logo na abertura da segunda volta, o colombiano Juan Pablo Montoya, da Williams, atacou a Ferrari do alemão Michael Schumacher na abertura do S do Senna, dando um chega para lá no então tricampeão e assumindo a liderança da corrida.

Montoya não completaria aquela corrida, abandonando na 38ª volta – Schumacher foi o segundo, atrás da McLaren de David Coulthard. Mesmo assim, aquelas imagens nunca saíram da mente de Tatiana – que, a partir de 2017, ocupará o posto de piloto de desenvolvimento da Sauber na Fórmula 1.

“Sempre segui Montoya. Cresci vendo suas corridas, e lembro-me bem daquela corrida em Interlagos, quando passou Schumacher”, contou a piloto colombiana, hoje aos 24 anos, em entrevista por telefone ao UOL Esporte.

Tatiana Calderón entrevista - @TataCalde/Twitter - @TataCalde/Twitter
Fã de Montoya, Tatiana trabalha para encerrar um longo jejum na categoria: desde 1992, uma mulher não participa da programação oficial de um Grande Prêmio
Imagem: @TataCalde/Twitter
Tatiana, porém, pode não ser apenas uma fã de Juan Pablo Montoya a chegar à Fórmula 1. Atualmente na GP3, onde disputará a temporada 2017 pela tradicional equipe francesa DAMS, a colombiana trabalha para chegar a uma vaga de titular na categoria, que não conta como uma mulher competindo desde que a italiana Giovanna Amati participou sem sucesso de três sessões de pré-classificação (África do Sul, México e Brasil) em 1992 pela Brabham.

É bem verdade que várias mulheres chegaram perto desde então. Nomes como Susie Wolff, Carmen Jordá, Maria de Villota, Simona de Silvestro, Katherine Legge e Sarah Fisher participaram de testes e treinamentos. Nenhuma delas, porém, conseguiu participar da programação oficial de um Grande Prêmio, nem mesmo com um treino livre de sexta-feira.

Esta é a missão de Tatiana. Com dois pontos na temporada 2016 da GP3, a colombiana espera evoluir e mostrar resultados consistentes para subir de categoria. A meta é chegar à F-1 – e ela não descarta repetir nomes como Esteban Ocon e Daniil Kvyat, que chegaram à categoria máxima do automobilismo mundial um ano após a conquista da GP3.

Até lá, por enquanto, dividirá seu tempo entre a GP3 e o trabalho como piloto de desenvolvimento da Sauber, que a fará praticar em simuladores antes de colocá-la em um carro da equipe para fazer testes. “É um primeiro passo importante em meu objetivo de correr ali”, afirmou.

Confira a entrevista da Tatiana Calderón ao UOL Esporte:

UOL: Você chegou a conversar com outras equipes além da Sauber?
Tatiana Calderón:
Não, somente com a equipe Sauber. Eles me contataram na GP3 no ano passado. Desde então, estivemos em contato.

UOL: E até que ponto ter uma mulher como a (chefe de equipe) Monisha Kantelborn na Sauber faz diferença para você?
TC:
Para mim, é um privilégio trabalhar com Monisha. Como piloto, seguramente há poucas mulheres (na Fórmula 1), talvez seja ela que me dará uma oportunidade. Mas (o fato de ser mulher) não é a única razão pela qual me escolheram.

UOL: A Sauber tem uma forte relação com a Ferrari. Você acha que isso pode ser bom ou ruim de alguma maneira na sua trajetória?
TC:
Creio que pode ser muito bom. A verdade é que não tenho nenhum contato com Ferrari, mas também pode ser uma boa referência. Estou muito contente por terem me aberto as portas e por me ajudarem em minha carreira.

UOL: Você já tem planos para os próximos anos? Fórmula 2, por exemplo?
TC:
Creio que agora é cedo para observar o que vem pela frente. Digamos que queremos ir passo a passo e concentrarmos muito neste ano, na GP3, e termos bons resultados, que podem abrir as portas para a Fórmula 1. Mas, se possível, gostaria de ir da GP3 para a Fórmula 1 (risos).

UOL: Você acha que pode estar pronta para estar na Fórmula 1 em 2018, por exemplo?
TC:
Creio que teria primeiro de provar o carro deste ano para realmente ter uma ideia. A equipe poderia me preparar para estar pronta. É isso que quero como piloto de desenvolvimento: aprender muito.

UOL: Na Fórmula 3 britânica, você teve importantes resultados, como um terceiro lugar em Nurburgring (2013). Qual é o impacto deste tipo de bom resultado na sua carreira?
TC:
Acredito que os bons resultados te dão confiança. Assim, posso competir em mais alto nível, e foi isso que significou para mim estar no pódio. Assim, creio que os resultados são importantes.

UOL: Em 2014, Simona de Silvestro teve uma oportunidade como piloto de afiliação da Sauber, mas isso não representou uma chance mais próxima à Fórmula 1 para ela – como, por exemplo, participação nos treinos livres. Você acha que chegar à Fórmula 1 como piloto de desenvolvimento te coloca em risco de não conseguir disputar uma vaga como titular?
TC: Bem, eles me abriram as portas, me deram a oportunidade de mostrar meu talento e capacidade de aprendizagem. Meu objetivo é correr em Fórmula 1, e, por isso, tenho que começar a aprender. Tenho que ir passo a passo e correr na GP3. É fundamental estar nas corridas.

Tatiana Calderón na DAMS - @TataCalde/Twitter - @TataCalde/Twitter
Em 2017, Tatiana correrá pela DAMS na GP3. Será sua segunda temporada na categoria
Imagem: @TataCalde/Twitter

UOL: Em 2015, Bernie Ecclestone disse que as mulheres não seriam levadas a sério na Fórmula 1. O que há de diferença por ser mulher na Fórmula 1?
TC:
Para mim, é uma motivação extra quando escuto esses comentários. Quero mostrar que estão equivocados. Sempre competi contra homens. É uma motivação para seguir adiante.

UOL: A saída de Bernie e a chegada do grupo Liberty Media à Fórmula 1 pode fazer diferença no acesso das mulheres à categoria?
TC:
Não. Creio que a mudança não teria nada a ver com que podemos fazer em pista, com o que as mulheres podem fazer na pista. Os tempos estão mudando. Um grande exemplo é a própria Monisha, ou também Ruth (Buscombe, estrategista da Sauber, ex-Ferrari e Haas). Há um montão de mulheres, e pouco a pouco, este espaço vai sendo conquistado.

UOL: Como é a relação entre as mulheres do automobilismo? Há algo em especial que aproxima vocês no esporte?
TC:
Pouco a pouco, vamos rompendo barreiras. Nos últimos anos, tivemos mais mulheres batendo na porta (da Fórmula 1). Falta o último empurrão, mas estamos perto. Há mais mulheres - não como piloto, mas como engenheiras e mecânicas. Temos mais meninas começando no esporte.

UOL: Por fim, você correu em algumas categorias contra pilotos brasileiros, como Sergio Sette Camara (que disputará a Fórmula 2 em 2017) e Pietro Fittipaldi (que esteve na Fórmula V8 3.5 em 2016). O que você pode falar sobre eles?
TC:
Conheço mais o Pietro. Nos damos muito bem. Ele é um grande piloto. Corri com ele na MRF Challenge Formula 2000 e creio que ele tem um grande futuro. Sobre Sergio Sette Câmara, é um piloto muito rápido, e mostrou em Macau (no Grande Prêmio de F3) com o terceiro lugar no ano passado.

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