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Não é só o fim das grid girls. Como "nova dona" começa a dar sua cara à F1

Vettel com grid girls em prova nos Estados Unidos em 2014; cena que não será mais vista na "nova F1" - Jim Watson/AFP
Vettel com grid girls em prova nos Estados Unidos em 2014; cena que não será mais vista na "nova F1"
Imagem: Jim Watson/AFP

Do UOL, em São Paulo

07/02/2018 04h00

A aquisição da Fórmula 1 pela Liberty Media, no segundo semestre de 2016, levou à categoria a expectativa de novos ares, mas também o temor de mudanças drásticas. Depois de uma temporada em que pareceu preocupada em “conhecer o terreno”, o grupo norte-americano iniciou 2018 anunciando novidades que mexeram com as emoções dos fãs e esquentaram o debate sobre as intenções da Liberty Media para a categoria. Mas, afinal, como será a cara da nova Fórmula 1 desejada pela empresa?

O fim das grid girls, que serão substituídas por crianças a partir da etapa inaugural em março, apenas foi a ponta com maior repercussão de uma série de medidas iniciadas em 2017 para melhorar a relação com a nova geração de fãs e se adequar a novos conceitos. A própria justificativa ao anunciar a mudança demonstra esta preocupação: “(O desfile de grid girls estava) em desacordo com as normas da sociedade moderna”, disse o comunicado.

Independentemente da discussão suscitada pelo anúncio, a Liberty Media deu um sinal claro de que seu foco está na renovação da imagem da categoria e na angariação de novos consumidores do produto. Dentro deste pacote entra o novo logotipo da Fórmula 1, lançado em novembro de 2017 e, nas palavras da diretora de marketing Ellie Norman, escolhido com “feedback dos fãs e em maior sintonia com plataformas digitais e móveis”.

Mas o que mais marcou o primeiro ano de comando da empresa foi a forma de interação, nos paddocks e nas redes sociais. Quem acompanhou de perto a temporada relatou a tentativa de aumentar a experiência de quem pagou ingresso, como a disposição de simuladores, maior presença dos pilotos em eventos e até a possibilidade de andar pelos circuitos.

Neste sentido, nada foi mais simbólico do que o alvoroço causado pelas imagens na transmissão de um jovem garoto chorando com o abandono de Kimi Raikkonen no GP da Espanha. A imagem viralizou nas redes sociais e os novos organizadores não perderam a oportunidade: levaram o menino ao paddock para conhecer o ídolo e o colocaram ao lado dos mecânicos ferraristas vibrando com o segundo lugar de Vettel diante do pódio. Uma abordagem inimaginável na antiga administração.

Garoto que foi flagrado pela transmissão e teve a oportunidade de conhecer Raikkonen - Reprodução - Reprodução
Garoto que foi flagrado pela transmissão e teve a oportunidade de conhecer Raikkonen
Imagem: Reprodução

Mas e na pista, o que a Liberty Media pretende?

A relação com os fãs pode ter sido a mudança mais viável neste primeiro momento, mas os planos da Liberty Media para a categoria não se limitam a isto. Embora alterações mais drásticas dentro da pista dependam de uma capacidade de articulação com as equipes e pilotos, desde que assumiu o comando a empresa já deu indícios do que pretende a médio e longo prazo.

Alfa Romeo está de volta à Fórmula 1 como parceiro da Sauber - Divulgação/Twitter - Divulgação/Twitter
Alfa Romeo está de volta à Fórmula 1 como parceiro da Sauber
Imagem: Divulgação/Twitter
Já para esta temporada, a Fórmula 1 terá as provas na Europa e no Brasil começando uma hora e 10 minutos mais tarde do que geralmente iniciavam, a maioria às 15h10 local. A intenção é conceder às transmissões um tempo maior para construção do conteúdo pré-prova, e assim aumentar a audiência das provas.

Para aumentar a competitividade, de início a Liberty Media abriu conversas com os circuitos para buscar padrões de traçados e de composição de asfaltos que favoreçam disputas de posições. Em um momento de efervescências, dirigentes influentes como Ross Brawn também dão seus pitacos, sendo que o diretor-esportivo sugeriu pistas mais largas para aumentar o desafio para os carros.

Neste sentido, a Liberty Media tem como meta conciliar os interesses esportivos e comerciais na formulação do calendário. A expansão para a América, embora vista com cautela pelas equipes, surge como maior força, com provas em Miami e Las Vegas entre as analisadas para integrar o circuito. Atualmente com 21 etapas, a temporada é vista pelos novos proprietários como passível de maior inchaço, da mesma forma do que o grid.

O número de 20 carros na pista incomoda a empresa, que com a série de alterações que começa a implementar tem como objetivo atrair marcas e montadoras para a categoria. A volta da Alfa Romeo, como parceira da Sauber após 30 anos ausente da Fórmula, é um exemplo do que a Liberty Media quer alcançar: marcas tradicionais que invistam no esporte e o ajudem a fomentar a competitividade.

Grid com 3 carros por fila, fim dos treinos de sexta...

Em meio a planos concretos que já começaram a serem implementados, alguns outros mais audaciosos foram “vazados” por veículos da imprensa. A maior discussão está na agenda do fim de semana, com a possibilidade cogitada até de acabar com os treinos livres de sexta-feira, vistos em boa parte da Fórmula 1 como pouco produtivos e atrativos.

A melhor composição para os eventos previstos em um fim de semana de provas é anterior à chegada da Liberty Media, mas a sede por mudanças da companhia abre caminho para acelerar o processo. Uma das possibilidades discutidas, noticiada pelos veículos de imprensa especializados, seria a da realização de duas corridas, com a de sábado distribuindo um menor número de pontos.

O esboço de mudança que mais causou estranheza foi o noticiado em novembro do último ano: uma primeira fila com três carros na largada, intercalada por uma segunda linha com dois, uma terceira com três e assim por diante. Este tipo de alteração costuma provocar intermináveis discussões, mas alguém colocava fé de que as grid girls deixariam a Fórmula 1 de uma hora para outra?

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