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Empresas de tabaco apostam em 'drible' em leis para voltar com tudo à F-1

Campanha da BAT estampa macacões da equipe McLaren - Divulgação
Campanha da BAT estampa macacões da equipe McLaren Imagem: Divulgação

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Londres (ING)

17/02/2019 04h00

É impossível não notar as letras gigantes na traseira e nas laterais do carro da Ferrari com os dizeres "Misson Winnow", algo que pode ser traduzido livremente como "missão de vencer já". Mas o jogo com o formato das letras e o lugar em que a campanha está localizada tornam impossível não associá-la à Marlboro, marca de cigarros que tem uma parceria de décadas com a escuderia. E que encontrou mais uma forma de sobreviver mesmo com o cerco fechado à publicidade de tabaco ao redor do mundo.

ferrari 3 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O time italiano não é o único exemplo. Recentemente, a McLaren anunciou que sua nova principal patrocinadora será uma empresa do mesmo ramo: a BAT, British American Tabacco, que inclusive já deu nome à equipe BAR no final dos anos 90 e início dos 2000 e agora volta à Fórmula 1.

A justificativa, em ambos os casos, é de que essa nova publicidade não está relacionada ao cigarro em si. Mas ela já começou a gerar polêmica.

No caso da Marlboro, a iniciativa "Mission Winnow" é descrita pela empresa como sua "forma de mostrar o comprometimento com a inovação", linha parecida do que a BAT tenta implementar com "um amanhã melhor" (tradução de "a better tomorrow", estampada no macacão dos pilotos da McLaren). Tal inovação promovida por ambos é relacionada a cigarros eletrônicos e existe a dúvida se isso seria considerado um tipo de propaganda banida em diversos países pelos quais a F-1 passa.

Tanto, que o departamento de saúde da Austrália, palco da primeira corrida da temporada, já começou uma investigação para determinar se esse tipo de patrocínio fere as leis do país.

A Philip Morris, contudo, acredita que não terá problemas com sua campanha, já que ela "não promove nenhum produto específico". A empresa divulgou ainda que "sempre respeita as leis relacionadas às atividades da companhia."

O CEO da McLaren, Zak Brown, defende que a BAT não seja vista como uma patrocinadora de tabaco. "Nossa parceria é baseada na tecnologia de sua geração mais nova de produtos. Não temos nenhuma relação com o lado do tabaco", justificou. "A indústria deles está sendo transformada por meio da tecnologia, então acho que há áreas em que podemos trabalhar com eles e ajudá-los nessa transformação em busca de tecnologia. A companhia deles mudou, evoluiu e está atuando em novas áreas, querendo inovar. O que aconteceu há 10, 20 anos? O mundo está em um momento diferente, o cenário mudou e a Fórmula 1 é uma boa plataforma para eles." 

Em 2007 e 2009, a Marlboro já tentou manter sua publicidade exatamente nos mesmos locais onde a "Mission Winnow" está estampada atualmente usando um código de barras muito semelhante às letras de sua marca, mas as autoridades consideraram isso propaganda subliminar e a proibiram.

A situação hoje é diferente devido à evolução do mercado de cigarros eletrônicos, que não queimam tabaco, mas contêm nicotina e outras substâncias nocivas à saúde. É por conta desse tipo de produto que as empresas do setor passaram a se colocar como geradoras de novas tecnologias a fim de escapar das restrições na publicidade de tabaco. E voltaram com tudo à Fórmula 1, um de seus grandes mercados desde os anos 1970.

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