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Fórmula 1

GP de Abu Dhabi será última corrida de carros mais rápidos da história

Raikkonen Ferrari Monza - Mark Thompson/Getty Images
Raikkonen Ferrari Monza Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Abu Dhabi (EAU)

23/11/2018 04h00

O 1º de setembro de 2018 ficou marcado na Fórmula 1 como o dia daquela que é a volta mais rápida da história da categoria. Foi a pole position de Kimi Raikkonen no GP da Itália, com média de 263,587km/h. O feito do finlandês fez cair uma marca que já durava 14 anos, estabelecida por Juan Pablo Montoya, que deu uma volta no mesmo circuito de Monza, em 2004, em uma média de 262,242 km/h.

E, ao que tudo indica, será esse o grande legado da geração de carros que faz sua despedida neste final de semana, em Abu Dhabi. Superando marcas antigas, eles podem ser considerados os carros mais rápidos da história da F-1.

Antes, este título era da geração de 2004, com mais ajudas eletrônicas, motor V10 sem limitações de desenvolvimento, reabastecimento durante as corridas e em plena guerra de fabricantes de pneus, o que ajuda consideravelmente no desempenho dos carros.

Passada aquela época em que o dinheiro do tabaco dominava e alimentava o esporte, a Fórmula 1 passou a adotar regulamentos mais restritivos, ora para diminuir os custos, ora por questões de segurança, para diminuir as ajudas eletrônicas e, principalmente, para aumentar o número de ultrapassagens.

Isso, até os dirigentes chegarem à conclusão, em 2016, que os carros precisavam ser mais rápidos e agressivos. O regulamento, então, foi alterado para o ano seguinte, quando nasceu a geração que bateu todos os recordes de tempo de pole position do calendário, à exceção da pista da Rússia. Mesmo em Abu Dhabi, que recebe a última etapa do ano neste domingo, a pole mais rápida da história foi conquistada ano passado, por Valtteri Bottas: 1min36s194.

Oficialmente, a FIA usa a melhor volta da corrida como parâmetro para definir o recorde da pista. Muito em função dos pneus mais duráveis, os carros de 2004 ainda mantiveram oito recordes. Mas as marcas de classificação, em que os pneus fazem menos diferença, foram todas quebradas nos últimos dois anos - sendo 12 delas nesta temporada.

Por que carros ficarão mais lentos?
Mesmo ainda antes da mudança de 2017, vários pilotos, incluindo Lewis Hamilton, que ganharia os dois últimos campeonatos, externaram sua preocupação com os efeitos negativos de tornar os carros mais dependentes da aerodinâmica. E eles tinham razão: apesar de mais velozes e bonitos, os carros se tornaram sensíveis demais ao ar turbulento, dificultando que um piloto se aproxime do rival para tentar uma ultrapassagem, a não ser que tenha uma vantagem considerável de equipamento. E o número de manobras despencou: a queda apenas entre 2016 e 2017 foi de quase 50%.

É fácil entender o porquê dessa maior sensibilidade: os pneus dianteiros geram muito ar sujo, então boa parte do trabalho dos times é concentrada em desviar esse fluxo para o lado. Isso é feito usando as lâminas e outros elementos da asa dianteira, e também o duto de freio, gerando vértices que jogam o ar desejado para o carro, e o indesejado, para fora. E isso gera uma área de turbulência muito grande principalmente atrás do carro.

É impossível eliminar completamente esse efeito, já que os carros de F-1 dependem muito da aerodinâmica e por isso conseguem especialmente contornar curvas com velocidade elevada, mas as regras de 2019 tentam diminuir isso, com a simplificação justamente da asa dianteira e dos dutos de freio. Mais mudanças vão acontecer na asa traseira, que também tem papel importante na geração de ar turbulento. Ela será 50mm mais larga, ganhará 20mm em profundidade e estará também 20mm mais para trás para que o ar sujo seja puxado para cima. Com essas mudanças, a expectativa é que o piloto não perca tanta estabilidade ao se aproximar de um rival: “Em uma reta, se o carro está a 20m do outro já temos uma diferença significativa atualmente”, aponta Nicholas Tombazis, chefe de monocoques da FIA. “E com 40m começa a diminuir. Isso significa que, se um carro de 2018 consegue seguir o outro a 1s de distância, então ele vai conseguir render bem a 0s8 ano que vem. Então, efetivamente, ele vai perder a performance da mesma maneira que hoje, mas apenas quando estiver um pouco mais próximo.”

O custo disso será em velocidade. Quando as regras de 2019 foram divulgadas, em maio, as simulações apontavam que os carros perderiam cerca de 1s5 por volta. Após meses de desenvolvimento, contudo, de acordo com os números recebidos pela fornecedora de pneus Pirelli, esse número deve cair até o início da temporada e é guardado como segredo de Estado pelas equipes.

“Qualquer mudança vai ter impacto porque esses carros são muito desenvolvidos levando em consideração o regulamento vigente. Assim que você muda uma peça, dá um passo atrás, então tivemos que fazer isso e gradualmente, vamos recuperando”, explicou Jock Clear, engenheiro de performance da Ferrari. “Perdemos toda a ‘decoração’ da asa dianteira, é uma mudança grande e, essencialmente, isso gera um controle de equilíbrio de peso muito pior nas rodas”, completou Rob Smedley, que tem a mesma função na Williams.

Ainda que seja esperada uma evolução, 1s5 é diferença considerável no mundo da F-1. Então é melhor curtir os últimos momentos dos carros mais rápidos da história neste fim de semana.

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